MORRE O MINISTRO RELATOR DA LAVA JATO
"No momento em que o Brasil é colocado à prova, o povo precisa de equilíbrio, mais do que nunca".
O
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavascki, morreu em um acidente aéreo na tarde desta quinta-feira,
19. Na queda do avião morreram outras quatro pessoas.
O ministro Teori
Zavascki estava a bordo de avião de pequeno porte que caiu no litoral de
Paraty, próximo à ilha Rasa, na região sul do Estado do Rio de Janeiro. Segundo
a imprensa nacional, chovia forte na região no momento da queda da aeronave. Tudo
indica que o corpo do ministro deve ser velado no Supremo e o enterro realizado
em Faxinal dos Guedes/SC ou em Porto Alegre/RS.
Relator da operação Lava Jato no STF, ele preparava-se
para homologar a delação da Odebrecht, que cita centenas de políticos.
As entidades de magistrados, procuradores e policiais
federais cobram investigações sobre o acidente.
Embora não o conhecesse pessoalmente, as informações
a seu respeito são de que era um homem sério, culto, dedicado à aplicação da justiça e
dotado de um humor fino e elegante.
Sempre que elogiado por alguém, pelo bem que fazia
ao país sendo relator do tormentoso processo da Lava Jato, ele agradecia com um
leve sorriso. Assim, pelas opiniões de seus pares, de entidades do Judiciário e de juristas outros, constata-se uma grande perda para o Direito e uma grande
perda para o país. Uma tristeza para a magistratura e para a sociedade
brasileira.
Teori Albino Zavascki (1948-2017),
filho de Severino Zavascki e Pia Maria Fontana
Zavascki, nasceu em 15 de agosto de 1948 na cidade de Faxinal dos Guedes/SC.
Graduou-se pela Faculdade de Direito da UFRGS no ano de 1972. É Mestre e Doutor
em Direito Processual Civil pela mesma Universidade. Integrou o TRF da 4ª
região de 30/03/1989 a 08/05/2003, sendo presidente no período de 2001 a 2003.
Foi juiz do TRE/RS no período de agosto de 1991 a agosto de 1995. Atuou no STJ
de 2003 a novembro de 2012, quando foi nomeado para o STF. No Supremo, presidiu
a 2ª turma no biênio 2014 - 2015 e destacou-se em vários julgados. Desde 2014,
estava à frente dos processos relacionados à Lava Jato, como relator. Era viúvo
e deixa três filhos : Alexandre Prehn Zavascki, Liliana Maria Prehn Zavascki e
Francisco Prehn Zavascki.
O presidente Michel Temer deverá, diante da
tragédia, nomear um novo ministro para o Supremo, que terá que ser sabatinado e
aprovado pelo Senado. No entanto, surgem opiniões de que não há tempo para essa
espera procedimental, fazendo-se necessária a redistribuição imediata dos
processos da Lava Jato. Há precedentes nesse sentido. Mas há, também,
controvérsias lançadas.
O ministro Teori Zavascki esteve à frente dos
processos relacionados à Petrobras, na operação da Lava Jato, como relator,
desde que o caso aportou no Supremo.
Apesar das incertezas do momento, é certo que uma
grande dúvida acomete o meio jurídico, no que pertine ao destino dos processos
da Lava Jato. A rigor, ordinariamente, o processo aguardará a posse do novo
ministro nomeado para a vaga. Se o cargo não for preenchido em 30 dias, e
houver perecimento de direito em HC, MS, reclamação, extradição, a presidente do
STF, ministra Cármen Lúcia, poderá determinar a redistribuição a um dos
ministros que compõem a 2ª turma (Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Celso de Mello
ou Ricardo Lewandowski), nos termos dos artigos 38 e 68 do RISTF.
Art. 38 - O Relator é substituído:
IV - em caso
de aposentadoria, renúncia ou morte:
a) pelo
Ministro nomeado para a sua vaga;
Art. 68 - Em
habeas corpus, mandado de segurança, reclamação, extradição, conflitos de
jurisdição e de atribuições, diante de risco grave de perecimento de direito ou
na hipótese de a prescrição da pretensão punitiva ocorrer nos seis meses
seguintes ao início da licença, ausência ou vacância, poderá o Presidente
determinar a redistribuição, se o requerer o interessado ou o Ministério
Público, quando o Relator estiver licenciado, *ausente* ou o cargo estiver vago
por mais de trinta dias.
No caso do
falecimento do ministro Menezes Direito, o então presidente, Gilmar Mendes,
editou portaria determinando a redistribuição, independentemente de pedido das
partes, de processos criminais com réus preso ou sob os quais a prescrição
possa ocorrer dentro de um ano e de RE com repercussão geral reconhecido
(174/09).
Portanto, a
deliberação está nas mãos da presidente Cármen Lúcia, para a redistribuição dos
processos da operação Lava Jato, ou, sem demora, na atitude imediata do
presidente da República Michel Temer, indicando o substituto de Teori.
Enquanto
isso, as controvérsias transitam também por outros caminhos, com as redes
sociais colocando em dúvida o acidente, haja vista a atuação firme do ministro
Teori na operação Lava Jato. As teorias de conspiração grassam pela internet,
com pedidos de apuração urgente do acontecido e investigação da fatalidade na
véspera da homologação da delação premiada da Odebrecht. Cobram-se pelas redes
sociais, urgência e transparência nas investigações do acidente, que devem ser
conduzidas pela enérgica e competente Polícia Federal.
Resta a
todos nós o lamento pelas perdas irreparáveis e nossas manifestações de solidariedade
às famílias e amigos das vítimas. Foi com profundo pesar e consternação que o país recebeu a notícia da morte do ministro Teori Zavascki e dos outros quatro ocupantes da
aeronave. O sentimento de pesar se dá ainda pelo assombro de Teori, que, segundo notícias divulgadas, teve uma
trajetória profissional brilhante como advogado e como magistrado, destacando-se
por uma atuação firme e de irrestrito respeito à Constituição. Portanto, que a atuação
discreta e serena do ministro Teori, citada por muitos, sirva de exemplo para aqueles que ocupam
cargos públicos de tamanha relevância em nossa sociedade. Que os ministros do
STF o tenham como modelo de técnica, da qual não se desviem.
Porém, vale ressalvar que juízes não são indicados para a prática de política partidária, mas para o exercício da magistratura. Nisso, penso eu, o ministro Teori falhou, haja vista a sua preferência pela ala petista, o que, de certo modo, não coaduna com a sua função pública de ser isento e imparcial na condução e nos julgamentos dos processos, devendo, por conseguinte, manter-se distante das querelas partidárias. A discrição requer do juiz não demonstrar tendências ideológicas.
Independentemente disso, as circunstâncias obscuras em que ocorreu a morte do ministro precisam, de fato, merecer apuração rigorosa, para que não fique qualquer dúvida ao povo brasileiro. As causas do acidente aéreo que vitimou a autoridade judicial não podem ser acobertadas, mas sim divulgadas inteira e transparentemente.
Porém, vale ressalvar que juízes não são indicados para a prática de política partidária, mas para o exercício da magistratura. Nisso, penso eu, o ministro Teori falhou, haja vista a sua preferência pela ala petista, o que, de certo modo, não coaduna com a sua função pública de ser isento e imparcial na condução e nos julgamentos dos processos, devendo, por conseguinte, manter-se distante das querelas partidárias. A discrição requer do juiz não demonstrar tendências ideológicas.
Independentemente disso, as circunstâncias obscuras em que ocorreu a morte do ministro precisam, de fato, merecer apuração rigorosa, para que não fique qualquer dúvida ao povo brasileiro. As causas do acidente aéreo que vitimou a autoridade judicial não podem ser acobertadas, mas sim divulgadas inteira e transparentemente.
Até que o universo político e
jurídico se recupere da trágica notícia, a expectativa da sociedade é de que o
futuro da operação Lava Jato seja decidido urgentemente, com a continuidade dos
trabalhos do relator quanto ao destino das delações de 77 executivos da
Odebrecht que, além do presidente Temer, atingem importantes políticos
brasileiros de diferentes partidos. Ademais, a sociedade cobra ainda que essas
delações sejam homologadas e tornadas públicas no mês de fevereiro, no mais
tardar, conforme previsão do falecido ministro Teori Zavascki.
As atuais crises social, política,
econômica e penitenciária, somadas à tragédia ocorrida com o ministro relator
da Lava Jato, em que pese a tristeza e o lamento por tudo isso, não podem fazer
desaparecer a democracia, a ordem e o respeito ao direito e à justiça. No
momento em que o Brasil é colocado à prova, o povo precisa de equilíbrio, mais
do que nunca.
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Wilson Campos
(Advogado/Especialista em Direito Tributário, Trabalhista e Ambiental).
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