“213 MILHÕES DE PEQUENOS TIRANOS SOBERANOS”.
Uma mineira da qual se esperava equilíbrio, educação e conhecimento, acaba de decepcionar e entristecer Minas Gerais com suas afirmações pouco ou nada sensatas, pouco ou nada civilizadas, pouco ou nada respeitosas com o povo brasileiro.
Tiradentes, Bárbara Heliodora, Tancredo Neves, Afonso Pena, Juscelino Kubitschek, Itamar Franco, Carlos Drummond de Andrade, João Guimarães Rosa e tantos outros mineiros ilustres que se destacaram em suas áreas, mostrando a importância de Minas Gerais para a cultura, a política e a história do Brasil, com certeza, in memoriam, devem estar tristes com as palavras da ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF).
No julgamento que restabeleceu oficialmente a censura no Brasil, por meio da chamada regulamentação das plataformas digitais, a ministra Cármen Lúcia, outrora defensora intransigente da liberdade de expressão, saiu-se com um veredicto assustador sobre todos nós, cidadãos brasileiros.
“A grande dificuldade está aí: censura é proibida constitucionalmente, eticamente, moralmente, e eu diria até espiritualmente. Mas também não se pode permitir que estejamos numa ágora em que haja 213 milhões de pequenos tiranos soberanos. E soberano aqui é o direito brasileiro. É preciso cumprir as regras para que a gente consiga uma convivência que, se não for em paz, tenha pelo menos um pingo de sossego. É isso que estamos buscando aqui: esse equilíbrio dificílimo”, afirmou a ministra.
Em um país que ameaça, censura e prende cidadãos por supostamente terem colocado em risco o Estado democrático de direito, mas sem nenhuma prova robusta, render-se o cidadão e ficar obrigado a escutar o que disse a ministra, causa arrepios. Ora, ministra, em países verdadeiramente democratas não há recados indiretos e mal educados que não sejam rechaçados e devolvidos. Ademais, o confronto de ideias na democracia é normal e saudável, e pode ser ainda constante e bem agitado. Faz parte da democracia. Ora!
Quanto à parte em que a ministra fala sobre a “ágora dos 213 milhões de tiranos soberanos”, penso que ela tenha imaginado a Ágora de Atenas, mas sem atentar para o fato de que naquele espaço prevaleciam a liberdade de expressão e a costumeira presença de pessoas debatendo ideias sobre assuntos diversos, incluindo temas pró e contra o sistema de governo.
Segundo conta a história universal, na ágora era garantida a todos os atenienses (homens), não importava a sua condição social, a completa liberdade de expressão.
Também
conta a história que, ao criticar a inimiga Esparta, Demóstenes, o grande
orador ateniense, disse que, em Atenas, era permitido aos indivíduos criticar o
seu próprio sistema democrático e elogiar o de Esparta, ao passo que, entre os
espartanos, só era possível elogiar a ditadura a que estavam submetidos. O primeiro, democrata. O segundo, autoritário. E o Brasil atual, onde se encaixa?
No ano de 2025, no Brasil, os indivíduos não podem mais fazer críticas ao sistema; não podem mais usar as redes sociais livremente; não podem mais escolher a direita, porque a esquerda não aceita; e não podem mais discordar de juízes, que logo mandam punir e constranger.
Cármen Lúcia deveria ter pensado duas vezes antes de proferir palavras duras e pesadas contra os cidadãos brasileiros, mesmo porque ela acaba derrubando por terra sua melancólica imagem de que o Brasil tem uma democracia. Como assim? Democracia onde não se pode contestar, criticar ou reivindicar?
Aqueles que Cármen Lúcia chamou de “213 milhões de pequenos tiranos” eu chamo de 213 milhões de brasileiros sedentos por liberdade e democracia de verdade.
O mundo gira. Muitos devem se lembrar de 2022, quando Cármen disse que a censura deve ser “excepcionalíssima”. Agora, passados apenas dois anos e alguns meses, ela relativiza na prática o princípio da liberdade de expressão ao se referir aos brasileiros como os “213 milhões de pequenos tiranos soberanos”. Essa declaração impensada aduz que os brasileiros, em sua suposta irracionalidade, são perigosos demais para lidarem com a liberdade e, por isso, devem ser contidos. E eu pergunto: democracia e liberdade, onde, senhora ministra?
O ativismo do Judiciário está tão expressivo, que permite à ministra falar o que falou, e permite ao STF mudar o texto legal do Marco Civil da Internet e regulamentar as plataformas digitais. Mas isso está errado, no meu entendimento, posto que, como guardião da Constituição, o STF deveria tão somente apontar eventuais inconsistências e indicar caminhos para que o Legislativo fizesse as correções pontuais e necessárias. Legislar é função do Poder Legislativo, e não do Poder Judiciário. Assim leciona a Constituição.
Ao agredir verbalmente os brasileiros, a ministra sai da sua ágora e adentra a ágora da população soberana, que pode, sim, agir por emoções, paixões, críticas e opiniões, uma vez que, segundo os próprios ministros da Corte, o Brasil vive uma democracia, um Estado de direito. Então, sendo assim, está tudo certo, e o brasileiro pode se manifestar. Ou não?
A rigor, o Supremo não é árbitro do que seja certo ou errado da parte do povo. Se assim for, o papel dos ministros suplanta a função essencial dos parlamentares eleitos para representar a população. Mas não é isso que está escrito na Constituição, que separa positivamente o papel de cada poder da República.
Enfim, a fala da ministra Cármen Lúcia ao se referir aos brasileiros como os “213 milhões de pequenos tiranos soberanos”, escancara o espírito autoritário que se consolidou na mais alta Corte brasileira. Ademais, comparar a liberdade de expressão à tirania é tentar amordaçar a cidadania, e o grande desafio dos regimes democráticos é justamente permitir a voz, e não calar a voz do povo.
Wilson Campos (Advogado/Especialista com atuação nas áreas de Direito Tributário, Trabalhista, Cível e Ambiental/ Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG, de 2013 a 2021/Delegado de Prerrogativas da OAB/MG, de 2019 a 2021).
Realmente doutor Wilson Campos o discurso da ministra foi de doer na alma da gente, chamar a gente de pequenos tiranos é agredir duas vezes - pequeno... tirano...-, e isso machuca muito quem trabalha por este país como eu trabalhei e trabalho até hoje honestamente com suor para pagar impostos e criar minha família dom decencia e honestidade. Estou muito ofendido e estou com vergonha desse nosso país que hoje só caminha para trás feito caranguejo. Tudo de ruim acontece quando a esquerda está no poder, só coisa do mal e tudo desanda. Deus nos livre da esquerda e desse desgoverno que contamina tudo e até o judiciário está na roda. Parabéns doutor Wilson e vamos rezar muito porque a coisa está triste com esse desgoverno todo. Davidson L.G. Dornelas (eng. agrimensor).
ResponderExcluirComo mulher estou vexada e sem palavras. Dr. Wilson Campos advogado eu li seu artigo todo e vi essa caso na internet. Tudo causa medo, pavor, nojo, náusea, vontade de ir embora do Brasil e nunca mais voltar. Não tem como suportar tudo isso na nossa cara e ficarmos ainda fazendo papel de palhaços e pagando caro de impostos e custo de vida pra isso,pra ser humilhada e chamada de tirana pequena??? Eu não mereço isso não!!! . Meus parabéns dr. Wilson só para o senhor porque o Brasil está derretendo na mediocridade. Att|: Fabíola Jardim (empreendedora e contribuinte há mais de 30 anos).
ResponderExcluirA ministra mineira Cármen Lúcia chamou todos nós brasileiros de "213 milhões de pequenos tiranos soberanos" . Eu como mineiro raiz estou indignado com isso. Trabalho duro para ser honesto e não precisar destratar ninguém e vem uma ministra do stf me chamar de pequeno tirano soberano. Como assim? Que autoridade ele tem para fazer isso?. Cadê a democracia?. Cadê o tal Estado democrático de Direito?. Doutor Wilson me ajuda por favor a entender essa ofensa grave porque estou sentido vontade de vomitar depois dessa tratamento desrespeitosos e depois de uma vida inteira de muito trabalho e com mais de 40 anos de carteira assinada. Estou indignado e muito. Doutor Wilson estamos indo direito pra uma ditadura tipo venezuela e ou cubana sem diferença alguma. Gilmar F.S. Dantas (trabalhador 6x1).
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