TANCREDO, ULYSSES E TEOTÔNIO.



Queiram ou não os respeitados pensadores políticos, permissa venia, a grande lição deixada para a democracia brasileira nasceu dos exemplos de Tancredo, Ulysses e Teotônio.

Hoje, quando determinados segmentos políticos se revelam cooptados pelo neoclientelismo institucional, na outrora efervescente preparação da nova organização do Estado os três representantes da esperança brasileira tratavam com absoluta serenidade o direito e a política, colocando acima de tudo os interesses da sociedade.

O trio quando se reunia deixava transparecer a importância da presença do povo e a necessária vigilância para que a democracia fosse instalada e os dias tumultuados deixados para trás. Prevaleciam nas suas discussões os interesses coletivos, os princípios, os ideais e os exemplos. As suas qualidades humanas, permeadas de direito e de política, davam-se ao luxo de contarem ainda com o desprendimento, a coragem e a lealdade ao país.   

Tancredo mobilizava milhões de brasileiros e, por isso, convocava a população para o grande debate constitucional e era firme ao asseverar que a Constituição não poderia ser simples ato de algumas elites, mas responsabilidade do povo.

Ulysses era o líder da resistência democrática, o “Senhor Diretas”, o empreendedor da Constituição Cidadã, onde estão asseguradas as garantias individuais e coletivas, de justiça social, de liberdade, de direitos e de deveres.

Teotônio foi o tradutor da esperança, da energia e do estímulo, onde estivesse, sempre dando exemplo de grande afinidade com o povo, quer fosse do norte, do sul, do leste ou do oeste do país, mas próximo das ideias libertárias e do quão imprescindíveis são a liberdade e a dignidade.    

Os bons políticos se foram. Os maus ficaram. Pior, se multiplicaram, para infelicidade da nação. Mesmo com a desesperança crescendo a cada dia, a politicagem errática e servil não se esconde. Mostra a cara, pede voto e tripudia dos incautos eleitores.

Com isso, a política que deveria se prestar à satisfação dos interesses da coletividade é vista como instrumento de manobras, longe da atividade precípua para a qual foi criada e cada vez mais distante do ambiente desejado pela população. O momento requer uma ampla discussão do que seja efetivamente o direito e a política.

Onde a lei não alcança ou a justiça tarda, pratica-se a politica do ódio perpetrada pela ganância do poder, com a população pagando um alto preço pela desonestidade dos gestores públicos amorais. Os investimentos faltam, os recursos somem e o país fica solto, à revelia das suas obrigações sociais. Contudo, o papel do Parlamento não é esse que desempenham por aí. As prerrogativas do sistema bicameral precisam ser assumidas e exercidas de modo a construir barreiras aos erros do Executivo e aos desperdícios dos recursos que deveriam ser investidos na formação de uma sociedade mais igual.

Tancredo, um autêntico aglutinador de forças e possuidor de imenso sentimento democrático não foi eleito pelo povo, através do sufrágio direto e universal, mas foi duplamente aprovado nos plebiscitos da população, quando vivo e depois de morto, posto que sempre defendeu a extinção da miséria, do analfabetismo, da discriminação, da violência e da injustiça. Ele representava a firmeza e a garantia de que a gestão do seu futuro governo estaria alicerçada na promoção do crescimento e subordinada ao bem-estar do povo, através de robustas e corajosas mudanças econômicas, políticas e sociais.

Tancredo não governou o país. Morreu antes. No entanto, a sua mensagem ficou para o direito e a política, na seguinte frase: “Enquanto houver, neste país, um só homem sem trabalho, sem pão, sem teto e sem letras, toda a prosperidade será falsa”. Com Tancredo, Ulysses e Teotônio a história seria outra. A politicagem subserviente e submissa não existiria, porque embora perigosa na arte do segredo, da condescendência e do puxa-saquismo, simplesmente não teria espaço para voar, posto que suas asas estariam meticulosamente podadas. Os corruptos e corruptores da mesma forma não sobreviveriam. Contudo, o que vemos hoje é um governo que corrompe e que se deixa corromper. 

Diante dos fatos não há argumentos e não há o que comemorar no cenário político brasileiro. A mediocridade faz os acertos, muito raros, passarem desapercebidos. As mudanças não vão surgir por obra do Executivo ou do Legislativo, mas por pressão do povo. As mobilizações contemporâneas, ordeiras e pacíficas é que darão nova cara ao país, espelhadas nas três figuras da democracia, da liberdade e da Constituição Cidadã, quais sejam: Tancredo, Ulysses e Teotônio. 

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).



Comentários

  1. Com certeza, Dr. Wilson, os políticos de hoje muito têm a aprender com esses três constitucionalistas. Os padrões que eles defendiam, os "representantes" do povo não defendem na atualidade. Os políticos pós Constituição e pós instalada a democracia, apenas querem se dar bem, legislar para interesses próprios, governar para si, para os parentes e apara os apadrinhados. O povo que se vire para conseguir um lugar ao sol. Parabéns meu caro, pelo artigo e pela lembrança de que estes três senhores muito fizeram pelo país e muito mais fariam se ainda estivessem vivos. Paulo C.Pinheiro Chagas.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas