O RONCO DA MOTOSSERRA



 
Independentemente dos motivos alegados pela prefeitura, se por idade, ataque de pragas, falta de cuidados ou agressões gratuitas ao meio urbano, as árvores de Belo Horizonte estão sendo podadas e suprimidas sem o necessário mapeamento das espécies em risco de queda e sem o indispensável planejamento de replantio compensatório. O ronco da motosserra sobrepõe-se ao bom senso, e a paisagem fica comprometida, enterrando cada vez mais fundo a esperança de recriar a “Cidade Jardim” de outrora.

Por certo que as árvores devem merecer atenção dos órgãos municipais competentes, seja pela precaução ou prevenção de acidentes nas vias urbanas. No entanto, isso não justifica a supressão em série praticada pela prefeitura, que, segundo dados divulgados, fez intervenções nas nove regionais, com 2.685 cortes e 14.124 podas. Ou seja, a rapidez no uso da motosserra não se compara nem guarda isonomia com o lento e malplanejado plantio de novas mudas apropriadas para cada local no espaço urbano.

Depois do incidente ocorrido em abril passado na capital, no bairro Lourdes, em que uma árvore de grande porte tombou e atingiu um poste, arrastando um transformador e provocando um incêndio que causou enorme susto na população, explosão e consequente destruição de nove carros, a prefeitura decidiu que 7.154 pedidos pendentes de poda e supressão seriam agilizados. A determinação municipal, entretanto, não inibiu a Cemig de continuar podando sem critério as árvores que “atrapalham” sua fiação aérea, tão em desuso no mundo globalizado, porquanto já tenha passado da hora de toda a fiação ser subterrânea, eliminando riscos e danos desnecessários à comunidade. 

Há de se reconhecer que algumas velhas árvores, previamente condenadas, precisam ser suprimidas. Mas o replantio deve ser ao mesmo tempo e modo, e quiçá em número bem maior, como medida de mitigação. Por outro lado, o ronco da motosserra precisa parar, posto que incomoda terrivelmente os moradores, em todos os sentidos, e notadamente no caso da supressão e da poda predatória generalizada, em detrimento das árvores, que atuam como filtros naturais de poluentes e melhoram a qualidade do ar. Elas proporcionam sombra e diminuem a temperatura do ambiente, garantem a permeabilidade do solo e recarregam o lençol freático, produzem oxigênio, reduzem a poluição sonora e embelezam a cidade.

Enfim, a administração municipal carece de atitudes mais pensadas, ao contrário das ações a toque de caixa, sempre danosas à qualidade de vida dos belo-horizontinos. Basta andar pela cidade para tropeçar em lixo espalhado por todos os cantos, deparar-se com montes de entulho, pisar em buracos nas calçadas, enfrentar ruas escuras e mal- iluminadas e agora, de forma resiliente, ter de suportar o ronco das motosserras, que operam de imediato a ordem do extermínio, mas que tardam na ordem do replantio e arborização.   

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG). 

(Este artigo mereceu publicação no jornal O TEMPO, edição de domingo, 1 de julho de 2018, pág. 17).




Comentários

  1. Realmente a poda de árvores precisa ter um critério e também o corte, porque se acabar com muitas vai demorar para crescerem as que forem plantadas . E até lá o sol castiga, o ar fica péssimo e o povo que aguente a poluição e a secura. O artigo do Dr. Wilson Campos é a verdade do que acontece em Belô. Vamos melhorar meu povo. Vamos ter mais consciência. Daniel e Luiza D'Alcântara O.P.

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