AS CHUVAS SÃO INOCENTES



 
Alguns milímetros de chuva são suficientes para parar a cidade e colocar medo nos moradores. As obras não são realizadas, prioritariamente, para a prevenção das enchentes. A impermeabilização do solo e a degradação ambiental contribuem fortemente para esse tipo de catástrofe urbana, mas as pessoas parecem ignorar esse fator.

Ao prenúncio de forte chuva, o que mais se vê são cidadãos desesperados pelas possíveis inundações e desmoronamentos, que proporcionam tristeza e comoção, tamanhas as tragédias impingidas, mas que seriam perfeitamente evitáveis se houvesse, de fato, vontade política e zelo especial com a população por parte do poder público.

Não bastassem os estragos do período chuvoso anunciado, que não contou com serviços de precaução ou prevenção, restam ainda os trabalhos de estabilização das encostas para serem executados e as centenas de edificações e viadutos antigos que requerem vistorias urgentes. A cidade continua um caos. O trânsito e todo o resto da mobilidade urbana travam e dão um nó. Os problemas se acumulam. Faltam limpeza pública e educação da população, que não pode transformar a cidade numa lata de lixo. Faltam previsão e obrigatoriedade de maiores espaços permeáveis e vegetados. Falta ação enérgica de prevenção de enchentes e inundações, com a adoção de medidas urgentes e indispensáveis. Chega de culpar as chuvas. As chuvas são inocentes. 

O mais triste é olhar para trás e ver o mesmo panorama negativo de hoje, impunemente. Na tarde de sábado, 30 de dezembro de 2017, o temporal causou alagamento de ruas, inundação de casas, queda de árvores e desabamento de muros, além de deixar pelo caminho pessoas ilhadas e carros amontoados. A chuva, esperada e, portanto, previsível, deixou um rastro de destruição. O transbordamento do ribeirão Arrudas trouxe pânico aos moradores da Região Oeste. Em alguns pontos, a correnteza ultrapassou a calha do ribeirão. A inundação levou ao fechamento de vias. Os alagamentos se espalharam pelos bairros Lagoinha, Pampulha, Bandeirantes 2, Santa Terezinha, Venda Nova, Barreiro e das Indústrias.

O ano de 2018 não foi muito diferente dos anteriores, com chuvas torrenciais castigando a cidade e assustando pedestres, motoristas, lojistas e famílias inteiras, que revivem dolorosamente episódios que causam danos materiais e tiram vidas. O Corpo de Bombeiros confirmou, na tarde da última sexta-feira, que quatro pessoas morreram em decorrência do forte temporal na noite anterior, em Belo Horizonte. Vários comerciantes amargaram perdas substanciais. Muitas residências foram invadidas por lixo, barro e sujeira de toda espécie. E, mais uma vez, as regiões Pampulha e Venda Nova foram as mais atingidas.

Há vários anos, essas notícias se repetem, e o poder público não adota medidas severas e eficazes. As providências tomadas até agora se mostraram paliativas e insuficientes.

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).

(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de sábado, 24 de novembro de 2018, pág. 21).


Comentários

  1. Geraldo Magela S. F. Sobrinho26 de novembro de 2018 às 16:31

    O poder público, a prefeitura de BH, como muito bem falado pelo doutor Wilson Campos, é obrigada a cuidar dessas situações de perigo. Eu acho que uma cidade desse tamanho abandonada, sem fiscalização e sem vistorias antes das chuvas é um absurdo e um desrespeito com as pessoas que pagam impostos e têm que sofrer prejuízos ainda por irresponsabilidade de prefeito e outros da PBH . Estão cegos ou não querem ver? Sou morador da capital e pago impostos. Sou ...Geraldo Magela S.

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