PLANEJAR E DIALOGAR, ANTES DE VERTICALIZAR.
Não se pode
discutir verticalização ou expansão urbana sem definir, preliminarmente, de
forma criteriosa, densidades demográficas e impactos que afetem diretamente a
vida humana. A discussão passa pela sociedade. Nenhum outro fórum tem essa
prerrogativa.
Quaisquer
intervenções urbanas precisam passar previamente pela aprovação da
coletividade, sem exceção, posto que assim exijam a Constituição e as leis
federais, estaduais e municipais que regem tais operações.
Nesse sentido:
O art. 32,
parágrafo único, da Lei nº 10.257/2001, define a operação urbana consorciada
como: "o conjunto de intervenções e medidas coordenadas pelo Poder
Público municipal, com a participação dos proprietários, moradores, usuários
permanentes e investidores privados, com o objetivo de alcançar em uma área
transformações urbanísticas, melhorias sociais e a valorização ambiental".
A convivência
harmoniosa da população é tão importante quanto a urbanidade, por
pressupor um bom relacionamento entre os cidadãos/moradores e os espaços
públicos e isso implica em construções de até cinco ou seis pavimentos como
ocorre nas cidades europeias e em outros marcos do urbanismo contemporâneo.
Basta consultar os maiores arquitetos, isentos, imparciais. Um exemplo clássico
de singela perspectiva humana: essa altimetria dos prédios (de cinco ou seis pavimentos) permite aos pais acompanhar os filhos brincando no passeio ou play
ground, próximo de casa. Prova disso é que se trata de ponto defendido pelo teórico Jan Gehl em
"Cities for People" e exaltado no clássico “Morte e Vida de Grandes Cidades”
da norte americana Jane Jacobs. Ou seja, a família pensada em primeiro lugar.
A
verticalização irracional e indiscriminada das cidades do Terceiro Mundo se
deve à especulação imobiliária, à violência urbana e à falta de controle da
sociedade sobre as cidades. Mesmo num país como a América do Norte, onde o
capital é colocado acima de tudo, a cidadania de Miami não permitiu a
destruição do distrito Art Déco, constituído por pequenos hotéis e
condomínios de quatro andares, apesar da hipervalorização do solo diante da
praia.
Nessa mesma
linha, quando a Dama de Ferro desregulou praticamente tudo na Inglaterra,
surgiram alguns espigões na cidade londrina. No entanto, diante da reação do
público e inclusive do Príncipe Charles as municipalidades inglesas voltaram
atrás. A pressão do povo e de um "sangue azul" consciente nesse
assunto fez a Primeiro Ministro do Reino Unido voltar atrás nas suas pretensões
interventivas urbanas, no que foi acompanhada pelos administradores municipais.
Uma constatação
óbvia, mas que muitos não querem ver: há necessidade premente de ventilação
entre as construções, de espaçamento maior entre as edificações, de micro clima favorável, de cinturões verdes, de maiores
áreas de drenagens para escoamento pluvial, de salubridade nas edificações, de
permeabilidade externa superior à demanda simplesmente calculada e de controle
rígido dos impactos de vizinhança que afetam os demais moradores de toda a
região.
É sabido que
não é verdade que a verticalização preserva o verde. Muito menos quando se
preparam operações urbanas de grande vulto sem escutar as comunidades, os
cidadãos, os moradores. Ainda quando a taxa de ocupação dos espigões seja de
50%, as garagens ocupam 100% do lote criando uma muralha de quatro ou cinco
pavimentos, proporcionando calor, impedindo a ventilação, o verde, e até mesmo o socorro dos bombeiros em caso de
incêndio. Ao contrário, bairros de gabarito mais baixo preservam o verde em
seus quintais e o ar puro para toda a comunidade. A qualidade de vida do ser humano tem de ser pensada, antes de tudo.
Pergunto: o que
seria da cidade de São Paulo sem o pulmão verde dos famosos Jardins?
O que será de
Belo Horizonte se esse crescimento sem planejamento passar, sem a participação
da coletividade, sem avaliação criteriosa dos impactos, sem preservação das
áreas verdes restantes, sem respeito às leis, mormente o Estatuto da Cidade,
que foi criado para esse fim?
A Operação
Urbana Consorciada de Belo Horizonte está mais para Operação Urbana do Prefeito
ou Operação Urbana (Des)consorciada.
A participação
da população na discussão das políticas urbanas do município está garantida na
Constituição da República e esse direito não vem sendo respeitado pela atual
administração municipal. Até as votações nos órgãos colegiados são viciadas, de
cartas marcadas e sempre favoráveis à iniciativa privada, ao poder público e
aos jogos de interesses, mas sempre em detrimento da necessidade real do povo.
Wilson Campos
(Advogado / Assessor e Consultor Jurídico do Movimento das Associações de
Moradores de Belo Horizonte - MAMBH / Presidente da Comissão de Defesa da
Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).
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