É SEMPRE ASSIM: O POVO SOCORRE O POVO.

 

Ainda que o governo federal bata o pé e diga que está ajudando o povo do Rio Grande do Sul nesses dias de absoluto caos e total desesperança, em razão das fortes chuvas e enchentes, o correto é dizer que o socorro governamental demorou e ainda é pouco diante da tragédia.

O povo está socorrendo o povo desde os primeiros momentos da inundação, da destruição de casas e da perda de vidas humanas. O povo gaúcho correu para ajudar uns aos outros, assim como alguns estados do país, que se apressaram em enviar policiais, bombeiros, barcos e helicópteros para salvar vidas no Rio Grande. E o estado de Minas Gerais, como sempre, marcou presença e mostrou a solidariedade dos mineiros, e continua lá, trabalhando e ajudando os moradores das cidades atingidas.

Há que se reconhecer e valorizar os esforços de todos (civis e militares), uma vez que a situação é tremendamente desesperadora. Segundo a imprensa, o que mais se escuta em Porto Alegre são os helicópteros sobrevoando a cidade e o barulho incessante de viaturas da Guarda Civil, do Corpo de Bombeiros e das Polícias Civil e Militar. Nas ruas, o fluxo de carros contrasta pessoas tentando deixar a capital pelas poucas rotas disponíveis com veículos das Forças Armadas (pouquíssimos) e das centenas de voluntários. Aliás, os gaúchos e os brasileiros no geral estão indignados com as Forças Armadas. 

O tempo inteiro se vê o povo socorrendo o povo, seja transportando pequenos barcos e botes para serem usados no resgate de milhares de pessoas ainda ilhadas no teto de suas casas ou no alto de prédios atingidos pela cheia do Guaíba, seja também salvando animais, ou levando alimentos para pessoas que não aceitam deixar seus lares, mesmo enlameados, por medo de saques e atos de selvageria de criminosos.

A maior tragédia da história do Rio Grande do Sul continua assustando pelos números divulgados, que repercutem a gravidade das enchentes que destroem o estado. Segundo recente boletim da Defesa Civil, na manhã desta quarta-feira (8 de maio), o número de cidades gaúchas atingidas pelo desastre saltou de 401 para 414, de um total de 497 municípios. O número de mortos na tragédia está em 95 até o momento. Há outros óbitos sob investigação.

A Defesa Civil informa, ainda, que 128 pessoas estão desaparecidas e há 372 feridos; 225,3 mil pessoas estão fora de suas residências, sendo que 66,4 mil estão acolhidas em abrigos e 158,9 mil são consideradas desalojadas (hospedadas em casas de familiares ou amigos). Ou seja, o desespero das famílias é imensurável, pois muitas perderam tudo – casas, móveis, carros e a pior das perdas, a vida de entes queridos.

Enquanto tudo isso acontece, o governo federal está preocupado com algumas fake news de certos imbecis desocupados. Ora, o governo federal deve ignorar essas notícias falsas e realizar seu trabalho e mostrar ao Brasil que está fazendo alguma coisa pela população atingida. Aliás, além do Executivo, as instituições oficiais deveriam dar exemplos de humanidade e destinar recursos financeiros, alimentos e ajuda material de qualidade, em vez de ficar acionando a Polícia Federal para punir esse ou aquele nessas horas de tragédia, desespero e dor. Agora é hora de trabalhar, solidarizar, ajudar, contribuir e rezar para que esse pesadelo passe logo e os gaúchos possam reconstruir suas vidas. O resto se resolve depois, dentro dos termos da lei.  

Noutro norte, o poder público precisa sair da sua inércia proposital e pesquisar em outros países casos semelhantes e adotar medidas capazes de acabar com as enchentes e evitar destruição, ferimentos e mortes. A gestão de águas pluviais nas cidades brasileiras precisa ser encarada como uma missão técnica, profissional, efetiva, rotineira e inteiramente voltada para a preservação da vida humana. A solução técnica de engenharia existe. Basta vontade política.

Um exemplo: Para combater enchentes urbanas, como as que atingem neste momento de forma trágica o estado do Rio Grande do Sul após fortes chuvas, Barcelona, capital da Catalunha, na Espanha, desenvolveu uma solução engenhosa: tanques subterrâneos gigantescos, capazes de armazenar milhares de litros de água pluvial. A engenhosidade e todas as providências adotadas podem ser buscadas com as autoridades espanholas. Basta as autoridades brasileiras saírem da inércia, e basta vontade política, certamente.  

Até aqui, deixa muito a desejar o trabalho do governo federal, das Forças Armadas, do Congresso, dos 38 ministérios e da imprensa esquerdista.

Não é minimamente aceitável que o tecido social do Rio Grande do Sul se desfaça na medida em que o poder público se revela incompetente e incapaz de encontrar uma solução para o cenário de guerra nas cidades gaúchas. Mas a esperança do povo ainda é o povo. A solidariedade do povo com o povo é uma marca registrada dos brasileiros. É sempre assim: o povo socorre o povo. Ainda bem! Graças a Deus!

Wilson Campos (Advogado/Especialista com atuação nas áreas de Direito Tributário, Trabalhista, Cível e Ambiental/ Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG, de 2013 a 2021/Delegado de Prerrogativas da OAB/MG, de 2019 a 2021).

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