“ALUGA-SE”, “VENDE-SE” E “PASSA-SE O PONTO”.

 

Com enorme preocupação os belo-horizontinos têm visto centenas de placas pela cidade com os dizeres “aluga-se”, “vende-se” e “passa-se o ponto”. A profusão dessas placas ocorreu após a pandemia do coronavírus. O comércio foi golpeado fortemente pela gravidade e extensão da doença. Mesmo as pessoas mais céticas se viram ameaçadas pelo volume de contaminação e mortes. A situação tornou-se assustadora para os cidadãos e para os negócios.


Em vários pontos tradicionais de Belo Horizonte é comum ver lojas fechadas e proliferação de empreendimentos que querem encerrar as atividades. Segundo dados divulgados pela imprensa, mais de 10 mil estabelecimentos fecharam suas portas e em torno de 15 mil postos de trabalho foram perdidos. A situação é dramática para os empresários, que desativam seus negócios, e para os trabalhadores, que amargam o desemprego.


O caos ainda não é total porque o auxílio emergencial de R$600 do governo federal tem ajudado bastante muitas pessoas, que ainda compram determinados produtos e ajudam na sobrevivência do comércio local. Mas quando o auxílio cessar, o pior virá à tona, o poder de compra desaparecerá para essa parcela da sociedade e o desemprego vai acelerar o nível de pobreza. Tudo muito triste, mas é o que prenuncia por agora o vírus incontrolado, que aterroriza o Brasil e o mundo.


Algumas entidades empresariais explicam que a situação se agravou por um conjunto de fatores, entre eles a diminuição do faturamento e a falta de clientes, o que faz com que muitos lojistas não tenham como arcar com os custos de aluguel e despesas normais do comércio.


Outras alegações dos empresários são no sentido de que o movimento do comércio caiu 80% no geral, na comparação do patamar antes da pandemia e a partir de 18 de março, quando as medidas restritivas na capital para combate ao coronavírus começaram a ser implantadas. Ou seja, segundo os comerciantes, a arrecadação está em apenas 20% do nível normal.


Há relatos de lojistas de que, com a pandemia, as vendas diminuíram brutalmente, os funcionários comissionados tiveram perdas, os clientes mais fiéis sumiram, as despesas não pararam e os impostos não foram reduzidos. Os empresários contam ainda que havia dias em que não realizavam uma venda sequer, e atribuem a queda no movimento ao coronavírus. Em razão disso, muitos resolveram entregar as chaves das lojas, que eram imóveis alugados, e estancar os prejuízos que estavam ficando insustentáveis, além de certas mercadorias perdidas, principalmente aquelas com prazo de validade mais curto.


Enquanto muitos lojistas desistiram dos seus negócios em virtude da pandemia e dos múltiplos motivos acima narrados, outros mais antenados partiram para o delivery. Se o público sumiu e o atendimento no balcão não é possível, então resta a jogada de atender os clientes que ligam e fazem pedidos para entregas domiciliares. O novo modelo de vendas ajudou muito os comerciantes que já estavam se desesperando.


Alguns exemplos de delivery bem aceitos são os restaurantes e sanduicherias, que seguem as orientações necessárias de higiene, além dos aplicativos de entrega, que estão funcionando de forma especial para a maior segurança do público e de seus colaboradores. Assim, os clientes começaram a voltar aos poucos, ainda ressabiados e com muito medo da doença invisível, mas adotando os cuidados sanitários recomendados.


O fechamento do comércio no Centro da capital foi o primeiro a ser sentido - shoppings centers, cinemas, lanchonetes, mercados, bares, restaurantes, salões de beleza e barbearias, entre tantos outros. Depois a onda se espalhou pelos bairros, uma vez que os clientes também se afastaram, o dinheiro ficou escasso e o que era supérfluo foi definitivamente cortado da mesa e da vida do cidadão. Muitas lojas, comércios, negócios e empresas, de modo geral, sentiram o baque e preferiram fechar as portas.  


Em suma, o fim desse filme de terror só acontecerá quando surgir uma vacina eficaz, sem política e comprovadamente eficiente. Nesse caso, segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), responsável pela regulação de vacinas e medicamentos no Brasil, a avaliação também levará em conta as chamadas “boas práticas de fabricação”, que consideram onde as doses serão fabricadas e quais são os procedimentos de treinamento de pessoal para que cumpra com os parâmetros de qualidade.


Terminando, sem esgotar o assunto, que é por demais prolixo e complexo, resta à sociedade torcer para o fim da pandemia, a retomada dos negócios, a reativação da economia, a reabertura das lojas, a recontratação dos empregados, a volta do faturamento, a satisfação dos consumidores, e que as placas de “aluga-se”, “vende-se” e “passa-se o ponto” fiquem apenas dentro da normalidade, sem essa quantidade absurda e sem a agressividade e a crueldade como se apresentam hoje.  


Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB-MG/Delegado de Prerrogativas da OAB-MG).


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Comentários

  1. Cristóvão Albuquerque23 de dezembro de 2020 às 10:00

    Eu sou comerciante e lojista, tenho negócios nos dois pontos dessa cadeia comercial, e confesso que nunca enfrentei na vida uma situação tão ruim. O adv. Dr. Wilson Campos está correto na sua avaliação, pois as vendas cairam muito e não dá para aguentar as despesas com impostos, empregados, locação, arrendamento às vezes de galpões para armazenagem de produtos, etc, etc.
    Está muito difícil tudo que está acontecendo aqui em BH e no Brasil e no mundo. Mas como diz o Dr. Wilson o brasileiro não desiste e vai em frente e assim vamos fazer até que as autoridades que dirigem o país tomem providências para vacinação de todos os brasileiros e para que a coisa volte ou tente voltar ao normal. E acho o mesmo que o Dr. Wilson que os impostos deveriam ser reduzidos nesse tempo grande da pandemia, de março até agora porque isso podia ajudar bastante os empresários de maneira geral. Abraços e obrigado.

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  2. Infelizmente é a mais pura verdade.

    O número de Moradores de rua explodiu.

    Onde as pessoas buscarão o sustento básico, o arroz e feijão, para sua família?!

    Muito grave.

    Se prefeito eu fosse, eu teria seguido a verdadeira ciência, o bom senso e as decisões compartilhadas.

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  3. Eu trabalho desde os 15 anos nos negócios dos meus pais. Nunca passei por isso e fechei uma loja de 1.000m2 por causa da Covid-19.
    Estou devendo impostos e encargos, mas vou reagir e seguir o conselho do Dr. Wilson Campos e pedir perdão de débitos tributários de março até enquanto durar a pandemia e vou parcelar outras dividas. E vou voltar para a luta se Deus quiser e ELE quer porque trabalhador é sinônimo de progresso e desenvolvimento.
    Eu vou voltar a gerar empregos, pagar impostos e ser uma mola a mais no desenvolvimento. Eu creio.

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  4. Dá dó andar pela Savassi. O que se vê é uma loja aberta e duas fechadas. O mesmo acontece com salas de escritórios. E aquelas que estão abertas, não se vê quase ninguém em seu interior. As autoridades ao invés de pensar em fechar ainda mais, deviam se preocupar em dar apoio aos proprietários desses empreendimentos que, na sua maioria, são formados por micro e pequenos empresários. Não se pode perder de vista que a maioria dos empregos dos brasileiros vêm dessas pequenas empresas. A quebradeira geral irá impactar severamente no âmbito de muitas famílias.

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