A ÉTICA DO JUIZ E O EQUILÍBRIO DA BALANÇA DA JUSTIÇA.
O jurista Miguel Reale (1910-2006), em estudo dedicado à ética do juiz, reconhece que a decisão não pode ser reduzida a simples juízo lógico, pois traz em si um elemento valorativo: a participação do julgador na vida de outros, os jurisdicionados, cujas pretensões a sentença substituirá. Mas adverte que a jurisdição “iuris dicere” não é propriamente “dizer o direito”, mas declarar o que é “de direito”.
Reale explica ainda que, embora a atuação do juiz deva ser ética e prudencial, atenta às circunstâncias do caso, jamais pode abandonar o ordenamento jurídico vigente, pois, se o fizesse, adentraria a perigosa via do arbítrio, incompatível com a segurança e a previsibilidade que o Estado de direito busca assegurar.
Passados 19 anos da perda irreparável do ilustre advogado, jurista e professor, o Brasil se depara com decisões que escapam à legalidade e abandonam os critérios jurídicos para impor preferências de ordem política, não podendo se pretender democráticas e justas.
Resta sabido que só há processo justo quando se interpreta e se aplica adequadamente a norma utilizada como critério de decisão, não se admitindo justa uma decisão que afronta o direito e viola o princípio da legalidade.
Independentemente de nomes e funções nos dias atuais, a lição jurídica é no sentido de que a Justiça deve ser imparcial, equilibrada e equitativa. Não podem os aplicadores da lei usar ao seu alvedrio o sistema legal, uma vez que devem agir como intérpretes da norma, sem favoritismo ou preconceito, tratando de forma igual as partes envolvidas em um processo. As incoerências e a insegurança jurídica precisam acabar. A balança da Justiça não pode pender para os lados, e urge que o aplicador da lei assuma postura responsável diante das suas decisões.
A balança da Justiça simboliza o equilíbrio que deve prevalecer em um julgamento, sem que um lado seja mais “pesado” que o outro devido a fatores externos; e representa a necessidade de ponderar com equidade e cuidado os dois lados de uma disputa. E, nesse sentido, os dois pratos da balança indicam que todas as partes devem ser ouvidas antes de qualquer veredicto, reforçando o princípio da ampla defesa e do contraditório.
Mas o que acontece quando a balança pende para um lado?
Quando a balança da Justiça pende para um lado, o ideal de imparcialidade não foi alcançado, resultando em decisão injusta, justiça seletiva e perda de confiança da sociedade. Decisão injusta em razão de um julgamento que não se baseia na análise objetiva da situação, mas em preferências, interesses ou preconceitos, levando a um resultado que favorece indevidamente uma das partes. Justiça seletiva quando a lei não é aplicada de forma igual a todos, punindo uns e beneficiando outros de maneira injustificada. E perda de confiança da sociedade quando se percebe que a balança está desequilibrada e a fé no sistema jurídico e na justiça como um todo é abalada.
Wilson Campos (Advogado/Especialista com atuação nas áreas de Direito Tributário, Trabalhista, Cível e Ambiental/ Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG, de 2013 a 2021/Delegado de Prerrogativas da OAB/MG, de 2019 a 2021).
(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de quinta-feira, 18 de dezembro de 2025, pág. 21. Coluna de Wilson Campos).
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Meu caro e dileto colega dr. Wilson Campos, como sempre seus artigos são primorosos e desta vez superou minha expectativa abarcando dois temas tão importantes - a ética do juiz e a balança da Justiça. O tema é muito atual e o que mais estamos vendo ultimamente são decisões absurda de juízes e uma balança totalmente desequilibrada. A CF está sendo varrida para debaixo do tapete e ninguém faz nada. O Congresso é fraco e os 3 poderes juntos são o que há de mais desarmônico no país. A balança não pode pender para um dos lados e a insegurança jurídica precisa ser abolida, banida, extinta da vida brasileira. Parabéns amigo. Abraço cordial. Frederico L.F. G. (advogado, consultor jurídico e professor).
ResponderExcluirO dia que os freios e contrapesos voltarem a funcionar no Brasil pode ser que a Justiça funcione de fato, mas enquanto tiver essa bagunça de queda de braços e falta de limites nos 3 poderes, eu não acredito em Estado de direito e muito menos em justiça. O Brasil está num caminho difícil de encontrar o bom senso e o equilíbrio. Concordo 100% com o artigo do dr. Wilson Campos advogado. Concordo e dou aval às palavras bem colocadas. Att: Helenice Miranda (doutoranda em Direito Econômico).
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