O NOVO PLANO DIRETOR
Uma cidade como Belo Horizonte não pode ser expandida
de forma predatória, como é feito atualmente, negligenciando o respeito humano, a conservação do meio ambiente e a qualidade de vida dos moradores.
Não basta os direitos e as garantias estarem inscritos nas leis de um país.
Precisam, verdadeiramente, proteger vidas, de forma efetiva e sem nenhuma
sombra de dúvida.
Os direitos fundamentais e sociais, possivelmente desconhecidos
dos cidadãos comuns, vão muito além da garantia à liberdade, à segurança, ao
trabalho, à moradia, à educação e à saúde. Ora, esses são necessários, mas agregados
à qualidade de vida e ao respeito à dignidade do ser humano.
Seria pedir muito de um simples cidadão que ele se
dispusesse a pensar uma cidade ideal para viver. Quando muito, ele descreveria
uma cidade tranquila, de pequena população e com bancos na praça para assistir
ao pôr do sol. Não estaria errado. Ao contrário, certíssimo sob o seu ponto de
vista social e gosto particular.
Contudo, as pessoas são, por natureza, conflitantes em vários sentidos. O que
atende os mais simples não chega nem perto das pretensões dos mais exigentes.
E assim vive a humanidade, sempre procurando um caminho que traga, no mínimo, a
satisfação pessoal.
As cidades, as pessoas e o ambiente precisam se
tornar mais próximos, numa profusão de qualidade de vida, com trabalho e lazer
sempre juntos, e não puxando cada qual para um lado, como que teimosamente
levando todos a um abismo imerecido.
A reinvenção da cidade passa pela formatação
da sustentabilidade ambiental que priorize o ser humano e o faça parceiro dessa
convivência harmoniosa. A preservação das áreas verdes é, com certeza, a maior
marca dos espaços sustentáveis, ao contrário das correntes de desenvolvimento
urbano que produzem a verticalização irracional e que não enxergam a degradação
crescente do ambiente e da vida.
O cinturão verde preservado representa a
possibilidade de um crescimento sem muitos traumas. O aquecimento global se
arrefece com esse ambiente de fragmentos naturais. A verticalização, por seu
lado, adensa violentamente e tira a qualidade de
vida das pessoas. A emissão de CO2 é um péssimo aglutinador. Os espaços
públicos carecem de ar limpo e clima ameno.
A cidade, as pessoas e o ambiente precisam somar, e não dividir, como se o
cálculo do progresso fosse medido apenas pela elevação das construções. A
habitação horizontal também é sinônimo de progresso, e a vertical, com, no máximo, cinco
andares, pode muito bem atender o desenvolvimento com mais eficiência. Basta haver planejamento, e haverá espaço para todos. Muitas cidades
europeias, bem planejadas, são bons exemplos dessa eficiência.
A relação entre cidade, pessoas e ambiente precisa
ser reinventada e que o seja na perspectiva da sustentabilidade, principalmente
agora que o Legislativo se prepara para discutir uma ampla reformulação urbanística
da capital, via projeto de lei do novo Plano Diretor e Lei de Parcelamento,
Ocupação e Uso do Solo.
Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de
Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).
(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de sábado, 24 de outubro de 2015, pág. 15).
(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de sábado, 24 de outubro de 2015, pág. 15).
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