A TRAGÉDIA DE BRUMADINHO.
Mais
um acontecimento que poderia ter sido evitado atinge brutalmente Minas Gerais. O
rompimento da barragem de minério da Vale, na Mina do Córrego do Feijão, em
Brumadinho/MG, na sexta-feira próxima passada, 25, deixou ao menos 60 mortos e há
ainda 292 pessoas desaparecidas.
Cerca
de 13 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro da mina foram
lançados morro abaixo até atingir o Rio Paraopeba. A lama se propaga por uma
área de aproximadamente 4 km² e por mais de 10 km, de forma linear. Os estragos
ambientais são enormes e humanamente imensuráveis, mas as vidas ceifadas de
forma covarde, criminosa e irresponsável não têm explicação para as famílias,
não cabem em números e não permitem estatísticas, pois a dor da perda de um
ente querido está acima do dinheiro e de tudo isso que possa ser cogitado.
A
barragem da mineradora Vale em Brumadinho se rompeu. A história se repete da maneira
mais estúpida possível, depois do rompimento da barragem da Samarco em Mariana,
em 2015. Aliás, se a Samarco pertence à Vale, a responsabilidade direta pelas
duas tragédias é da Vale, não se podendo isentar de culpa e de punição os
empresários, os diretores, bem como os membros dos órgãos de fiscalização, que são
péssimos no cumprimento do seu dever.
A
rigor, a responsabilidade e a punição precisam atingir o governo do Estado e a
Assembleia Legislativa, que são permissivos e submissos às mineradoras, na
contramão da prevenção de riscos e da proteção do meio ambiente, e no necessário
e indispensável cuidado com vidas humanas. O interesse até então demonstrado
pelos políticos do Executivo e do Legislativo mineiros é tão somente o de agradar
os empresários da mineração, seja pela facilitação burocrática da atividade ou
pela frouxidão nas etapas de licenciamento, aos moldes do praticado pela
legislação atual.
Cumpre
lembrar, que entrou em vigor no
dia 6 de março de 2018, a Deliberação Normativa (DN) 217, que tem o objetivo de
desburocratizar e dar celeridade aos processos de licenciamento ambiental em
Minas. A mudança seguiu determinação do então governador Fernando Pimentel, de “modernizar”
a prestação dos serviços ambientais no Estado. Com a nova regra, a Secretaria
de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) apresenta o
Sistema de Requerimento e de Licenciamento Ambiental, que, por meio de uma
plataforma virtual, permite aos usuários realizar suas solicitações de
licenciamento de qualquer lugar do estado.
Com a vigência da DN 217/2017, há duas modalidades de
licenciamento ambiental. Foi criado o Licenciamento Ambiental Simplificado
(LAS) e permanece o licenciamento ambiental convencional, que pode ser
trifásico ou concomitante. A DN 217 substitui o texto anterior da DN 74/2004.
Ou seja, tudo é feito para facilitar a vida das mineradoras, sem o poder
público se preocupar com os riscos e os danos ao meio ambiente e sem a
sensibilidade imprescindível com as pessoas que habitam os arredores desses
empreendimentos.
Os R$11,8 bilhões que dizem que estão sendo
bloqueados nas contas bancárias da Vale não representam nada perto das vidas
humanas que foram levadas pela lama da mineradora. Da mesma forma, não merece
crédito essa desculpa de última hora de que já existem multas aplicadas pelo
governo de Minas Gerais e pelo Ibama e que valores devem atender vítimas. Ora,
na tragédia de Mariana deu-se desse jeito e depois os valores foram desbloqueados
e a mineradora se safou dos prejuízos que causou, e ainda conquistou lucros
absurdos com outras barragens em exploração 24 horas por dia no território
mineiro.
Quanto ao bloqueio do dinheiro, a mineradora Vale
informa apenas que, “nos termos da Instrução CVM nº
358/2002, conforme posteriormente alterada, que foi intimada de decisões
liminares proferidas em requerimentos de tutela antecipada formulados pelo
Ministério Público do Estado de Minas Gerais e pelo Estado de Minas Gerais, em
decorrência do rompimento da barragem I da Mina do Córrego do Feijão. Os juízes
de plantão das comarcas de Belo Horizonte e Brumadinho acataram os pedidos de
indisponibilidade e bloqueio do valor total de R$11.000.000.000,00 (onze
bilhões de reais) da Vale, e determinaram que a empresa adote as medidas
necessárias para garantir a estabilidade da barragem VI do Complexo Mina do
Córrego do Feijão, se responsabilize pelo acolhimento e integral assistência às
pessoas atingidas, dentre outras obrigações”.
Entretanto,
a sociedade mineira sabe que isso não significa absolutamente nada, porque
daqui a pouco o Poder Judiciário vai ser acionado pela Vale e a situação pode
se reverter, diante da pressão e do poder econômico da empresa, somados à
costumeira incompetência e leniência do poder público, que fará vista grossa e
deixará que a mineradora caminhe mais pelos longos caminhos da impunidade.
A
avaliação da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, é para que haja punição
"severa" à mineradora. Diz ela: “Existe
um culpado ou mais de um culpado. Me parece que existe uma cadeia de
responsabilidades que precisam ser esclarecidas e bem definidas para que todos
os envolvidos nesse caso sejam efetivamente responsabilizados. Uma das linhas
de investigação é verificar se o protocolo que deveria ser seguido para dar
segurança a essa barragem foi efetivamente seguido ou não. Executivos podem ser
penalizados também”.
Os
chamados “gabinetes de crise”, instalados para tratar da questão, não causam
temor à mineradora, que está calejada com o toma lá dá cá a que estão
acostumados os políticos. Basta ver a rejeição do projeto de lei para
fiscalização das mineradoras, que foi engavetado na Assembleia Legislativa de
Minas Gerais.
Sobre esse assunto, aconteceu o seguinte: em julho
de 2018, a Comissão de Minas e Energia da Assembleia Legislativa de Minas
Gerais rejeitou um parecer do deputado relator a respeito do licenciamento
ambiental e fiscalização de barragens no Estado. O texto, formulado junto com o
Ministério Público, Ibama, ONGs e moradores da região, era um substitutivo ao
projeto de lei 3.676/2016, de autoria da Comissão Extraordinária das Barragens.
A proposta previa regras mais rígidas para a criação de novas barragens, e
endurecimento da fiscalização sobre as já existentes. Entre
as medidas propostas pelo texto estava a proibição da construção de barragens
onde já existem comunidades e a proibição de novas licenças para barragens
feitas pelo método de alteamento, em que o próprio rejeito é utilizado na
ampliação das estruturas. Era justamente esse o tipo de barragem que se rompeu
em Brumadinho. Segundo noticiado pela imprensa, a proposta do relator foi
vetada por três deputados: Thiago Cota (MDB), Tadeu Martins Leite (MDB) e Gil
Pereira (PP). A imprensa revelou ainda, na época, que todos os três tiveram
doações de mineradoras em suas campanhas nas eleições de 2014. Desde então, o
projeto, que teve apoio popular de mais de 56 mil assinaturas, segue parado na
Assembleia.
Enfim,
diante do acima exposto e diante de mais essa tragédia, que coloca Minas no
centro dos noticiários nacionais e internacionais, a sociedade precisa se
levantar contra os políticos subservientes e contra os lucros absurdos que as
mineradoras abocanham, deixando para a população o choro, a dor, a lágrima, a
tristeza, os prejuízos materiais e morais, o meio ambiente destruído (flora,
fauna e mananciais), além da destruição dos rios, dos peixes e da vida
silvestre. A solução é: ou se muda a legislação, de uma vez por todas, urgentemente,
com critérios mais rígidos, ou não se concede mais licença para mineração em
Minas Gerais, mantendo-se firme a responsabilização pelas minas já existentes,
ativas ou não.
Wilson
Campos (Advogado/Especialista em Direito Tributário, Trabalhista, Cível e Ambiental).
Nem bem a dor de uma calamidade termina e já chega outra. Sabem por que? Porque ficaram sem punição, sem multas e sem dinheiro bloqueado, graças à fraqueza do Judiciário, à covardia dosa governantes e à servidão dos deputados. O Brasil está de luto mais uma vez, por coisa parecida, e daqui a pouco todos esquecem e os covardes continuam aprontando e matando pessoas e acabando com o meio ambiente e ninguém não fala nada. Silêncio, porque o povo brasileiro é bonzinho e não reage. Povinho banana. Povinho sem sangue nas veias. Vamos reagir meu povo e fazer mais uma mudança nesse Brasil, agora, já. Vamos acordar Brasil!!!!! Dou nota 10 para o artigo do notável Dr. Wilson Campos e dou nota zero para a Vale, para os responsáveis pelos crimes cometidos e pelas mortes causadas, para os servidores públicos omissos na fiscalização e para os políticos brasileiros. Acorda Brasil. João C. B. do C.
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