RESGATANDO O SÍMBOLO E A CIDADANIA.



Apesar de todas as mazelas e de todos os sofrimentos, o Brasil foi, é e continuará sendo a pátria amada da população brasileira. Essa constatação se revela cada vez mais crescente e se dá quando a cidadania e os interesses coletivos superam o individualismo. O civismo, embora há algum tempo desalentador para uns, por razões óbvias, advindas de tragédias morais, para outros é um sentimento imperdível, uma vez que o patriotismo não é para ser imposto, mas conquistado pela entrega de vida digna a todo e qualquer cidadão.

A nação brasileira está imbuída do sentimento cívico de resgatar os símbolos e a cidadania. Cantar o Hino Nacional de forma arrebatadora, como o fazem os brasileiros, quando querem e quando podem, torna-se um espetáculo de arrepiar, com vozes uníssonas e fortes, embaladas apenas pela verve que jorra dos pulmões e corações de pessoas que já aprendem a distinguir a hora do civismo da hora da festa e da hora das reivindicações sociais. O brasileiro, quando quer, sabe fazer acontecer.

No evento da Copa da Fifa, as imagens geradas para bilhões de pessoas mundo afora mostram a vibrante magia da entonação do Hino Nacional, que, apesar da interrupção abrupta da organização do campeonato mundial de futebol no seguimento do poema, é cantado com fervor, à capela, sem acompanhamento instrumental, justamente para mostrar à Fifa, que tentou encurtar o hino, que o brio do povo brasileiro vai mais além e que certas imposições não são aceitas. O povo cantou e encantou uma nação inteira. Assim começa o resgate do símbolo nacional e da cidadania.

Enquanto a bola rola nos gramados, a população esquece por alguns momentos as agruras, a violência, a corrupção e tudo o mais que pesa diariamente nos seus ombros. O hino cantado nos estádios repercute e os homens e as mulheres, impávidos intérpretes, avançam na capela, fazendo o sentimento de identificação aflorar e a cidadania se estabelecer.

Ao cantar o Hino Nacional, com ou sem corte dos comandantes da Fifa, o povo arrebata corações e leva os versos na garganta, na raça e no desejo de que este país seja, de fato, um território livre e soberano, mas longe do populismo e das patriotadas. Por conseguinte, projeta-se, cada vez mais, fora das quatro linhas, um país mais consciente e capaz de enfrentar as adversidades futuras, bastando, para tanto, que se inicie por investimentos robustos na área da educação. Aliás, de forma urgente, haja vista a lamentável descortesia com a presidente da República, Dilma Rousseff, atingida publicamente por palavras de baixo calão e impróprias para o dia, a hora e o local, quando da abertura da Copa do Mundo de 2014. Se, por um lado, as vaias fazem parte do aceitável pela democracia, os xingamentos e gestos obscenos não cabem e denotam absoluta falta de respeito e nenhuma educação.

O novo país que queremos e que se redesenha no horizonte não suporta a repetição de atitudes irracionais. O novo tempo requer objetivos traçados com retidão, onde o futuro não admita barganhas, medo, subserviência, golpes baixos ou promessas vãs. A sociedade já exige a garantia, a proteção e a entrega dos direitos indispensáveis à vida com dignidade. O tempo de espera “ad aeternum” passou. As cobranças virão do povo, cada vez mais arredio à violência, à falta de educação e aos atos de vandalismo, quaisquer que sejam.

Independentemente do sucesso que não veio com a Copa do Mundo, uma vez que a nossa equipe amarelou e deixou a desejar, jogando um futebol irreconhecível, o povo precisa despertar para um novo tempo de conquistas sociais, mesmo porque o campeonato mundial não coloca comida na mesa do simples cidadão. A população tem que, urgentemente, cobrar dos governantes uma posição clara sobre os investimentos nas áreas de saúde, transporte, educação, segurança, meio ambiente, moradia e qualidade de vida, nos padrões Fifa. No entanto, para atingir esse objetivo social, o povo não precisa se esquecer dos símbolos nacionais. Ao contrário, o hino e a bandeira devem servir de inspiração para que a cidadania cresça e prevaleça. 

A emoção de cantar forte o Hino Nacional, avançando na capela, arrepia a todos. O fato de a música parar não emudece os brasileiros, que continuam cantando em tom mais elevado, mais imponente e muito mais emocionante. O Hino Nacional é, por conseguinte, outra forma democrática de manifestação. Simplesmente fabuloso, arrepiante, cívico e patriótico. A admiração é geral, de brasileiros e de estrangeiros. A vida é mesmo assim, algo de surpreendente, principalmente para um povo que parece despertar de vez para as questões cívicas e sociais. Afinal, o samba, o carnaval e o futebol há muito não vêm sendo mais os primeiros na lista de prioridades dos brasileiros, uma vez que foram trocados por cidadania, qualidade de vida e direitos sociais. Uma troca em benefício do ser humano, que poderá vir aos poucos, mas, com certeza, um dia será plena.    

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).


Comentários

Postagens mais visitadas