O CIRCO DA POLITICAGEM EXPLORA A TRAGÉDIA.

 

Não bastasse o sofrimento do povo gaúcho e a destruição das cidades afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul, a sociedade brasileira se viu obrigada a assistir o espetáculo dantesco e vexatório de Lula e sua comitiva de ministros em São Leopoldo (RS), na quarta-feira (15/05), com direito a transmissão ao vivo pela TV.

O circo da politicagem montado por Lula visa explorar a tragédia. Não foi apresentada nenhuma solução rápida e eficaz para o problema gravíssimo das 76.580 pessoas que estão em abrigos, das 538.126 que estão desalojadas, das mais de 2,1 milhões que foram afetadas pelos fortes temporais, das 149 que morreram, das 108 que estão desaparecidas e das 806 que se feriram.

Os dados recentes da Defesa Civil não mentem, mas a ajuda prometida pelo circo da politicagem não é confiável, porquanto os interesses sejam outros e os brasileiros sabem quais são. Na realidade, o que se viu foi um verdadeiro comício, previamente preparado para ganhar terreno onde a maioria da população é de direita. Mas o povo não é mais tão bobo. As redes sociais informam e propagam a opinião e o sentimento das pessoas.

Na instalação do circo da politicagem, a trupe contratada a peso de “pão e mortadela”, batia palmas a cada frase de Lula, como se aquilo tivesse algum significado prático para a penosa situação vivida no Rio Grande do Sul. O evento petista não passou de um ato político, de uma campanha eleitoral antecipada, com o nítido fim de diminuir a importância do governador Eduardo Leite, que ficou absolutamente constrangido e afundado na cadeira, permanecendo assim quieto e calado todo o tempo do comício de Lula & companheiros.  

No “evento”, Lula oficializou a criação da Secretaria Extraordinária de Apoio à Reconstrução, que será ocupada pelo ministro Paulo Pimenta (PT), atualmente titular da Secretaria de Comunicação Social (Secom), aquele mesmo, que não gosta de críticas e fala em regulação da mídia e controle das redes. Na oportunidade, lançou-se o chamado “Vale Reconstrução”, que será um voucher de R$5.100,00 (cinco mil e cem reais) em parcela única para 200 mil famílias, via PIX. Segundo dizem, o auxílio será voltado para a aquisição de bens de primeira necessidade em substituição aos que foram perdidos nas enchentes, como camas, fogões e geladeiras.

Só isso? R$5.100,00? Nesse ponto, permitam-me observar que, segundo o Portal da Transparência e do Siga Brasil, que dá conta em números, Lula e Janja fizeram reformas e trocaram os móveis do palácio presidencial. Só com um tapete novo, o governo gastou R$ 114 mil. Um sofá escolhido por Janja foi comprado por R$ 65 mil. Uma cama custou R$ 42 mil. A colocação de um piso “mais macio e confortável” para o palacete do casal custou R$ 156 mil aos cofres públicos. Ou seja, em suma, basta fazer a comparação dos valores. Nenhum móvel de Lula custou R$5.100,00. Longe disso. Ora!

Também segundo o governo Lula, a ajuda é para pessoas que perderam seus bens e comprovem endereço de moradia através do aplicativo da Caixa, que vai checar as informações fornecidas. Porém, o auxílio depende de medida provisória a ser enviada ao Congresso, embora a equipe de governo já estivesse festejando a medida adotada uma semana antes e preparando tudo para coincidir com a viagem de Lula ao RS, que escancarou o objetivo do evento e misturou circo com comício e campanha eleitoral antecipada.   

Como não poderia deixar de ser, Lula cometeu mais uma tremenda gafe no evento do circo da politicagem. Ele disse durante o discurso: “Eu falei para a Janja domingo: é impressionante, eu não tinha noção que no Rio Grande do Sul tinha tanta gente negra. E no Fantástico [na TV Globo] apareceu muita gente, eu falei 'não é possível'. E aí, a Janja me falou: É porque são os mais pobres, que moram nos lugares mais arriscados de serem vítimas dessas coisas”.

De fato, Lula não conhece o Rio Grande do Sul. De fato, Janja não tem a mínima noção do tamanho da catástrofe que atingiu cidades gaúchas inteiras e destruiu residências, lojas, escolas, hospitais, aeroportos, entre tantos outros, e não apenas vitimou os mais pobres, mas uma maioria esmagadora da população, independentemente da cor da pele, do local da moradia ou do poder econômico. Lula e Janja precisam percorrer mais o Brasil e viajar menos para o exterior.

De forma que o circo da politicagem chegou ao Rio Grande do Sul. E os donos da lona discursam, enquanto o povo chora; e suas claques batem palmas, enquanto o povo reza para a água baixar; e o comício rende promessas demagogas em locais secos e limpos, enquanto as pessoas tentam tirar a água suja e a lama das poucas casas que ainda estão de pé. A diferença é abissal.

Os donos da lona, ou do circo, fazem campanha eleitoral antecipada, de maneira escancarada, sem pudor. O povo não tem mais casa e a desesperança é motivo justo para o choro convulsivo e inconsolável. O circo da politicagem dá engulhos. Os palhaços somos nós, submetidos ao vexame do tratamento mesquinho de uma política oportunista, desarrazoada e inoportuna. Sim, os palhaços somos nós. Enquanto alguém grita “hoje tem marmelada?”, o povo que enfrenta a tragédia e os voluntários e os civis que estão na água suja e na lama fétida desde o início, transformados em palhaços de sorrisos amarelos, respondem: “tem sim senhor”!

A encenação eleitoreira tem vários protagonistas, que se aproveitam da tragédia para confundir as cabeças dos eleitores. Mas o comício intempestivo não engana os brasileiros e não convence os gaúchos, que sabem muito bem do que se trata. O circo da politicagem não interessa a ninguém de sã consciência, e muito menos nessas horas de dor e sofrimento.

Não se enganem. O povo brasileiro despe, aos poucos, a roupa de palhaço. O assunto é sério. O povo não teme, não treme e não foge à luta. A solidariedade manifestada e empreendida nos últimos dias no Rio Grande do Sul é prova viva do que ora se afirma.

Portanto, a rigor, cabe ao governo Lula se redimir, calçar as sandálias da humildade e vestir a camisa do Brasil, imediatamente. Não há mais tempo a perder. A hora é de socorrer, ajudar e investir recursos no Rio Grande do Sul. O povo brasileiro ensinou como ser solidário. A lição popular foi dada. Caso contrário, a vergonha da sociedade vai se perpetuar em relação ao governo e às suas lentas e fracas políticas públicas. Vergonha! Vergonha, de vocês!   

Wilson Campos (Advogado/Especialista com atuação nas áreas de Direito Tributário, Trabalhista, Cível e Ambiental/ Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG, de 2013 a 2021/Delegado de Prerrogativas da OAB/MG, de 2019 a 2021).

Clique aqui e continue lendo sobre temas do Direito e da Justiça, além de outros temas relativos a cidadania, política, meio ambiente e garantias sociais.