A ANTIDEMOCRACIA.

Os antidemocratas que desdenham da bandeira brasileira são os mesmos que se espelham em comandantes de países fracassados e indignos de menção. São indivíduos alienados, orientados por ídolos de barro, incapazes de honrar o debate no campo das ideias. Preferem meias-verdades e se jogam no confronto, sabedores da incompetência de vencer pelo diálogo, mas domesticados pelo cabresto da ilusão e da ignorância.

O ataque a faca contra Jair Messias Bolsonaro, na cidade mineira de Juiz de Fora, não feriu apenas um cidadão, mas a cidadania brasileira, cuja maioria sabe o preço da paz, sabe separar o certo do errado e sabe respeitar a democracia. O golpe traiçoeiro não atingiu unicamente o político em campanha, mas a sociedade, cuja maioria sabe distinguir política ordeira de politicagem rasteira. A agressão criminosa não violou somente os direitos do candidato, mas os direitos e as garantias de um povo que opta pela livre escolha, sem fanatismos ou radicalismos.

Se ferir Bolsonaro foi uma tomada de decisão pessoal, que ainda precisa ser devidamente esclarecida, o agressor vai responder pelo gesto tresloucado e prestará contas à Justiça. O ataque ignavo, ignaro e ignóbil não pode ficar impune. O agressor desprezou os riscos da multidão aglomerada e foi adiante em sua terrível obsessão. O desfecho foi um golpe na democracia, uma profusa mancha na Constituição e uma acentuada dose de desconfiança na melhor forma de organização dos interesses comuns.

 De um lado, um indivíduo intolerante, cercado de mistério e fora da harmonia social. De outro, a coletividade reunida em via pública, dentro da normalidade, numa típica manifestação popular permitida em período eleitoral. Ainda assim, a intolerância, que não encontra guarida na ordem jurídica, não conquista vitórias das quais se possa orgulhar e não honra a tradição pacífica da grande nação brasileira; ignorou a tudo e a todos e mostrou sua cara perversa, violenta, intransigente e antidemocrática.

As diferenças e as controvérsias são peças movíveis no tabuleiro da conciliação, mas jamais serão impostas como condição de alijamento de direitos fundamentais. A violência, da mesma forma, não será permitida aos que bajulam o ócio e forçam uma conquista na contramão das garantias constitucionais. A República não ficará de joelhos.

Não bastassem a fragilidade cultural vigente, o desemprego e a miséria, o sucateamento da educação, a precariedade da saúde, o recrudescimento da violência e a leniência com a impunidade, ainda querem tirar a fórceps, dos 147 milhões de eleitores, o direito de votar com racionalidade e liberdade. Todavia, a antidemocracia, seja à esquerda ou à direita, não abreviará a estabilidade do Estado e não empurrará goela abaixo o tônico amargo da inépcia e do patrulhamento. A escolha há de ser livre e soberana. A antidemocracia perde. A democracia vence, e a cidadania cresce.    

  

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).

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(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de domingo, 23 de setembro de 2018, pág. 17).