A DESGRAÇA DO FORO PRIVILEGIADO: MALANDRAMENTE PERMITIDO


O uso da malandragem, da esperteza e da inteligência para obter vantagem, quase sempre ilícita, coloca o indivíduo no centro das atenções. Nesse quesito, os políticos brasileiros se destacam e, em determinadas situações, dão de lavada em quaisquer outros, mundo afora.

O exemplo, o trabalho, a representação e o coletivo que se lixem, porque o repugnante, a artimanha, o espetáculo e o individual são os termos que, de fato, interessam aos “nobres” representantes do decadente Parlamento brasileiro.

Nem bem começou o ano, e as notícias que chegam dão conta de que os crimes políticos proliferam, interminavelmente, nos mais diversos setores. Entra governo e sai governo, com os mesmos males, que vão desde lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, peculato, concussão, excesso de exação, descaminho, prevaricação, condescendência, extravio, improbidade, sonegação, apropriação indébita, tráfico de influência, fraude e favorecimento pessoal, até o irrefreável recebimento de propina.  

A Polícia Federal tem-se desdobrado na árdua tarefa de investigar e responsabilizar políticos e empresários suspeitos desses crimes, somados a enriquecimento ilícito e vantagem indevida. Muitos dos suspeitos se transformam rapidamente em culpados. 

O STF está cada vez mais abarrotado de ações penais que não têm relação com a sua principal finalidade, que é o controle concentrado de constitucionalidade e a guarda da Carta Magna.

O “malandramente permitido” tem ocupado muito do tempo dos ministros da Suprema Corte, que se debruçam na análise de densos processos penais, sobejamente advindos da “casta” política, sempre blindada pelo foro privilegiado. Com isso, o STF não produz satisfatoriamente para a sociedade, posto que se ocupa em tempo integral a tratar dos desvios políticos.

O foro privilegiado dos políticos brasileiros é uma vergonha tão grande que surpreende até eles mesmos, quando se livram por meio de imunidades e escapadelas, mediante a renúncia de mandatos para que a ação seja julgada em juízos de primeiro grau, possibilitando as manobras domésticas daqueles que já foram condenados pelo povo, mas mantidos soltos e em banho-maria pelos tribunais estaduais.

Faltam juízes nos tribunais. As demandas judiciais são cada vez maiores, e o contingente de aplicadores da justiça, cada vez menor. O Judiciário se revela lento. Enquanto o cidadão comum implora por decisões judiciais céleres, os políticos usam do “malandramente permitido” e tudo fazem para que suas sentenças nunca cheguem. O foro privilegiado é uma desgraça para a sociedade e uma bênção para os maus políticos.

Resta ao povo acabar com o “malandramente permitido”, ou seja, não eleger mais esses maculadores do voto, exigir cadeia para os culpados e a respectiva devolução do dinheiro desviado, cobrar a criação de um tribunal exclusivo que julgue os políticos desonestos e reivindicar a volta do STF para suas funções institucionais fundamentais – proteger, guardar e fazer respeitar a Constituição da República.

Tudo isso sem jamais consentir o “malandramente permitido”.

Wilson Campos (Advogado).

(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de quarta-feira, 18 de janeiro de 2017, pág. 17).

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Comentários

  1. Excelente! Muito bom! Acerto, propriedade, exatidão. Parabéns Dr. Wilson Campos.
    José Luiz A. H. Montes.

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  2. Malandramente permitido - O TEMPO - 18.01.17
    Bom dia Dr. Wilson. Meus parabéns pelo ótimo e oportuno artigo. O senhor pôs o dedo na ferida. Parabéns! Salvador A. Magalhães - Sta. Tereza - Bhte.

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  3. Prezado Dr. Wilson Campos
    Acabo de ler o artigo de sua autoria "Malandramente permitido" que trata, com clareza e muita propriedade, da questão relativa ao foro privilegiado. Pois bem! Este é apenas um dos muitos absurdos criados pelo Congresso Nacional a partir do (des) Governo do Presidente José Sarney que, através da PEC 43 aprovada em 22-11-1985, propôs que, ao invés de uma Assembleia Nacional Constituinte, o CONGRESSO NACIONAL a ser, então, eleito em 1986, assumisse, temporária e casuisticamente, Poderes Constituintes e fizesse, a sós, sem participação da sociedade civil organizada, a CONSTITUIÇÃO FEDERAL que aí está, desde 05-10-1988, deturpando a vida institucional do país e causando apreensões. Tenho a convicção de que, enquanto não houver forte manifestação da sociedade em defesa de uma Constituinte Exclusiva, o Brasil não se conserta. Logo, pelo andar da carruagem, vamos, todos, de crise em crise, até o desastre final. Aí, então, salve-se quem puder. Se puder!
    Forte e respeitoso abraço e parabéns pela qualidade do excelente artigo.
    LUIZ SEFAIR - Juiz de Fora - MG.

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  4. Dr. Wilson Campos, parabéns pela qualidade do seu excelente artigo "Malandramente permitido" publicado pelo jornal O Tempo, 18.01.2017. Confesso que há muito tempo acompanho as suas manifestações e vejo o alcance positivo das suas palavras, sempre pontuais, atualizadas e colocadas com muita propriedade. O raciocínio de cidadania colocado incentiva a pensar melhor e a ter esperanças sempre, de um país justo, igual e solidário, como o senhor sempre diz. Parabéns!!! Admiro o seu trabalho e o seu comprometimento a serviço da nossa gente.. Victor Soares - Pampulha - BH.

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  5. Irretocável o artigo Malandramente permitido - O Tempo - 18.01, de autoria do sempre competente Dr. Wilson Campos. Concordo com tudo e digo que embora tudo conspire contra, depois da leitura do texto inteligente e corajoso eu continuarei tendo esperanças no Brasil, com pessoas que lutem pela honestidade. Esse tal de foro privilegiado é uma vergonha e afasta ainda mais o povo dos políticos desonestos. Fraterno abraço. Parabéns mesmo. Breno H. S. Cunha. Belvedere - Belo Horizonte.

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  6. Da lavra de Wilson Campos, advogado, o artigo "Malandramente permitido" "A desgraça do foro privilegiado", publicado na pág 17 do jornal O TEMPO, 18 de janeiro de 2016, onde no corpo do escrito se lê:...,..."aos "nobres" representantes do Parlamento brasileiro". (grifo meu).

    O escritor relata os diversos crimes cometidos por esta corja que ao bel prazer não obedecem a ninguém, apesar do esforço da Polícia Federal e esperamos também uma ação do STF em dar preferência aos colarinhos brancos que apresentam uma imagem da previdência social quebrada só na mídia...

    Esta casta política blindada pelo foro privilegiado, com raras exceções devem devolver o $$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$ do INSS, e banida da política brasileira.

    Parabéns Dr. Wilson pelo artigo!!!

    JORGE EDUARDO SALES LOPES - advogado, cientista político.

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