MANTENHA O DISTANCIAMENTO DE "POLÍTICOS BISSEXTOS".

 

Em Belo Horizonte, os eleitores já sabem que muitos políticos só aparecem por ocasião da campanha eleitoral e do pedido de voto. Depois disso, eles somem e tão somente reaparecem quatro anos depois. Os responsáveis por esse fenômeno, fruto de puro oportunismo, são chamados de "políticos bissextos".

 

A desfaçatez utilizada por esses políticos é deplorável e não pode passar em branco, tornando-se inadmissível que um candidato surja pedindo votos e, depois de eleito, desapareça, irresponsavelmente, sem dar o retorno esperado pela sociedade. Os compromissos assumidos não são efetivados, e o eleitor se sente enganado.

 

As mazelas sociais das comunidades acontecem no decorrer de quatro anos, de forma ininterrupta, enquanto os eleitos se escondem nos seus gabinetes, distantes dos problemas e do socorro necessário aos seus eleitores. A negligência em nenhum momento constrange os políticos bissextos, que, na maior cara de pau, ressurgem das cinzas somente nas eleições seguintes, com sorrisos largos, dando tapinhas nas costas do cidadão e pedindo novo apoio para a reeleição.

 

Os políticos bissextos não podem ser confundidos com aqueles candidatos comprometidos com os interesses da cidade, que entram na política defendendo ideias e projetos e fazem campanhas simples, sem holofotes, sem promessas e sem barganhas. Nesse sentido, o eleitor precisa separar o joio do trigo e manter o distanciamento de políticos bissextos, que desservem a coletividade, fragilizam o processo democrático e dificultam a escolha livre e consciente, à custa de práticas condenáveis.

 

Pobre da nação cujas políticas públicas dependem de demagogos. Pobre do povo brasileiro, que tem de suportar políticos bissextos, que aparecem de quatro em quatro anos. Pobre do belo-horizontino, que vota em candidato sem educação, que dá murro na mesa e fala palavrão. Pobre do eleitor que elege ou reelege político autoritário, tirano e incapaz de ouvir os reclamos do cidadão.

 

Lamentavelmente, temos ainda uma parcela da sociedade que vota em candidatos ficha-suja; outra que vota por ideologia e simpatia ao partido; outra que vota em troca de favor, cesta básica ou material de construção; e outra que vota em candidatos mesmo sabendo que eles estão sendo investigados por crimes de peculato, concussão, improbidade, corrupção ou prevaricação. Isso precisa acabar.

 

Nas próximas eleições, que estão chegando, não vote em políticos mentirosos, que prometem e não cumprem. Não vote em candidatos duvidosos, fichas-sujas e que pensam somente nos seus interesses pessoais. Não vote nos políticos bissextos, que só reaparecem de quatro em quatro anos para colher seu apoio. Não vote em políticos ou candidatos prepotentes, arrogantes e que se achem donos da verdade. Não vote em políticos preguiçosos, fanfarrões e que fujam de debates.

 

Mas vote com coragem e determinação, de forma que possamos ter uma sociedade ética e mais humana, no bojo do Estado democrático de direito e nos termos da Constituição.  

 

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB-MG/Delegado de Prerrogativas da OAB-MG).

 

(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de quinta-feira, 29 de outubro de 2020, pág. 25).

 

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