PREÇOS DISPARAM E CUSTO DE VIDA PROVOCA INCERTEZAS.

Quem vai ao supermercado, ao açougue e ao sacolão, ou paga aluguel, sabe muito bem como andam os aumentos de preços, que pesam no bolso e retiram parte da qualidade de vida, uma vez que o poder de compra diminui na medida em que os preços sobem e o salário não acompanha. A justificativa técnica mais propalada para a elevação do custo de vida é a pandemia da Covid-19. Será que é só isso?


Torna-se aceitável a argumentação de que a doença invisível provocou o crescimento da demanda mundial por alimentos. Mas daí aceitar a disparada de preços em todos os produtos da cesta básica, justamente no momento em que muitas famílias estão fragilizadas pela perda de entes queridos, vítimas do coronavírus, outras enfrentando o desemprego e tantas mais ainda esquecidas e vivendo à margem da sempre suscitada inclusão social, vai uma distância muito grande.


O aumento injustificado das tarifas públicas e das contas mensais de água, luz, telefone, internet, aluguel, combustível, entre outras, também impacta a vida do trabalhador, que, por sua vez, assombrado com o vírus, com a inflação subindo e com tamanha incerteza futura, acaba por adoecer, e aí surgem mais despesas com remédios, além do estresse e da tristeza só de pensar em precisar do desestruturado e fragilizado sistema de saúde. O trabalhador passa a ser a bola da vez, pois, além da elevação dos preços de produtos e serviços ele vai ter de enfrentar o adoecimento, a paralisação das atividades laborais e o fato de ter menos dinheiro no final do mês.  


Os preços de produtos e serviços sobem, mas a vida não tem preço e precisa ser preservada em quaisquer situações e condições, por mais adversas que sejam. A vida humana vale mais do que se pode imaginar, principalmente no campo dos valores, das atitudes, das condutas e da capacidade de atuar em prol da superação das dificuldades individuais e coletivas. Não tem como simplesmente agregar valor econômico à vida humana sem considerá-la sã e salva, haja vista a sua dimensão no seio da sociedade e, notadamente, no seio da família. 


Essa volta no assunto foi apenas para mostrar que os governos federal, estadual e municipal, juntos com os empresários e empreendedores e a sociedade organizada como um todo precisam arregaçar as mangas e colocar o ser humano acima das questões econômicas. Primeiro a vida, depois o equilíbrio da balança financeira. Caso contrário, o pânico tomará o lugar da sensatez e a emoção superará a razão e, água morro abaixo e fogo morro acima, quando começam, ninguém segura.


Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação fechou o ano de 2020 em 4,52%. O percentual reflete o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA. Mesmo abaixo do teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para o ano, que era de 5,5%, o indicador foi o maior desde 2016, quando ficou em 6,29%. Um dos principais impactos para os consumidores em 2020 foi a elevação de 14,09% nos preços de alimentos e bebidas, a maior expansão desde 2002.  


Ao meu sentir, a pesquisa do IBGE deixa a desejar, uma vez que a alta de preços nas prateleiras dos supermercados está bem acima do divulgado na mídia. Muitos produtos tiveram aumento de preços acima de 100%, o que representa um abuso por parte de produtores, atravessadores e revendedores. Ou seja, o produto quando chega à mesa do consumidor já está com a pesada carga tributária embutida e, para piorar, sobrecarregado pelas salgadas margens de lucros de atravessadores, que não produzem nem revendem, mas ganham dinheiro intermediando negócios.


Por outro lado, está certo o IBGE quando reconhece a disparada nos preços de vários itens, como óleo de soja, que fechou o ano em média 103,79% mais caro, e o arroz, que teve aumento de 76,01% em 2020. Outros itens importantes na cesta das famílias também subiram expressivamente, entre eles, o leite longa vida (26,93%), frutas (25,40%), carnes (17,97%), batata-inglesa (67,27%) e tomate (52,76%).  


O sinal de alerta está ligado. Este ano de 2021 não será nada fácil para a população. A pandemia vai continuar a infernizar a vida das pessoas e a influenciar negativamente na economia do país. O cenário é de preocupação, e atitudes enérgicas deverão ser tomadas pelo governo quanto ao controle da inflação.


Neste início de ano, as muitas contas a pagar, como IPVA, IPTU e até mesmo material escolar (as escolas não poderão ficar fechadas ad aeternum, ainda mais depois da chegada da vacina, que não deve demorar muito mais), sem grandes perspectivas financeiras no geral, tornam o consumidor brasileiro mais pessimista. No entanto, o desânimo e o desespero não levam a uma solução do problema e a situação tem de ser enfrentada, com pandemia ou sem pandemia, de forma que os empregos sejam garantidos e novas vagas sejam disponibilizadas pelo mercado, sendo necessário, para tanto, o comprometimento da sociedade, do empreendedorismo e do governo, principalmente.


Cabe ao consumidor gastar sola de sapato e comparar os preços antes de comprar, sejam alimentos, frutas, verduras, carnes, roupas, remédios ou quaisquer itens da cesta da família. O que vale é pesquisar preços, anotar na ponta do lápis a receita e as despesas, e cuidar para que o orçamento não estoure, evitando ultrapassar o limite do cartão de crédito ou usar empréstimos bancários. A hora é de controle de gastos por parte do consumidor, mas também do governo, que precisa cortar fundo nas mordomias e nos penduricalhos das autoridades públicas, sem exceção.


Não tem como negar que a chegada da Covid-19 no Brasil, na segunda quinzena de março/2020, obrigou a população a medidas de distanciamento social que mudaram os hábitos de todos, com destaque para o fato de que as pessoas passaram a fazer grande parte das refeições em casa. Com isso, novos fatos surgiram e a correria aos supermercados para reforçar a despensa foi um deles, provocando um aumento de preços rápido em itens da cesta básica.


O aumento de preços dos alimentos foi de A a Z, tornando-os os vilões do momento, mas isso não implica afirmar que são os únicos culpados pela inflação. A desvalorização cambial também causou efeitos nocivos para a inflação, sobretudo por causa do efeito nas commodities. Com a desvalorização do real (a nossa moeda foi a que mais perdeu valor em relação ao dólar), o Brasil se tornou mais competitivo no exterior e a China, sempre ela, passou a comprar mais produtos daqui, principalmente carnes (bovina, suína e de aves).


O aumento das exportações de carnes, se por um lado foi bom para a balança comercial, por outro foi um desafio a mais para a inflação, porque o preço dessas proteínas subiu muito e continua subindo até agora. A saída para o consumidor é comparar preços e comprar de acordo com o seu bolso - se não dá para levar filé mignon, satisfaça-se com miolo de alcatra; se não dá para levar carne de primeira, contente-se com carne de segunda. O importante é não endividar e ficar refém de bancos.


Especialistas destacam que, outro detalhe relevante é a elevação do preço de commodities, que também pesou na balança. No entendimento deles, a valorização em dólar de soja e milho aumentou os custos da produção e da criação de animais no país, pressionando o valor cobrado do consumidor final. Os preços de derivados desses produtos, como o óleo de soja, também dispararam. Ou seja, quase nada escapa à fúria da disparada dos preços e o custo de vida provoca incertezas.


Não bastasse tudo isso, com o passar dos meses, a pressão inflacionária chegou a outros produtos, como, por exemplo, bens duráveis. Alguns setores, como os da construção civil e da indústria, chegaram a sofrer com falta de insumos além do aumento de preços. Agora, a precaução e a prevenção da população devem ser quanto à mensalidade escolar, ao plano de saúde e às tarifas públicas, como água, luz e transporte coletivo, que, por certo, terão reajustes no decorrer de 2021. Isso, sem contar o desembolso já e imediato para IPVA, IPTU e outras despesas correlatas de todo início de ano. 

 

Antes de encerrar, cumpre aqui destacar o excelente trabalho dos produtores rurais que possibilitam comida na mesa. Não é fácil administrar um negócio ou um agronegócio com mão de obra precária. Hoje em dia ninguém quer trabalhar na zona rural. As pessoas querem morar na cidade grande, ter um celular nas mãos e mexer o dia inteiro no aparelho e visitar as centenas de redes sociais. Trabalhar duro na roça? Nem pensar! Daí a robotização, a troca do homem pela máquina. Mas não termina aí o sofrimento dos produtores rurais, pois, têm ainda os impostos, os encargos sociais, as taxas, os contratos, os juros de bancos, a manutenção das máquinas, o combustível, a energia elétrica, etc. Empreender no agronegócio, plantar e colher e colocar alimento no prato do brasileiro é tarefa para corajosos, mas graças a Deus temos muitos.   


Enfim, ninguém tem bola de cristal para prever o que ainda está por vir. Resta trabalhar pelo combate à pandemia, pela chegada da vacina, pela redução dos preços dos alimentos e de todos os demais produtos e serviços, e pelo controle rígido da inflação.


Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB-MG/Delegado de Prerrogativas da OAB-MG). 

 

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Comentários

  1. O artigo diz tudo e completando eu apenas comento a falta de humildade dos governantes que superfaturam os materiais de combate da pandemia, o que também encarece o custo de vida, porque o dinheiro não cai do céu, mas sai do bolso do povo. Gostei do artigo e concordo, como sempre pela qualidade do artigo pela pessoa competente do autor Dr. Wilson Campos. Até. Evandro Portugal.

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  2. Meu prezado Dr. Wilson Campos eu sou produtora rural e faço parte do que chamam de "explosão do agronegócio". Mas acontece que tudo isso custa caro e cada vez mais tem gente de menos para trabalhar e temos de robotizar e colocar máquinas nos campos se quisermos produzir e fornecer alimentos para o Brasil e para o mundo. O povo não quer trabalhar na "roça". Todo mundo quer morar na cidade e ter um celular o dia inteiro na mão e mexe daqui e mexe dali e nada de prestar atenção no trabalho, e ainda tem a lei trabalhista e tem os impostos e tem os juros de bancos e tem a manutenção das máquinas e tem os contratos e tem ... muita coisa para pagar todo mês. Concordo com o senhor que tem atravessador ganhando mais do que o produtor e com isso encarecendo os produtos. Isso tem e muito. Gente que não faz nada e intervém no meio do caminho e ganha dinheiro de um lado e de outro. Uma vergonha isso. Se fosse direto do produtor para o revendedor (direto da fazenda para o supermercado) (direto da indústria para o lojista). Os preços seriam outros, mas nem todos conseguem isso. E há sempre alguém atravessando e ganhando uma fatia do bolo. Os impostos também estão muito altos e os encargos também. Quando o governo cortar na carga tributária as coisas vão melhorar bastante. E como o senhor disse o governo precisa cortar nas mordomias e nos tais penduricalhos. Aí as coisas vão melhorar para todos nós. Quem sabe isso acontece um dia? O PT ficou 16 anos e não conseguiu. Quem sabe o Bolsonaro consegue? Vamos pagar pra ver. Aviso ao senhor que os preços vão diminuir depois do fim da pandemia e do governo começar as reformas urgentes necesssárias para nós produtores e para todos os brasileiros e brasileiras - com ordem e progresso. Abrs. daJasmira Albuquerque.

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