INÉPCIA NACIONAL

O descontrole fiscal do governo brasileiro é o grande e único culpado pelo desastre que, a rigor, coloca em apuros não apenas a gestão administrativa federal, mas o país como um todo. Não há um perdedor, mas milhões de perdedores. Não há uma pessoa derrotada, mas um governo inteiro de derrotados, incompetentes e péssimos administradores da coisa pública.

Os políticos nem pensam em se eximir de culpa, haja vista que é deles a responsabilidade da infausta situação em que se encontra a população, agora assombrada pelo desemprego, pela alta do custo de vida, pelos juros altíssimos, pela desesperança e até pela violência crescente, dados os maus exemplos de cima para baixo. Ora, bons exemplos geram boas ações. Péssimos exemplos geram degradação, insegurança, desconfiança, crimes e impunidade.

O indigesto Orçamento para 2016, levado ao Congresso pelo governo com um rombo inacreditável de R$30,5 bilhões, além de causar incômodo aos nobres deputados e senadores, não refletiu, na realidade, os cortes na carne citados pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, uma vez que nem sequer foram feitos cortes no número de ministérios, nas mordomias da Câmara e do Senado, nas regalias remuneratórias dos Três Poderes e muito menos nos penduricalhos milionários dos apadrinhados do compadrio partidário.

A inépcia nacional partiu do Executivo, caminhou lentamente pelo Legislativo, contou com a parcimônia do Judiciário e desaguou no bolso do trabalhador, que, no entendimento do ministro Levy, deve pagar pela gastança do governo, posto que o sacrifício sempre é reservado para o povo. No mínimo, o ministro deve estar de gozação quando diz que "se a gente tiver que pagar um pouquinho de imposto para o Brasil ser reconhecido no mundo inteiro como um país forte, tenho certeza que todo mundo vai querer isso". Tá de brincadeira, o ilustre ministro, só pode ser, porque, sinceramente, não há como admitir tamanha desfaçatez dos componentes da cúpula de finanças do governo. Inclua-se no topo da lista dessa cúpula a presidente da República, Dilma Rousseff, que deixou a marolinha se transformar em uma onda gigante, típica de um tsunami arrasador, que leva de arrastão os sonhos das famílias e até os ânimos dos setores empresariais mais comprometidos.

A impopularidade da presidente Dilma disparou. Mas, desta vez, não apenas no meio da sociedade de classe média. Disparou em todos os setores da sociedade, incluindo os produtivos do comércio e da indústria. A descrença é generalizada. Os investimentos correm léguas dos interesses governamentais brasileiros. E a resposta ao ministro da Fazenda, contrariamente ao que ele sinaliza, é uma só: "A população brasileira não entenderá se tiver que pagar pelos erros da economia". Ora, não cabe ao povo pagar uma conta que não é sua. Basta de acessórios à carga tributária elevada e já sopesada nos ombros do contribuinte. Chega!

O governo federal precisa de novas caras. O Congresso Nacional idem. Não restam muitas esperanças quando tentam tapar o sol com a peneira. As mentiras de campanha se revelaram ameaçadoras para o crescimento do país. Deu no que deu. O Brasil está de novo de pires na mão. A economia brasileira já estava aos cacos e não deixaram que o povo percebesse. Mentiram que estava tudo bem. O resultado é um Estado quebrado, operando no negativo, sem rumo e sem apoio político sério que consiga soerguer a sua carcaça em frangalhos.

No entanto, de repente, não mais que de repente, num lampejo de genialidade levantam-se os executivos do poder central e exclamam: Eureka! Achamos! Resta o povo! Então, como num passe de mágica, determinam que o povo seja convocado para saldar a dívida. E o povo é intimado. As trombetas ecoam das favelas até as mansões, das periferias até os grandes centros, dos pequenos até os grandes empresários. O povo, bonzinho e passivo, cordato e diligente, excessivamente acocorado, com o queixo aos joelhos, silencia. E a conta mais uma vez vai para o povo, que, sem saída, corta a carne, diminui o leite, põe água no feijão, não viaja, não tem lazer, fica recluso em casa e sempre que liga a televisão vê lá na tela a sua imagem de eterno salvador da pátria, mas que nunca passará disso. Nem cidadania lhe resta. Que triste!

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG). 

(Este artigo mereceu publicação do jornal ESTADO DE MINAS, edição de quinta-feira, 01/10/2015, pág. 7).

Comentários

Postagens mais visitadas