CRÍTICA À CLASSE MÉDIA - "A declaração do ministro".



     
      
No Brasil, a classe média tem carga tributária de Primeiro Mundo e contrapartida de serviços públicos de Terceiro, valendo notar que 70% dos tributos são sobre consumo, 25% sobre renda e somente 5% sobre o patrimônio. Ou seja, isso provoca uma distribuição de renda ao contrário, punindo mais severamente os contribuintes da classe média e beneficiando os ricos. Equivale a dizer que a classe média é a que mais paga impostos no país, exatamente porque é fortemente taxada pela Receita Federal, por estar na faixa dos que pagam 27,5% de Imposto de Renda numa tabela defasada e que causa graves distorções.

No entanto, apesar desse despautério tributário em cima da classe média, eis que surge o ministro extraordinário da Segurança Pública, Raul Jungmann, fazendo críticas ao comportamento da classe média, que, segundo ele, apesar de reclamar da insegurança, é usuária de drogas que financiam o crime. A imprensa nacional repercutiu a extensa fala do ministro, que ele arremata dizendo: “A frouxidão de valores leva às drogas pessoas de classe média, às quais nada falta, aqueles que têm recursos”.

As declarações de Jungmann, na forma generalizada como foram feitas e divulgadas pela imprensa, transformaram-se em injúria contra a classe média, justamente a que paga mais caro para viver nesse país. No entanto, se esquece o ministro de que o governo federal sempre foi o vilão da segurança pública, porque nunca impediu que armas e drogas chegassem aos Estados.

O discurso do ministro reforça a estigmatização do usuário de drogas, como se ele fosse culpado por todo o processo de criminalidade, e ainda por cima esculhamba a classe média. Mas, na verdade, o que o ministro e demais membros do governo federal querem é evitar a discussão de um sistema de corrupção colossal, que permite que as drogas circulem pelo território nacional.

A violência transcende o traficante e o usuário. O ministro tira a responsabilidade do Estado nesse contexto, isenta as políticas públicas, e sua abordagem simplista acaba por colocar a culpa na classe média.

O problema do tráfico é gravíssimo, o do uso de drogas também. Mas culpar a classe média, em discurso nacional, de financiar o tráfico é passar da medida e mostrar desconhecimento dos hiatos sociais, mormente se a responsabilidade de cuidar e proteger é do Estado, e não do cidadão comum.

Ora, senhor ministro, data venia, eu pertenço a essa tal de classe média, mas nunca fiz uso de quaisquer tipos de drogas nem sequer conheço tais produtos. Em minha família não perdemos tempo com fantasias alucinógenas, porque temos elevado apreço à qualidade de vida, ao bem-estar, ao raciocínio limpo, à saúde, aos estudos, ao trabalho, à produtividade e à legalidade dos atos. Portanto, senhor ministro, seu erro foi maior que sua falta de conhecimento da importância da classe média para o país. Melhor seria o senhor se retratar e pedir desculpas à classe média brasileira, impreterivelmente.

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Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB-MG/Especialista em Direito Tributário, Trabalhista e Ambiental).

(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de segunda-feira, 12 de março de 2018, pág. 15).


Comentários

  1. Sem dúvida que esse ministro falou demais, como todos os ministros do Temer, que se acham no direito de se colocar acima de todos. Puro engano, porque o país sabe muito bem separar o certo do errado. A classe média é entre toas a melhor parte da sociedade, porque paga mais impostos, porque trabalha mais, porque contribui mais socialmente, porque tem voz ativa e sempre coerente e porque representa a fatia mais representativa da população. acusar a classe média como o ministro fez é irresponsabilidade e ignorância, como acertadamente afiançou o Dr. Wilson Campos. Ao ministro só resta pedir desculpas pelo erro grosseiro, no mínimo, porque, afinal, quem paga o salário dele é a classe média, a que mais paga para viver nesse país. Simion G Filgueiras Jr.

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  2. O senhor ministro não sabe que existem classes de A a D no Brasil? Não sabe? Precisa voltar para a escola. Os ricos e milionários não consomem drogas? Alguns políticos não consomem drogas? Então todos estes são responsáveis pelo tráfico de drogas, porque compram e financiam. Viu sr. ministro? Nunca é tarde para o senhor aprender mais sobre classes sociais. A classe média é a que mais sofre com carga tributária desse país. Paga caro e ainda tem de aguentar essa conversa sem pé nem cabeça do ministro novato de segurança pública. Vamos reagir a essa afronta. Valeu Dr. Wilson Campos pelo artigo e pela defesa da classe média tão tributada e tão sacrificada nesse Brasil de meu Deus. Simone M. A. R. Souza.

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