JUÍZES E JUÍZES.
A propósito
dos últimos acontecimentos divulgados na imprensa, o juiz, de fato, não é Deus,
mas um ser humano como todos nós, sujeito a erros e acertos. Os meandros do
exercício da magistratura não se sobrepõem a nenhum outro, por mais meritório
que seja o trabalho severo do juiz justo, que não verga a lei a favor de si, da
parte, do procurador, de ninguém.
O papel
social do juiz implica responsabilidades não só no processo ou na conduta
diária de julgar, mas também no respeito devido a todas as pessoas, sem ares de
superioridade pelo cargo exercido. A postura do juiz passa por questões
pessoais, adstritas ao agente político, que não deve se envolver em polêmicas
ou fatos que sejam prejudiciais à imagem da magistratura.
A arrogância
não torna mais capaz um juiz. A toga não se presta a instrumento de prepotência
ou de açoite. A magistratura bem exercida é um serviço essencial para a
população, de grande relevância social e política, não cabendo ao juiz atuar
apenas sobre as consequências, mas sobre as causas dos problemas sociais.
Embora existam juízes e juízes, a igualdade está em que todos são servidores
públicos, e a diferença se constitui naqueles que são e naqueles que pensam que
são. Entre uns e outros, a sociedade fica com o poder-dever dos juízes que
representam a autoridade a serviço do povo, que se colocam retos e equânimes na
sua vida judicante e na normalidade da vida civil.
Assim como deve
vencer a causa quem tem o melhor direito, e não quem tem o melhor advogado, deve
julgar a lide o juiz que detenha conhecimento, prudência, equilíbrio e
razoabilidade, e não aquele que se coloca acima da virtude da humildade e não
sabe otimizar a prestação jurisdicional.
Juiz não é
Deus. Todavia, há muitos e bons juízes país afora. E não são poucos. Aliás, são
a maioria. Estes são seres humanos normais e jamais se deixaram “endeusar” pela
túnica talar preta ou pela investidura do cargo. Como em toda profissão, os
bons e os maus se encontram, mas não se fundem. Enquanto o expurgo é a punição
dos que apresentam desvio de conduta, a valorização é o prêmio dos juízes
éticos, trabalhadores e cumpridores de seus deveres, e não será pela existência
da distorção exsurgente que a regra representada pelos bons será estigmatizada
pela exceção dos que desrespeitam a opinião pública e desgastam profundamente a
imagem do Poder Judiciário.
No Brasil,
onde o sistema bicameral prima pela inércia, pela política de interesses e se
esquece de legislar, os bons juízes ganham importância pelo protagonismo da
coragem das decisões de vanguarda, mormente nas questões abarcadas pelo
princípio da igualdade e na interpretação cidadã dos direitos capazes de se
conformar na consolidação de jurisprudências, embora não soltas ou à revelia
dos outros poderes, posto que eficazes os pesos e os contrafreios da legalidade
republicana.
Aos bons
juízes, o povo presta reverência. Aos maus, a veemência do repúdio.
Wilson
Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses
Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).
(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de quinta-feira, 20/11/2014, pág. 21).
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