REFORMA TRIBUTÁRIA, SEM BUROCRACIA.
Parece que
uma forma
simplificada e transparente de arrecadação nunca foi objeto de discussão dos
governantes. A dificuldade criada com a geração de muitos impostos provoca o
descontrole, agravado pela falta de identificação na aplicação dos respectivos
tributos. Um grande número de impostos e taxas criados sem critério só serve de
imbróglio, principalmente para ofuscar a visibilidade de seus destinos.
A
extensa tributação existente é uma verdadeira caixa preta, cuja real destinação
não é revelada. Se o argumento é o de seguir uma destinação legalmente
definida, basta que assim seja feito. Se para simplificar a forma de tributar tem
de nominar o imposto de ICMS, IPI, IRPF, IRPJ ou outra nominação qualquer, que
seja feito, mas que o seu real destino seja respeitado, com o dinheiro valorado,
pois não carregará consigo o alto custo atual do sistema de arrecadação. O que
não pode acontecer é imputar aos cidadãos, empresários ou não, de condições sociais
diferentes, carga tributária idêntica, penalizando o de menor poder econômico.
O
que mais incomoda o setor empresarial e os demais contribuintes é a quantidade absurda de mudanças na legislação
tributária, com suas intermináveis normas, regulamentos, atos, decretos
e leis especiais.
O Código Tributário Nacional precisa de reforma. A
Constituição Federal, por sua vez, na parte que trata do Sistema Tributário
Nacional, do artigo 145 ao 162, fazendo citação abrangente sobre os muitos
impostos, taxas e contribuições, da mesma forma, precisa de mudança e de clareza
para uma sistemática desburocratização.
Um exemplo desse impasse é a preocupação
demonstrada pelos clientes do nosso escritório, que não se conformam com a enxurrada
de tributos, cujas mudanças na legislação tributária apenas serão
possíveis mediante uma barragem bem projetada por uma ampla e
moderna reforma tributária, sem burocracia. Ou seja, o grande e excessivo
número de tributos precisa ser contido por meio de ampla reforma e corte de
burocracia.
Outro exemplo é o fato de que está cada dia mais
difícil honrar um planejamento tributário que seja criterioso e duradouro
dentro de uma empresa, visto que a legislação fiscal e tributária neste país
muda ao simples sopro do vento, como que a testar a paciência do contribuinte
todos os dias, todos os meses e durante todo o ano. Isso não quer dizer que
seja impossível a realização do planejamento tributário, mas se torna difícil, embora
realizável com competência e gigantesco esforço profissional de um bom e
dedicado advogado.
A causa dessa anormalidade, que age como um
furacão, levando ao desespero muitos contabilistas, que se socorrem nos
advogados especialistas em Direito Tributário, nada mais é do que o caos gerado
pelas centenas de normas tributárias editadas mensalmente. O advogado
tributarista, por mais que ele leia e interprete as normas e as legislações
especiais, sejam elas relativas a IR, PIS, COFINS, CIDE, IPI, ICMS, ISSQN,
SIMPLES ou CSLL, fica a dever para si mesmo o conhecimento total e absoluto destas
questões, apenas pelo fato de que elas mudam diariamente, de uma ou de outra
forma, atingindo este ou aquele tributo.
Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento
Tributário (IBPT), nos últimos 20 anos foram editadas mais de 200.000 normas
tributárias no Brasil, o que equivale a mais de 10.000 normas por ano,
aproximadamente 30 normas por dia ou 1,25 norma tributária por hora. E isso,
utilizando números redondos, porque em se fazendo com apego às unidades quebradas,
chegar-se-ia a um número muito maior, o que torna o assunto ainda mais
dramático.
Como essas proliferações de normas tributárias, por
óbvio, são de origem federal (maioria), estadual e municipal, cujo alvo é o
contribuinte e que por tabela leva consigo o contador e o advogado
tributarista, a única luz que pode clarear os caminhos e facilitar o
percurso é uma urgente reforma tributária, sem burocracia, mas de forma a
simplificar as obrigações e possibilitar uma execução mais dinâmica, sem,
contudo, deixar de permitir que o contribuinte respire.
A complexidade dos tributos é destacadamente a
maior vilã da organização e do planejamento tributário. As mudanças são
radicais e rápidas, sem a concessão de tempo suficiente para se absorver a
finalidade e entender o que é exigido do contribuinte, que de pronto já
passa a acatar a nova norma que lhe é imposta, sem mais nem menos, mas
simplesmente porque este é o desejo dos poderes públicos ciosos por
arrecadação a qualquer preço.
A avalanche de obrigações impingida pelo fisco incomoda
muita gente, de vários setores, de muitos segmentos e sem distinção de poder
econômico, pois a imposição de seguidas mudanças nas legislações municipal,
estadual e federal não escolhe tamanho, e é distribuída a grandes e
pequenos. De sorte que a aplicação imediata exigida para a norma imposta
consome tempo, investimento, pessoal e carece de aprimoramento de leitura do
que se pretende com tudo isso. Ou seja, o contribuinte precisa ler, interpretar
e entender o significado da nova norma, e chegar à conclusão de que ao governo
interessa apenas arrecadar, desesperadamente, arremessando mais ao fundo do
poço o coitado do contribuinte, já há muito desesperado.
O governo precisa arrecadar. É fato. O contribuinte
precisa faturar para pagar os tributos. Fato evidente. Portanto, ambos precisam
se sentar à mesa e acabar com essa farra de normas tributárias, exaustivamente
burocráticas, que enlouquecem a iniciativa privada e a todos.
Enquanto a reforma tributária verdadeira e
definitiva não vem, o contribuinte precisa contar com a assessoria do advogado
tributarista, para conviver com tantas normas e obrigações tributárias, que
precisam de acompanhamento, regular e responsavelmente.
Data venia, o governo que vive 24 horas do dia a pensar novas formas de penalizar o
contribuinte é o mesmo que ameaça com pesadas multas aquele que não se adequa,
chegando estas até a 75% do tributo não recolhido aos cofres públicos. Então, a
máxima: "se correr o bicho pega e se ficar o bicho come". O bicho governo
é rápido quando se trata de arrecadar, mas quando é para pagar ou devolver ao
contribuinte, a demora é longa e cansativa.
A tensão em torno da reforma tributária é visível.
O governo não pensa em ceder muito e o contribuinte precisa da redução de
impostos, sem burocracia. A mente do poder arrecadador, que, via de regra, por
qualquer erro ou entendimento equivocado do contribuinte sapeca-lhe uma autuação
tributária ou escorchantes multas, mesmo que por descumprimento involuntário
deste ou daquele tributo ou desta e daquela obrigação acessória, precisa evoluir
e viabilizar uma forma urgente de acabar com tantos impostos.
A ideia
megalomaníaca de grandeza faz com que a matéria tributária seja o
brinquedo predileto do governo, que para arrecadar faz uso diário de dezenas de
leis, normas, regulamentos, atos e decretos, pouco se preocupando com as
mazelas do pobre do contribuinte.
Se no Brasil existisse uma boa qualidade de
serviços públicos, a reclamação contra a tributação não seria tamanha. Mas o
país não dá a contrapartida de um serviço público eficiente e de qualidade, que atenda
e favoreça os anseios da sociedade.
De concreto, a certeza de que a reforma tributária precisa
sair das gavetas dos gabinetes do Poder Legislativo e mostrar a cara, para que
seja o sistema tributário brasileiro menos complexo, menos burocrático, menos
mutável, menos confiscatório, menos desigual, menos numismático,
menos consumerista, menos antigo, menos oneroso, menos descoordenado,
menos desarmonioso e menos cruel. Essas são as reais aspirações do
contribuinte brasileiro. E para todas o contribuinte espera contar com a
colaboração do presidente eleito, que toma posse em janeiro de 2019.
Particularmente, não sou um advogado
anti-fazendário ou contra a arrecadação legal do governo. Ao contrário, sou
pelo direito e pela justiça e tento contribuir para a construção de um sistema
tributário que possa ser verdadeiramente novo, justo e sem burocracia. E que a
reforma não atenda a estes ou aqueles interesses, mas que resolva os problemas
do contribuinte brasileiro. Ajudar o contribuinte é ajudar o Brasil.
Enfim, a reforma das reformas defendida há
muito por governos anteriores ainda não saiu do papel, embora prometida várias
vezes perante imensas plateias de empresários e contribuintes de toda sorte.
Que venha, então, no novo governo, a tão esperada reforma
tributária, e que traga no seu bojo uma significativa parcela de
desburocratização.
Uma
reforma tributária justa é o desejo de todos os reais contribuintes
brasileiros.
Wilson Campos (Advogado/Especialista em Direito
Tributário, Trabalhista, Cível e Ambiental/Presidente da Comissão de Defesa da
Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).
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