POR UMA BH CIDADÃ
Uma cidade melhor para viver.
Poucos são os eventos
públicos que discutem uma cidade melhor para viver que, de fato, escutam e respeitam
as opiniões da população. Essa coisa de realizar encontros sem a efetiva
participação dos moradores está se tornando desinteressante e cada vez mais
antidemocrática, uma vez que os segmentos da sociedade, necessariamente, têm que
estar equiparados no mesmo direito de manifestação, dando-se a todos a
igualdade constitucional e o idêntico espaço para a exposição de ideias.
A paridade buscada
nas reuniões, nas audiências públicas, nas conferências e nos seminários é a
mesma que se quer no momento próprio de poder questionar o ponto de vista do
setor empresarial ou do setor público, haja vista a esperança depositada na
verdadeira convergência dos interesses difusos e coletivos, tendo como meta
não os direitos e as garantias de uns, mas de todos, que estabeleçam a
coexistência sócioespacial pacífica e harmoniosa dos cidadãos, de forma que
eles tenham, sem favores, uma cidade melhor para viver.
Alijar dos debates as
entidades representativas dos moradores, os movimentos sociais, as pessoas
engajadas nas demandas da inclusão social e da defesa ambiental, quaisquer que
sejam, não é, nem de longe, a melhor maneira de se pensar uma cidade melhor
para viver. A construção desse futuro urbano promissor não admite egocêntricos,
próceres da demagogia ou predadores da natureza, que ignoram e teimam em não
olhar para as áreas nas quais a população tem que se matar nos esforços
hercúleos para não sucumbir integralmente aos valores do capital, quer seja
pela defesa da sustentabilidade, do meio ambiente equilibrado ou pela não
aceitação dos grilhões nas periferias geográficas e marginalizadas.
Foi-se o tempo da
imposição. Ou as discussões se fortalecem com a presença de cidadãos dotados de
autonomia moral, ou não se fará uma cidade melhor. Aliás, o Executivo e o Legislativo
não têm procuração para homologar o destino da cidade. Ao contrário, a
participação, a fiscalização e o acompanhamento da sociedade organizada são
legais, morais e intransferíveis. Assim os exigem a democracia, o Estatuto da
Cidade e a Constituição da República.
O desenvolvimento da
cidade, o crescimento das empresas, o destaque da administração pública e a
evidência dos representantes do povo não querem dizer, absolutamente, que a
cidadania esteja disposta a permitir os desgovernos ambiental, social ou
cultural. Ora, a prosperidade da cidade remete a uma longa pauta de recomendações,
que vão desde a qualidade de vida cosmopolita até o convívio próximo com a
fronteira periférica da região metropolitana.
Uma cidade melhor
para viver requer parceria livre e desinteressada, que privilegie as pessoas,
independentemente de classe social; que tenha a arquitetura da humanidade, e não
apenas do lucro; que tenha mais horizontes; que se faça cidadã com a presença indispensável
do ser humano, da fauna, da flora e das águas; que deixe respirar e que permita
viver.
Wilson Campos
(Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos
da Sociedade, da OAB/MG).
(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de quinta-feira, 10/12/2015, pág. 19).
(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de quinta-feira, 10/12/2015, pág. 19).
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