CADA GOVERNO POR SI E DEUS PELO POVO.


Por mais que os cidadãos critiquem o comportamento digressivo e rancoroso das equipes de governo municipal e estadual, que insistem no cabo de guerra, numa competição de força onde cada uma puxa para o seu lado, desinteressando-se pelo objetivo do interesse comum da maioria, a única transparência que ocorre é a de que está prevalecendo “cada governo por si e Deus pelo povo”. No entanto, cumpre observar que a pedra de toque não é o administrador nem a Administração Pública, mas a coletividade, nos exatos termos do princípio da indisponibilidade do interesse público.

Longe da participação obrigatória da Câmara Municipal, órgão legislativo composto por 41 vereadores, a prefeitura de Belo Horizonte segue criando novos decretos. Desta vez, o Decreto nº 17.383, de 6 de julho de 2020, publicado e já em vigor, altera o horário de circulação dos ônibus municipais. A partir de terça-feira (7), o transporte coletivo passou a funcionar com restrições, nos dias úteis, entre 5h e 21h59min; aos sábados, entre 5h e 20h59min; aos domingos e feriados, entre 6h e 9h59min e entre 16h e 19h59min. A prefeitura alega que a medida está voltada para a "prevenção da disseminação da epidemia de Covid-19".  

Enquanto o estado caminha à procura de uma solução aplicável a todos, a prefeitura toma outro rumo e se dedica às suas próprias decisões, unilaterais e ao seu livre arbítrio. Porém, a população belo-horizontina não suporta mais tantas ações insensatas e desarrazoadas, porquanto após as 21h59 muitos trabalhadores ainda estão se deslocando do trabalho para suas casas, depois de um cansativo dia de atividades, com turno pesado e terrivelmente complicado em face dos transtornos causados pelo coronavírus.

Dizer o que para os vigias, os seguranças, os porteiros, os profissionais da área da saúde, entre tantos outros, que encerram suas obrigações e não encontram transporte coletivo para voltar para seus lares e famílias depois das 22h? Dizer o que, prefeitura? E não menos pior é o intervalo entre um ônibus e outro, que passou de 30 minutos para uma hora. Ou seja, além de enfrentarem a gravíssima doença, ainda sem vacina e sem cura, as pessoas são sacrificadas também pela precária mobilidade urbana.

O comprometimento social em razão da pandemia requer solidariedade e voluntarismo de todos, incluídos, por óbvio, o poder público e as empresas de transporte coletivo de passageiros por ônibus no município, posto que não sobrevirão êxitos se cada um olhar unicamente seu interesse particular. De positivo, o fato de que permanecem as exigências de assepsia, cuidados e higiene, com o uso de máscaras e limpeza periódica dos veículos. Aliás, a recomendação deve ser no sentido de que, a cada final de percurso, os ônibus sejam higienizados, custando pouco para os concessionários, mas representando muito para os usuários.

Em suma, a retórica da tradicional política mineira nos leva a continuar almejando o diálogo e o entendimento, de forma que superemos o “cada governo por si” e conquistemos com boas ações o “Deus pelo povo”.

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB-MG/Delegado de Prerrogativas da OAB-MG). 



Comentários

  1. Excelente a sua defesa. O prefeito tem é que voltar atrás nesse absurdo.
    Que isso? Onde se viu?
    Depois de 10 horas da noite não tem ônibus em BH. Assim não dá mais pra esse sujeito prefeito. Passou do limite. Se não voltar nessa loucura o bicho vai pegar. Se vai...
    Parabéns Dr. Wilson. Brilhou de novo!!!

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    1. Prezados e prezadas, hoje no final do dia a prefeitura voltou atrás no horário dos ônibus e melhorou um pouco o que tinha estragado antes. Novo decreto corrigindo o novo decreto. Está difícil!
      Abraços.

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