VIOLÊNCIA GRATUITA E DESNECESSÁRIA
Pânico,
bombas e prisões.
A noite dessa
quarta-feira (12) em Belo Horizonte foi típica de muitas que precisam ser
esquecidas, mas não ignoradas ou varridas para debaixo do tapete. O confronto
entre manifestantes e policiais se deu de forma gratuita e desnecessária e
partiu de atos impensados da Polícia Militar (PM), uma vez que, segundo
informações de muitos espectadores, o clima era de tranquilidade e a passeata
transcorria ordeira, sem agressões ou ameaças.
No entanto, preliminarmente,
as autoridades do governo mineiro que comandam a PM, não souberam administrar
um protesto justo contra o aumento de passagens de ônibus que, a rigor, é
absurdo e escorchante, uma vez que se trata do segundo em pouco mais de seis
meses.
Do episódio
lamentável restaram o cerceamento do direito de livre manifestação, da
liberdade de imprensa e do exercício da advocacia, assim como a reação truculenta dos policiais e as agressões
violentas contra muitos manifestantes e profissionais da imprensa, que
terminaram feridos, desnecessária e injustificadamente.
O conflito
desproporcional gerou protestos também dos pedestres que presenciaram a força
policial ser usada com extremo rigor contra todo e qualquer cidadão que circulasse
pela área delimitada. A demonstração de falta de preparo é resultado da omissão
do governo estadual, que não sabe orientar os policiais na atuação preventiva,
sem a necessidade do emprego de força, ainda mais para conter uma manifestação
vista como pacífica pela maioria da população e até mesmo por jornalistas que
cobriam o evento no centro da cidade. Ademais, o movimento era esperado, diante
da petulância administrativa que não se importa com os gastos do trabalhador
com transporte público, mas que tão somente visa a arrecadação e o lucro das
concessionárias.
O reajuste da tarifa
de ônibus na capital se mostra como os demais atos da administração municipal:
inoportuno, desumano, abusivo e sem a necessária oitiva da população.
A desculpa da PM de
que agiu na segurança das pessoas e no impedimento do fechamento de vias não justifica
a medida absurdamente truculenta contra os manifestantes, com disparos de balas
de borracha, bombas de efeito moral e gás lacrimogênio.
Uma coisa é agir
contra manifestantes travestidos de bandidos que depredam os patrimônios público
e privado, outra é agir contra movimentos populares e manifestantes que
defendem causas justas e que, de maneira ordeira, pacífica e no respeito à
normalidade organizam passeata de protesto contra as injustiças cometidas
contra a sociedade.
A PM precisa
reavaliar a sua atuação e corrigir os erros, para que não mais se repita a ação
enérgica, desrespeitosa e truculenta em face de estudantes, transeuntes, jornalistas
e advogados. Atentar contra o Estado Democrático de Direito é um retrocesso, um
risco grave e um ato de violência inconcebível, mormente quando desrespeitam os
princípios constitucionais e obstaculizam o exercício profissional dos operadores
do direito que se apresentaram na defesa dos manifestantes detidos.
Cabe reflexão severa
das autoridades municipais e estaduais competentes, bem como apuração dos
lamentáveis acontecimentos e punição exemplar daqueles que agiram com abuso de
poder.
Em que pese o uso da
força policial contra alguns poucos vândalos que estariam infiltrados e agiram
de má-fé, nada justifica a generalização e o encurralamento dos ativistas
pacíficos, levando ao pânico as pessoas que saíam do trabalho, outras que
transitavam pela região e tantas mais que apenas acompanhavam as reivindicações
justas e democráticas dos manifestantes.
Os governos municipal
e estadual precisam entender que a sociedade tem direitos consagrados na
Constituição e que deles podem fazer pleno uso, independentemente se a favor ou
contra a vontade estatal, assim como a
PM precisa aprender a separar o joio do trigo, ou os praticantes de vandalismo
dos manifestantes pacíficos.
A lição que fica é a
de que as atitudes dos governantes, dos agentes públicos e dos manifestantes requerem
convergir para um ponto de equilíbrio e de entendimento democrático, não se
admitindo mais a omissão governamental ou a brutalidade policial de épocas
passadas, onde a liberdade de imprensa, a livre manifestação e as prerrogativas
da advocacia eram subjugadas por golpes de baionetas.
Wilson Campos
(Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses
Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).
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