INJUSTIÇA PROFESSORAL.




                      “Injustiça professoral é permitir agressões a professores em sala de aula. A sociedade civilizada não quer a injustiça professoral, mas a justiça e o reconhecimento aos bons professores”.  


O que a sociedade brasileira tem vivido, mormente nos últimos anos, com relação ao comportamento violento de alunos em sala de aula, serve para alertar os pais quanto à sua responsabilidade na educação de berço, não se devendo transferir para a escola a missão de impor limites, posto que esta função é da família e não dos professores.

Se o aluno repete em sala de aula o mesmo que pratica em sua própria casa, banalizando a urbanidade e desrespeitando as regras civilizadas, o erro está na criação, no mau exemplo e na falta de diálogo nos lares. Ora, a sociabilidade começa em casa, tendo por parâmetro a harmonia familiar.

A escola não pode ser vista apenas como um negócio público ou privado. A escola precisa ser reconhecida pelos alunos e respectivas famílias como um ambiente de preparação intelectual necessário, como um porto seguro para as aspirações futuras, sendo, portanto, imprescindível manter canais abertos de diálogo entre as partes interessadas, na busca da construção de um vínculo forte de confiança e onde se possam encontrar soluções para os problemas porventura surgidos nessa convivência escolar ou familiar.

De nada serve uma escola que não se importa com o bem estar de seus alunos, sejam eles quietos, descontraídos, calados, falantes, comportados ou indisciplinados. A atenção do professor tem de estar além da lição e da lousa, notadamente no sentido de observar o quão perto ou distante esteja o aluno. Entretanto, isso não significa colocar o professor como um guardião da vida pessoal do aluno, mas como um amigo disposto a conversar, aconselhar e exercer a magnânima tarefa de ensinar.

Professores e funcionários das escolas precisam estar atentos a ocorrências de bullying, brincadeiras abusivas e piadas preconceituosas entre os alunos. Isso faz parte da acuidade professoral e do mérito disciplinar intramuros, não se admitindo que agressores submetam a situações vexamosas os colegas mais tímidos ou reservados.

Se os professores enfrentam problemas em casa, no trabalho, no trânsito e na correria do dia a dia, com os alunos não é diferente, ainda mais se são crianças ou adolescentes, incapazes talvez de compreender as situações críticas de convivência criadas no seio da família ou da sociedade. Ou seja, se para o adulto a vida é complexa e cheia de caminhos tortuosos, para os alunos ainda muito jovens essa perspectiva pode ser pior, sem saída pacífica, sujeita a atos de agressividade contra colegas, professores, funcionários e até mesmo na forma de vandalização do patrimônio escolar. Contudo, a hostilidade não é aceitável em nenhuma das situações, embora se reconheça que a razão do nascedouro da crise possam ser os prováveis desajustes na família.  

Não interessa se o aluno de quinze, dezesseis ou dezessete anos tem uma vida difícil em casa. Família violenta, despossuída de princípios e em constantes crises psicológica, econômica ou social. O que interessa e importa, de fato, é que esse aluno não tem o direito de agredir o professor em sala de aula, seja com palavrões, xingamentos, cusparadas, chutes ou murros. Não! O aluno não pode, sob hipótese alguma, se armar de palavras e atos violentos para desmoralizar e humilhar o profissional da educação, independentemente de sua má formação ou ausência de bons exemplos na família. Ora, se esse aluno não aprende bons modos em casa, com certeza vai aprender a duras penas nas ruas, quando enfrentar alguém da mesma índole deteriorada pelo desastre da desarmonia familiar ou social.

Injustiça professoral é permitir agressões a professores em sala de aula, e uma forma de corrigir essas atitudes agressivas de alunos violentos é os colegas não valorizarem o ato danoso contra o professor. Ou seja, comportamentos e atitudes assertivas por parte de colegas, acabam tornando a ação do agressor cada vez mais sem sentido, antipática, desleal e absurdamente desnecessária. O agressor, sem plateia e sem gritos de incentivo, acaba por ficar deslocado, desprestigiado, desvalorizado, e reduz a sua sandice juvenil, para não cometê-la mais ou pensá-la cada vez menos.

Diante desse quadro, as reuniões entre pais e mestres se fazem indispensáveis cada vez mais. Negligenciar essa obrigação é contribuir para a progressão da violência e do desrespeito. A conscientização dos deveres da família há de ser lembrada e relembrada, haja vista a desnecessidade da coerção ou da punição do transgressor da norma, mas o aconselhamento, o trabalho em grupo (família e escola), de forma que o aluno agressivo aprenda que brigas, intrigas, abusos, socos e pontapés não são aceitos pela sociedade civilizada e muito menos saudáveis para o seguimento da vida.

Por fim, no ensino público, a responsabilidade do governo vai além do prédio da escola, dos professores e dos funcionários. Cabe ao governo prover as escolas de atividades esportivas e culturais, de interação e de aproximação, disponibilizando espaço e atividades que promovam o surgimento de colaboradores na formação da livre, democrática e proativa expressão cultural. Cabe ainda ao governo, entre outras competências sociais e funcionais, zelar pela integridade física e moral dos alunos, dos professores e dos funcionários, além de cuidar da preservação do patrimônio público. Cabe, por fim, ao governo, incentivar e operar a prática da integração da comunidade escolar, preferencialmente com o fortalecimento de vínculos fraternos entre família, escola, alunos, professores e funcionários, que, com certeza, contarão com o apoio incondicional da sociedade civilizada, que não quer a injustiça professoral, mas a justiça e o reconhecimento aos bons professores.   

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG). 



Comentários

  1. Maria José A. Vieiras24 de setembro de 2018 às 10:18

    Maravilhoso o seu artigo doutor Wilson. Nós professoras temos sofrido com essa intolerância e violência e a agressão é um absurdo sem tamanho, desumano e inadmissível por todos os professores e pela sociedade brasileira. Parabéns pelo brilhante texto. Maria José A. Vieiras.

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  2. Acho as atividades esportiva e cultural recomendáveis e necessárias nas escolas, para maior interação dos alunos, professores e demais da vida escolar, assim como disse o Dr. Wilson neste brilhante artigo.
    O aluno que pratica esportes, artes ou qualquer atividade extra curricular não tem tempo para arranjar briga com colegas e muito menos com o professor ou professora. Escola é lugar de amizade, amor, respeito, aprendizagem, conhecimento e preparação para o futuro. Gostei muito desse blog e dos assuntos aqui colocados. Parabéns. Eu sou Vinicius Reis, professor.

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