O VALOR DA MORAL



                  "Garantir direitos não é admitir privilégios".

Os escândalos financeiros são tantos, que os bilhões desviados não escandalizam mais que por uma semana. Caem logo no esquecimento. E os larápios ficam impunes, mas ricos e rodeados de amigos pouco afeitos ao que seja moral. Aliás, os valores éticos e morais causam, sobremaneira, atração ou repulsa. Nesses casos, está a se considerar que o ato seja moral ou imoral, se o indivíduo introjeta ou não a norma, livre e conscientemente. O que vale para o amoral não vale para todos, e vice-versa.


Maus exemplos existem em todos os lugares, setores, meios, e não se confundem, uma vez que uns são maiores que os outros, mais emblemáticos e de matizes ideológicos distintos. Nada justifica, no entanto, que os erros se comuniquem, sumam ou se perdoem sem uma punição adequada. A impunidade é que leva a outros erros, outras imoralidades e outras cópias de comportamentos transgressores.

Quem rouba um pote de margarina no supermercado vai para a cadeia. Quem desvia dinheiro público, frauda, corrompe e comete os maiores crimes contra o erário e o patrimônio sofre, no máximo, pela exposição na mídia, pelo inquérito que se arrasta e pelas penas punitivas que, muito breves, se transformam em prisão domiciliar. Ou seja, a diferença de tratamento, a complacência da sociedade, a fragilidade das leis, a tolerância dos aplicadores da justiça e a impunidade aristocrática se transformam no insuportável vício da imoralidade social.

Quando se vive rodeado de juízos de valor, no sentido inflexível da compreensão humana, o que menos importa, lamentavelmente, é o comportamento ético do indivíduo no seio da sociedade. Vale quanto pesa. Vale quanto dinheiro tenha. Vale o cargo que ocupa. Vale nada, mas vale tudo. Vale a ignorância de valorar a pessoa pelo que aparenta, e não pelo que seja, de fato, na vida real.

Garantir direitos não é admitir privilégios. Praticar a democracia não é diligenciar para a burguesia, para a elite, para os políticos ou para os poderosos, nem excluir do acesso ao poder a grande maioria, mas conduzir a todos a harmonia e a igualdade de uma sociedade una. Difícil, mas perfeitamente possível. A outra parte da sociedade, a que se acha injustiçada, reduzida ao silêncio e à incapacidade de opinar, que se mobilize, se manifeste, se eleve, se erga e saia de sua posição em cócoras, e exija sua própria condição. 

O valor da moral é subjetivo. A importância é coletiva. Os seres humanos são privilegiados pelo direito de escolha. Ser moral, imoral ou amoral, eis o grande dilema do indivíduo. Simples e complexo. Bom e ruim. Certo e errado. No entanto, não interessa onde esteja sua dúvida, posto que caiba à lei limitar suas ações, permitido o contraditório e a ampla defesa, mas, jamais, permitida a impunidade dos erros, dos crimes, dos ilícitos e dos males causados.

O valor da moral está nos princípios. Mude-os, e sua moral terá mudado.

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).  

(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de segunda-feira, 3 de setembro de 2018, pág. 19).


Comentários

  1. João Crisóstomo França Ribeiro.4 de setembro de 2018 às 12:05

    Dr. Wilson Campos,

    Boa noite. Não o conheço, mas estou a lhe passar esta mensagem para
    parabenizá-lo pelo artigo O VALOR DA MORAL. Como seria bom se todos
    nossos "HONESTOS" políticos o lessem e que se olhassem no espelho.

    Obrigado pelo texto. Achei magnífico.

    Tenha uma belíssima semana.

    João Crisóstomo França Ribeiro

    Engº Eletricista - CREA 42988/D

    ResponderExcluir
  2. Evandro Elias S. R. P.4 de setembro de 2018 às 17:16

    Concordo plenamente com o tema e com a conceituação. Excelente o texto do Dr. Wilson Campos, como sempre, mostrando a verdade como deve ser. Quem nos dera ter a verdadeira moral na política, pois teríamos um país diferente do que temos hoje. Parabéns Dr. Wilson, mais uma vez. Evandro Elias.

    ResponderExcluir
  3. Mirtes N.O. Filgueiras4 de setembro de 2018 às 17:21

    Essa moral é a que precisamos na sociedade, de cima abaixo, sem exceção, para que nosso povo possa aprender, praticar e cobrar. Os valores do ser humano são o esteio da moral, da ética e dos princípios como bem disse o ilustre professor Dr. Wilson. Muito bom o artigo e digno de ser lido em voz alta no Congresso Nacional. Mas as eleições estão aí e essa moral há de repercutir. Meus sinceros parabéns doutor. Mirtes N.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas