JOGOS OLÍMPICOS BILIONÁRIOS

Sem nenhuma intenção de crítica negativa ou até mesmo de uso de pessimismo exacerbado, o que se busca mostrar à sociedade é quanto custa bancar uma festa olímpica do porte dos Jogos Olímpicos. Ou seja, para os países de primeiro mundo o custo é menor porque a moeda é mais forte e a seriedade dos administradores públicos é conhecida pela austeridade com o dinheiro público, o que não acontece no Brasil, onde o superfaturamento das obras tornam os custos elevados, triplicados e desmedidos, diante da corrupção que não encontra paradeiro. Lamentavelmente!

Para piorar mais a situação, existem a atual crise político-econômica do país e a alegada falta de verba para patrocinar os atletas brasileiros. Ora, como explicar essa distorção financeira, quando sobra dinheiro para corrupção e falta para investimento nos competidores olímpicos brasileiros?  

Muito pior ainda, sem exageros, é assistir o Brasil perder a luta para um mosquito, que, pode colocar em risco a realização da Olimpíada, uma vez que o ministro da Saúde, do Governo Dilma, declarou que o Brasil "perde feio" a batalha contra o Aedes aegypti, mosquito responsável pela transmissão da dengue, do zika virus e da chikungunya. Ora, onde está a suficiência brasileira, que quer bancar uma festa do porte das Olimpíadas, se não consegue controlar as picadas de um mosquito que já causou 863 mortes e l.649.008 casos de dengue, registrados somente em 2015? 

Destarte, não bastasse a situação de desgoverno total em que se encontra o país atualmente, o povo brasileiro ainda tem de suportar o custo oficial dos Jogos Olímpicos Rio-2016 que teve um incremento de R$ 70 milhões e alcançou a marca de R$ 38,67 bilhões. Esse valor absurdo atingido está informado na terceira atualização da Matriz de Responsabilidade, divulgada em agosto de 2015 pela Autoridade Pública Olímpica (APO).

Por mais que tentem, as explicações para esse sumidouro de dinheiro público não são convincentes, haja vista que as cifras gastas em obras pouco transparentes aumentam a cada semestre e, justamente, quando o país mais necessita de verbas para saúde, educação, transporte, segurança, moradia e tecnologia.

As respostas, quando dadas, não justificam. Mas, outra pergunta deve ser feita aos gestores do país: se até hoje não explicaram onde foram parar os milhões de reais excedentes do Pan-Americano de 2007 e os bilhões de reais da Copa do Mundo de 2014, gastos de forma exagerada e irresponsável, como avalizar a realização de uma Olimpíada, que consumirá ainda mais dinheiro público?

Perguntas que sempre ficam sem respostas, porque não existe credibilidade alguma a favor dos governantes que fizeram as trapalhadas passadas, até que provem o contrário. Ou seja, até que demonstrem, com transparência, na prestação de contas ao povo, onde e como gastaram tanto dinheiro nos últimos eventos acima referidos.

Os organizadores dos Jogos Olímpicos deveriam ter mais critério na hora de avaliar os países interessados na realização do mega evento internacional, sopesando a capacidade financeira e a seriedade dos governantes. Ora, o Comitê Olímpico Internacional ao dar a vitória ao Brasil e mais precisamente à cidade do Rio de Janeiro para sediar os Jogos Olímpicos de 2016 demonstrou desconhecer ou pouco se importar com a realidade da vida brasileira, interessando-lhe apenas a jogada política internacional de premiar um país da América do Sul.

Outra consideração humana é certa: a população brasileira não pode abrir mão de serviços básicos como saneamento e esgoto, transporte urbano de qualidade, escolas públicas equipadas e com professores bem remunerados, hospitais bem aparelhados em número e qualidade suficientes, alimentos e itens de primeira necessidade mais baratos, tarifas públicas condizentes com a realidade econômica do povo, ruas e estradas pavimentadas e sinalizadas, moradia popular e segurança pública, além da qualidade de vida necessária e indispensável à vida humana, para simplesmente massagear o ego de governantes que se lançam em aventuras incompatíveis com a grave crise econômica que atravessa o país, que jogam dinheiro público pela janela e que não privilegiam investimentos em causas prioritárias.

A vida dos brasileiros não está nada fácil e, com o advento da Olimpíada "RIO 2016", todos os itens acima mencionados, necessários, de fato, na vida das pessoas, serão colocados de lado, enquanto rios de dinheiro público serão desviados para a construção de uma cidade poliesportiva, que, futuramente, servirá apenas como inspiração à indignação da sociedade, pois os elefantes brancos de nada servirão aos pobres que nada têm e nada podem perante um poder público que, por anos e anos, nunca os enxergou nas filas quilométricas do transporte urbano caótico, nos corredores dos hospitais lotados, nas salas de aula de carteiras quebradas e professores desmotivados, nas estradas esburacadas e motivadoras de acidentes violentos.

A festa olímpica está se aproximando, posto que faltam apenas quatro meses para que a “mágica” transforme o Rio das balas perdidas no Rio das maravilhas, e a cidade se converta em um paraíso de pessoas educadas, praias limpas, lagoas despoluídas, hotéis amplos e modernos, transporte rápido e seguro, aeroportos com serviço ágil e cortês, táxis com motoristas bem vestidos e inglês fluente, ruas e avenidas com placas indicativas bem à vista, policiais prestativos e postados de cinco em cinco metros, centenas de voluntários sorridentes e um sentimento de alegria no ar. Será? Pensar assim seria sonhar? Uma “mágica” possível? Uma realização de bons exemplos na cidade maravilhosa? Tomara, e que o espírito de boa gente tome conta das pessoas, para que nem tudo esteja perdido.   

Não importa se existe um ou mais culpados pelos gastos enormes de dinheiro público, mas ressalte-se que, todos os que querem a festa olímpica, embora falte patrocínio para os atletas, devem se preparar para cobrar a transparência dos gastos públicos, a prestação de contas das licitações e dos investimentos e o respeito ao bem público que poderá, quem sabe, ser útil às gerações futuras de atletas do Brasil e não somente do Rio de Janeiro.

Repita-se que, sem pessimismo, a expectativa é de que a festa olímpica seja pacífica e alegre, em todos os sentidos, com grandes destaques para os atletas que sempre se entregam a uma performance elogiável, defendendo as cores de seus países, muitos dos quais peritos em ganhar medalhas em todas as modalidades esportivas.

O grito eufórico da torcida é pela paz e pelo triunfo das Olimpíadas. No entanto, não cabe bater palmas para aventuras milionárias com desperdício de dinheiro público, quando a sociedade tem necessidades muito mais urgentes a serem supridas pelo governo brasileiro, que erra e erra feio na gestão.

E que fique a lição no sentido de que melhor seria ajudar o povo nas suas dificuldades mais prementes, antes de partir para demandas tão dispendiosas, ainda que a intenção seja boa, mas os gestores são ruins, como se presencia por meio de gastos e despesas bilionárias, cujo dinheiro fará falta em um futuro bem próximo, uma vez que a crise promete ir longe, com sacrifícios ainda maiores da população brasileira.

Wilson Campos (Advogado/Especialista em Direito Tributário, Trabalhista e Ambiental).


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