O DISCURSO DA SEPARAÇÃO ENTRE CLASSES SOCIAIS.

Os direitos humanos são uma luta da humanidade, e não de classes sociais antagônicas, separadas entre a burguesia dominante e o proletariado dominado. Tergiversar em torno do assunto ou atropelar a teoria de Karl Marx é, no mínimo, querer reinventar a roda. O beócio que teima em registrar falácias a respeito de tema tão sério não sabe e não quer enxergar a verdade, que salta aos olhos, de que a sociedade deseja, de fato, progredir e crescer, não importando se as pessoas são ricas ou pobres, mas restando a prevalência incontestável de que todos almejam evoluir.

Esse discurso da separação de classes, utilizado para fomentar proveitos políticos, já não convence absolutamente ninguém. Culpar as “elites brancas” pelos equívocos do Estado, quando este não exerce o seu papel de administrador constitucional, é dar um tiro no pé. A obrigação de proteger a sociedade e conduzi-la ao alto da pirâmide é da tríade governamental. Para isso, servem ou deveriam servir os tributos, as taxas e as contribuições de melhoria, pagos pelos cidadãos e carreados para os cofres públicos. Os segmentos da sociedade podem, sim, colaborar para que esse trabalho seja feito. Agora, responsabilizar determinada classe social pelos erros de rumo do país é querer exterminar o conceito de responsabilidade objetiva do Estado.

Os partidos políticos, por meio de suas polarizações discursivas, não têm o direito de jogar as classes sociais umas contra as outras. Essa beligerância secular sempre existiu. No entanto, os atores mudam. A aquisição de poder chega para uns e outros, e os protagonistas sobem ou descem na escala determinante da classe social. Ora, o trabalho, a educação, o empreendedorismo e outros investimentos pessoais transformam pobres em ricos. Cabe ao Estado ajudar na realização dos sonhos, e não na difusão de pesadelos. A polêmica trazida por políticos populistas em torno da separação de classes não merece maior atenção da sociedade.

Os ataques midiáticos desferidos contra a imprensa, contra as elites ou contra os movimentos sociais não acrescentam valores a ninguém. A sociedade está vacinada contra bordões raivosos. A sociedade quer modelos de ética. Não há, na sociedade civilizada, mais lugar para a mistificação.

Melhor seria se os contestadores da cordialidade social, em vez de semearem motes do passado, colaborassem com o Estado no cumprimento da prestação de serviço público com qualidade. O que conta para a cidadania não é a contraposição de cor, raça, sexo ou religião, mas o controle da inflação, o pleno emprego e a proteção, a garantia e a entrega efetiva dos direitos sociais consagrados no Art. 6º da Constituição. Afinal, de nada serve esse apartheid entre pobres e ricos, ressuscitado por mentes dominadas exclusivamente por interesses políticos e particulares. Contudo, a pergunta que não quer calar é: a quem interessa polemizar a luta ou a separação de classes?

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG). 

(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de 01/07/2014, terça-feira, pág. 19).

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