HAJA SACRIFÍCIO.
A ignorância de um
povo se mede pela distância das pessoas da leitura básica, mínima e elementar. A
alienação, por esse agir cada vez mais excludente, quiçá pela ausência de
informação confiável, torna cada vez mais inferiorizada uma geração de jovens
promissores. Contudo, não reside nessa avaliação personalíssima qualquer
crítica aos avanços tecnológicos, desde que o conhecimento aproxime o cidadão
dos seus direitos e garantias, na mesma proporção dos deveres e obrigações.
O sacrifício que o
governo pede ao povo, quando não há mais o que doar, tamanha a carga de
sofrimento sopesada nos ombros da sociedade espoliada, ressoa como uma
chibatada no dorso da história brasileira, que se livrou da escravatura há 127
anos, mas que vez ou outra ameaça ressurgir nos atos das hostes políticas,
quase sempre incompetentes na administração da coisa pública, que refugam a
responsabilidade que lhes cabe e a transferem para a população, que simplesmente
ouve e obedece, sem requerer a ampla defesa e o contraditório.
Enquanto o
impostômetro traduz em números a incrível arrecadação de R$ 2 trilhões em 2015,
a cúpula governamental, não contente com a cifra escandalosa da tributação que
compromete pessoas físicas e jurídicas, ainda reinventa novas formas de
sacrifícios tão ou mais injustas que as já existentes, quer sejam pelos
aumentos anuais de impostos, taxas e contribuições, ou pelas ameaças do retorno
da CPMF, das mudanças na aposentadoria e das mexidas inconstitucionais nos
direitos sociais.
Sob a ótica do poder escravocrata,
não há sacrifícios que bastem desde que os nobres representantes do povo não
sejam os sacrificados. Ou seja, basta que ao povo seja debitada a conta do
desperdício, da improbidade, do extravio, da corrupção, e que o honrado
contribuinte vire do avesso para pagá-la, embora a Constituição da República
consagre direitos e deveres para todos e, principalmente, para a União, para os
Estados e para os Municípios. Mas, quem se importa, se poucos leram os 250 artigos
da Carta Magna?
No entanto, ainda que
mudem as cabeças pensantes da economia do país, como sempre fazem quando
entabulam que o sacrifício do povo ainda é pouco, as lambanças administrativas continuam,
na certeza de ludibriar as mentes ocupadas com a mídia digital, que se
desdobram no domínio das redes sociais, mas que são ávidas de informações
precisas, transparentes, éticas, humanas e excelentemente patriotas.
Haja sacrifício para
um povo aprendiz do conhecimento, da leitura e da informação, sem tirar o
mérito do esforço daqueles que se indignam e vão para as manifestações de ruas
e de outros que correm para os livros, para as estatísticas, para as leis e se
debruçam sobre os compêndios à procura de uma solução, no sentido de que a
objurgação tenha limite, os sacrifícios sociais cessem, o respeito seja
instaurado, as instituições preservadas, a democracia fortalecida e os
infratores submetidos aos rigores da lei. Em assim sendo, existe esperança para
2016.
Wilson Campos
(Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos
da Sociedade, da OAB/MG).
(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de quinta-feira, 31 de dezembro de 2015, pág. 15).
(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de quinta-feira, 31 de dezembro de 2015, pág. 15).
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