SEM MOTIVO DE FESTA.
A cidade e o meio ambiente.
Tomando Belo
Horizonte como exemplo, uma vez que aqui vivemos e aqui partilhamos os
problemas da cidade grande, nada há a comemorar na Semana Nacional do Meio Ambiente.
Aliás, não deveria ser apenas nessa data a preocupação com o tema, mas em todas
as semanas e meses do ano, para quem sabe algum dia termos o que comemorar.
Em nome do
progresso, nunca se derrubaram tantas árvores como nos últimos anos, seja para
a implantação do sofrível novo sistema de transporte coletivo, para as obras
desnecessárias da Copa do Mundo de 2014, com o favorecimento de empreendedores,
ou para a pura e simples especulação imobiliária.
As áreas
verdes na capital deixaram de ser prioridade do governo municipal e passaram a
merecer tratamento desdenhoso, como se o desenvolvimento não precisasse ser
sustentável.
Os cidadãos
que se mostram indignados com a devastação ambiental impingida à cidade são
chamados de “eco- chatos”. As entidades comunitárias, acadêmicas, profissionais
ou ambientalistas que se postam na defesa da sustentabilidade e do meio
ambiente equilibrado são taxadas de “político-partidárias”. Ou seja, o papel da
cidadania fica sujeito às impropriedades e às falácias dos gestores públicos,
que se escondem atrás de suas fraquezas e se submetem aos interesses do poder
econômico, cada vez mais presente nos meandros administrativos.
As
reclamações dos moradores da capital são no mesmo sentido de que a cidade está
se transformando em uma selva de pedra, excessivamente verticalizada,
concretada, impermeabilizada e sem apreço algum pela biodiversidade, pelo
lençol freático, pelas águas ou nascentes ou pela fauna e flora. Pior ainda, a
cidade sofre com obras viárias desnecessárias, executadas a toque de caixa, que
não preservam a natureza e ainda jogam por terra a beleza natural da outrora
conhecida como "Cidade Jardim".
Continuam as
ameaças à Serra do Curral, à
Mata do Planalto, à Área Verde do Jardim América e a outras regiões que vêm
sendo objeto de cobiça de empreendedores para projetos imobiliários. O
patrimônio ambiental vai aos poucos sendo alijado da vida dos belo-horizontinos
e dando lugar à ganância imobiliária. O poder público se mostra indiferente,
insensível e demasiadamente comprometido com a iniciativa privada. Mas uma
coisa é certa: a população não vai desistir da serra, das matas nem das suas
belezas naturais, do marco, do símbolo ou do patrimônio ambiental.
A manutenção
desses valores indispensáveis à vida do ser humano ainda é possível, assim como
o é a recuperação da Lagoa da Pampulha,
cartão-postal da cidade e orgulho dos cidadãos que sabem reconhecer o valor do
complexo turístico e arquitetônico. Basta vontade política.
Há alguns
anos, quando se removia uma árvore para atender o assim chamado "progresso",
prevalecia o cuidado de arrancá-la com a terra e a raiz para ser transplantada
em outro local. Hoje, prospera impunemente o processo criminoso e menos
dispendioso do uso das motosserras.
Wilson
Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses
Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).
(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de terça-feira, 09/06/2015, pág. 21).
Comentários
Postar um comentário