MANIFESTAÇÕES PÚBLICAS
A esperança
e a expectativa das pessoas de bem são no sentido de que todos possam se
manifestar dentro das regras básicas da democracia, da Ordem Jurídica e da respeitabilidade
aos princípios da soberania nacional, da legalidade, da liberdade, da
igualdade, da ampla defesa, da isonomia, do contraditório, da simetria e da
proporcionalidade da lei.
As manifestações populares que
tomaram as ruas das cidades do país, quer sejam por
solidariedade ao governo atual ou por serem contrárias a ele, representam o
direito que o cidadão tem de articular o seu pensamento e, mais do que isso, de
reivindicar a livre expressão, independentemente de censura, autorização ou
licença (artigo 5º, incisos IV, IX e XVI , da Constituição).
No entanto, a incitação à
violência e a prática irresponsável de vandalismo são inadmissíveis. No campo
das ideias não se sustenta o uso de força, armas, agressões ou ódio.
Exatamente por vivermos sob os
auspícios da democracia e do pleno Estado Democrático de Direito é que temos
direitos e deveres iguais, o que significa dizer que, para sermos respeitados
nas nossas aspirações individuais ou coletivas, devemos respeitar as diferenças,
as diversidades e as opiniões contrárias, muitas vezes distribuídas nos
interesses difusos da coletividade.
O exercício democrático do
direito de um cidadão remete a que não seja afrontado o direito de outro,
possibilitando que ambos, livremente, utilizem as garantias constitucionais
asseguradas. O enfrentamento físico, a baderna, a destruição de bens públicos
ou privados não acrescentam valores à causa da cidadania.
A insatisfação popular que
começou com os escândalos político-financeiros, hoje se transformou no grito
libertário contra o mau uso do dinheiro público, contra a disparada da inflação,
contra o crescimento do desemprego, contra os intermináveis atos de corrupção e
contra a governança acéfala que deixa o povo entregue a sua própria sorte.
A carga tributária cruel,
sopesada sobre os ombros dos cidadãos, sem a contrapartida de um serviço
público de qualidade, que, aliás, deixa muito a desejar, contribui para a
indignação popular na mesma medida em que faltam recursos para a saúde, o
transporte, a educação e a segurança, e sobram para desvios
criminosos de dinheiro público, que precisam ser obstados e reconduzidos aos
cofres públicos, a bem dos investimentos sociais, necessários e urgentes, tão
exaustivamente reclamados pela sociedade.
O momento
requer imparcialidade, equilíbrio, ética e sabedoria das autoridades dos
Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Sabedoria para aplicar a
Constituição da República. Sabedoria para escutar o povo, corrigir o rumo da
nave errante, prover o sustento da moralidade, preservar as instituições e
respeitar a cidadania coletiva, mesmo porque a resposta da sociedade está sendo
dada, em medida ainda insuficiente com relação à degradação da política brasileira.
Wilson Campos (Advogado).
(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de quarta-feira, 23 de março de 2016, pág. 23).
(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de quarta-feira, 23 de março de 2016, pág. 23).
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