GOVERNANTES DE CHUTEIRAS E POVO DESCALÇO.

A disparidade enorme existente entre as necessidades da sociedade civil e a ganância desmedida da casta política brasileira não se mede nem por instrumentos de precisão ou raio laser.

O câncer social do "deixa como está para ver como é que fica", contraposto ao câncer político do "quanto pior, melhor", traduz, inapelavelmente, a força majoritária da mentira descarada dos políticos, seja nos palanques das promessas de campanha ou nas publicidades em horário nobre, pagas com o dinheiro do povo. 

A pátria e todos os interesses considerados de relevância social foram postos para escanteio: entraram em campo os governantes para jogar não uma partida de futebol, mas um campeonato inteiro, contra um adversário humilde e alquebrado, o povo. O juiz apita. O jogo começa. Governantes de chuteiras e povo descalço. O resultado é previsível. 

A população perde a tutela da cidadania e da dignidade da pessoa humana em face da lesão em massa, individualmente experimentada pela falta de habitação, transporte coletivo, saúde, educação, previdência e assistência sociais.

É utopia pensar uma nação com esses "representantes do povo" comendo, bebendo e dormindo à custa da população. Quase sempre afundados no lamaçal do ilícito e no continuísmo da deformação moral.

O sinal vermelho já foi acionado e ninguém da governança parece se dar conta dos riscos iminentes à democracia. A politicagem cega as autoridades, que se perpetuam no poder por meio de negociatas e coligações, no costumeiro toma lá, dá cá.

A corrupção, a impunidade, a impunibilidade, a imoralidade, a criminalidade e a violência crescem de tal forma que os cidadãos comuns, incrédulos e desvalidos de qualquer sorte, se anulam e se recolhem à condição de trêmulos espectadores.

A gastança pública nas arenas bilionárias deixaram os hospitais sucateados, as estradas esburacadas, a polícia sem equipamentos e a população sem segurança. Isso, para dizer o mínimo, porque os estragos país afora são intermináveis.

A pátria está à deriva e a nação está enferma. Ambas debatem-se entre o certo e o errado. O povo honesto e trabalhador é o lado certo e os maus políticos  são a banda torta, errada e que precisa ser extirpada do corpo são da pátria e da nação.

Os valores éticos e morais não fazem parte do grande escopo do poder público corruptor, quase sempre metido em transgressões e atos desonestos, na contumaz locupletação ilícita, intrínseca aos sofríveis comandantes da prevaricação e do suborno. 

A esperança fica por conta dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, fundamentos do Estado brasileiro, com desígnios de garantir o desenvolvimento nacional, erradicar a pobreza e a marginalização, reduzir as desigualdades sociais e regionais, promover o bem de todos, sem qualquer discriminação, e construir uma sociedade livre, justa e solidária.

Enquanto tivermos pela frente uma nação de governantes de chuteiras e um povo descalço, restarão cada vez mais distantes os objetivos da ordem, bem-estar e justiça social.

Wilson Campos (Advogado / Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB-MG). 

(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de quarta-feira, 05/03/2014, pág. 15). 

Comentários

  1. Dr. Wilson, bom dia.
    Sou professora em um colégio particular da minha cidade e ano passado quando fui contratada meu salário base era de R$1.218,42, e na minha carteira de trabalho a hora/aula registrada é de R$28,78 para o Ensino Médio. Este ano (2014) ainda em janeiro o salário base continuava o mesmo, mas no contracheque de fevereiro o salário base mudou para R$ 724,82, exerço a mesma função de professora e tenho a mesma carga horária, a única coisa de mudou foi que as aulas que ministro são para o ginásio. A minha pergunta é: a empresa pode alterar para menos meu salário base??!
    Aguardo sua resposta,

    Grata,
    Anomima

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