GESTÃO DA CIDADE.
O impacto da
notícia veiculada na imprensa de que a venda de terrenos e a operação urbana da
Prefeitura Municipal de Belo Horizonte vão impactar mais de 800 mil moradores,
confirma o fato de que a população de Belo Horizonte não é levada em conta na
hora da discussão das funções sociais da cidade, mas tão somente é lembrada no
momento de pagar os tributos e a conta salgada do desenvolvimento sem
sustentabilidade imposto de cima para baixo.
De se destacar que
os prejudicados são em número bem maior que o divulgado e com percuciência para
os excluídos e atingidos em toda a cidade, algo em torno de 2,4 milhões de
habitantes, que são ignorados como cidadãos, o que leva a entender a recente
pesquisa do IBGE, de que a capital mineira perdeu o posto de terceiro e desabou
para o sexto lugar entre as maiores capitais brasileiras, donde se conclui que
se a população é alijada, também o é a cidade no crescimento do país.
Justamente no mês
em que a Constituição Federal completa 25 anos, os moradores da capital mineira
são surpreendidos com a violação dos Arts. 182 e 183, regulamentados no
Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001), quando
lhes são retirados os direitos de participação na gestão democrática da cidade.
A Prefeitura autoriza e projeta obras por toda a cidade, sem, no entanto,
consultar as comunidades locais.
A Prefeitura não
age de forma democrática. Ao contrário, os moradores são sempre os últimos a
saberem da implantação de obras nas regiões, sempre aquelas pretendidas pelo
executivo municipal e não as desejadas pelas comunidades, o que reflete o
tamanho do descaso da administração pública para com o contribuinte que, de
fato, acaba por ser obrigado a cumprir os compromissos firmados pela
Administração, mesmo que a reboque de sua vontade personalíssima.
As alegações de
criação de novos polos de comércio e de serviços, retirando do grande centro a
concentração dos negócios, segundo a vontade da administração, não contempla
com efetividade e transparência os demais equipamentos urgentes e necessários
de saneamento básico, infraestrutura, hospitais, escolas, transporte coletivo,
preservação do meio ambiente, segurança, mobilidade, áreas de lazer e garantia
de melhor qualidade de vida.
A Prefeitura não
mostrou até agora à população o planejamento urbano pretendido, o que
representa, no mínimo, má-fé das secretarias responsáveis, que, sequer se
dispuseram a discutir as metas com a sociedade, de forma ampla, o que deveria
ter sido feito muito antes do início dos projetos formatados em gabinetes
fechados.
A sociedade deseja
participar conforme preconizado pelo estatuto legal, através de uma gestão
democrática, na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e
projetos de desenvolvimento urbano.
As audiências
públicas devem acontecer dentro da mais absoluta ordem e com respaldo das
comunidades, quer seja nos conselhos municipais, nas oficinas, ou nas
conferências, posto que os debates devam ser com inteira transparência,
publicidade, legalidade e na melhor forma de se escutar os moradores envolvidos,
de modo paritário e democrático.
Os planos de
ocupação urbana da Prefeitura, da forma como surgem, autocráticos e obscuros,
não podem, sob hipótese alguma, serem admitidos pela sociedade.
Para que haja
progresso, faz-se necessária a ordem. E para que haja ordem, faz-se necessário
o respeito ao povo.
Wilson Campos
(Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses
Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).
(Este artigo mereceu publicação do jornal HOJE EM DIA, edição de 13/10/2013, domingo, pág. 25).
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