DESPERDÍCIO DE DINHEIRO PÚBLICO.



A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) tem veiculado em horário nobre da televisão algumas realizações da administração municipal, como se essa atitude fosse minimizar as milhares de dificuldades pelas quais passa o povo dessa cidade.

De nada serve falar que determinadas obras foram ou estão sendo executadas, quando tantas outras mais importantes e vitais para o cidadão estão relegadas a segundo plano, quer sejam na área da saúde, da educação, do transporte, da moradia, do lazer, do meio ambiente, da segurança ou da inclusão social.

Há mais de seis anos estão prometendo a construção e a entrega do Hospital do Barreiro. Sem conclusão.

A eficiência do transporte público pelo BRT Move não restou comprovada até agora, causando, no entanto, reclamações de toda sorte e, principalmente, quanto à integração dos ônibus, que nunca compatibilizam os seus horários e ainda têm as passagens majoradas à custa do sacrifício ainda maior dos trabalhadores. Ademais, pior ainda quando a PBH suspende a expansão do Move, sob alegações de falta de verba. Como? E a verba gasta com propaganda em horário nobre de televisão? Como se explica?

A derrubada de árvores e palmeiras ao longo das avenidas Antonio Carlos, Pedro I, Cristiano Machado e de outras vias antes arborizadas da capital, trouxe um certo ar de semiárido que incomoda as pessoas antes acostumadas com a alegria de uma cidade que se orgulhava do título de "cidade jardim". A falta de bom senso trouxe a insipiência.

A limpeza das ruas deixa a desejar, ainda mais quando a estação do ano requer a coleta de folhas que, inadvertidamente, entopem os bueiros, que, mediante possíveis e esperadas chuvas, contribuem para as inundações e mais prejuízos aos contribuintes.

O descaso sempre evidente da administração pública com o meio ambiente chega a doer. As áreas verdes estão sendo entregues por meio de licenças ambientais a empreendedores que não se envergonham da destruição generalizada de matas ciliares, árvores formadas, vegetação extensa, fauna e flora exuberantes nas reservas permanentes e de nascentes que aliviam a sede e contribuem para o abastecimento em duras épocas de escassez de água. A extinção da natureza não sensibiliza os que podem obstar a sua destruição.

As obras do metrô prometidas em épocas de campanhas eleitorais ficaram apenas no papel. Os moradores da capital se espremem em carros desconfortáveis de um trem metropolitano que passa longe do que seja, de fato, um metrô de qualidade, ágil, limpo, confortável, barato e digno do exercício pleno da reclamada cidadania. O metrô é uma miragem, quase inatingível pelo andar da carruagem.

A revitalização dos parques e praças anda a passos de tartaruga, privilegiando uma ou outra região, mas sempre em detrimento da qualidade de vida da população, que, no mínimo, espera por uma área arborizada, limpa, cuidada, com sombras durante o dia e segurança à noite. As famílias esperam ansiosamente por estes momentos de lazer e prazer ao ar livre.

As reformas das escolas públicas, dos postos de saúde e das unidades de pronto atendimento que estão, na maioria, carentes de infraestrutura e de pessoal, suficientes para os seus respectivos funcionamentos institucionais, dormem sono profundo nas gavetas de projetos que não têm o mesmo viço das propagandas revisitadas e anunciadas efusivamente na televisão.

Então, data maxima venia das autoridades competentes, e diante de tudo isso, as perguntas que não querem calar: "por que gastar o dinheiro público para anunciar que estão realizando algumas poucas intervenções na cidade? Ainda mais em horário nobre de televisão, quando o custo é sabido de imensa monta? Por que? Para que, se o dinheiro poderia ser empregado em outras searas da administração que retornassem mais proveitos para a população"? 

As severas e ácidas críticas da opinião pública com relação ao excesso de gastos com propaganda por parte da atual administração da cidade, de forma direta pela PBH e indireta pela conivência da Câmara dos Vereadores, com destaques para o malplanejado uso do dinheiro público, não são para desqualificar o trabalho dessa ou daquela autoridade executiva ou legislativa, mas para mostrar que o inconformismo da população é visível, ainda mais quando as manifestações cívicas e ordeiras em praças públicas parecem não mexer com os brios e muito menos causar constrangimento ao excelentíssimo senhor alcaide ou aos ilustres parlamentares nos seus esquecidos e não exercidos papéis de fiscais da gestão pública.

Melhor seria, com certeza, organizar a casa, planejar os investimentos, privilegiar a população, efetivar as garantias fundamentais, prover o interesse social, melhorar a qualidade de vida na cidade, crescer com equilíbrio e sustentabilidade e possibilitar dias melhores para a cidade e para os seus cidadãos.

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).  

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