LIBERTEM-SE E SAIAM DA CAVERNA.

 

“A alienação espontânea e a preguiça intelectual são o novo caos social”.

 

Dizem que a Grécia é o berço da civilização, e que os três grandes filósofos gregos - Sócrates, Platão e Aristóteles -, estabeleceram as bases do pensamento ocidental. A rigor, a assertiva é verdadeira, porquanto conceitos como cidadania e democracia surgiram pelas suas mãos, as mesmas que conduziram a influência na política, na ciência, na educação, na tecnologia e nas artes.     

 

Em razão do propósito deste artigo, no sentido de que as pessoas devem se libertar e sair da caverna, a ideia pontual não é discutir o inegável legado grego, mas tão somente mostrar o quão importante são os homens e as mulheres livres, vivendo sem medo, sem mentiras e sem as amarras ou os favores do sistema.

 

A obra mais importante de Platão, “A República”, escrita entre 380 e 370 a.C., segundo os historiadores, narra em o Mito da Caverna ou Alegoria da Caverna, o diálogo de Sócrates com seu amigo Glauco sobre um grupo de homens que nasceram e cresceram dentro de uma caverna, imobilizados por correntes e obrigados a olhar apenas para a parede à sua frente. Ali, acorrentados e acostumados apenas com as sombras e as superstições, contemplavam o que achavam ser o mundo, a partir apenas das imagens refletidas no fundo da caverna por uma escassa luz que havia atrás deles.

 

Os prisioneiros enxergavam um único cenário formado por sombras de homens, animais e objetos refletidas na parede da caverna. Como só podiam enxergar essas imagens distorcidas, concluíam que eram verdadeiras, e deixavam-se dominar pela ignorância. No entanto, certo dia, um dos prisioneiros se libertou e se dirigiu para o lado de fora da caverna.

 

Ao sair, a claridade intensa o deixou momentaneamente cego, mas aos poucos seus olhos foram se acostumando à luz solar e ele se vislumbrou com outro mundo, que tinha natureza, cores e imagens diferentes de tudo que conhecia. Surpreso e maravilhado com o conhecimento, ele voltou para dentro da caverna para narrar os fatos novos aos seus amigos ainda acorrentados, com o intuito de também libertá-los, mas eles não acreditaram nele e julgaram-no louco, e permaneceram na “zona de conforto”, ou seja, na mesmice de seu mundinho irreal.

 

Trazendo o Mito da Caverna para os tempos atuais, pode-se dizer, com certeza, que o ser humano tem regredido muito, a ponto de estar, cada vez mais, vivendo como um prisioneiro da caverna, apesar da quantidade enorme de informação e conhecimento disponibilizados pelas tecnologias modernas, em um mundo extremamente globalizado.

 

As pessoas hoje têm receio da verdade e preferem a cômoda neutralidade. A preguiça de pensar tornou-se um elemento comum no seio da sociedade. Os jovens não usam o intelecto por inteiro, não sabem se expressar nem desenvolver textos minimamente complexos, preferindo a pobreza linguística das redes sociais, quase sempre permeadas por fake news. Ademais, o certo é que, de fato, a preguiça intelectual tem sido a mais forte característica desse século.

 

O que mais se vê atualmente na sociedade são desprezo e preguiça por questionamentos, pesquisas, críticas e opiniões, preferindo a inércia ou a lentidão e permitindo que as verdades sejam negadas e as mentiras se sobressaiam, como se todos estivessem presos numa caverna à meia luz. Ou seja, vive-se na época do predomínio da opinião rasa, do conhecimento superficial, da informação inútil e da prisão cotidiana que arrasta as pessoas, cada vez mais, para a caverna da ignorância. É triste ter de admitir isso, mas é o que acontece na atualidade.

 

A leitura, a política, a avaliação percuciente dos problemas, o contexto da sociedade organizada e o ser humano questionador deixaram de ser interessantes para os cidadãos do século XXI, que apenas vivem como se a própria vida tivesse importância. O egoísmo é uma peça adotada, sem conhecimento do passado e sem interesse no futuro. A ignorância é agora cultivada e celebrada, tornando ainda mais inacreditável o valor que dão à vida vulgar.

 

O julgamento açodado das pessoas tornou-se uma ferramenta perigosa. As redes sociais, propagadoras de bons serviços, mas também mentirosas e nocivas na divulgação de notícias falsas, restam conceituadas como inúteis para o que seja justo e certo, pois, estão enganando cada vez mais pessoas, que não se prestam ao trabalho de checar a veracidade e a confiabilidade da fonte que divulga as informações. Aqui, mais uma vez, como visto, constatam-se as preguiças de pensar, pesquisar e investigar.

 

Coitado daquele que ousar se opor a esse tipo de vida mesquinha e alienada, subjugada pela ignorância e presa na caverna como estavam os prisioneiros de Platão, pois será considerado velho e caduco. Assim como os escravos presos no interior da caverna não percebem que são prisioneiros, também as pessoas que estão presas na mídia, nas redes sociais e no turbilhão de informações da internet, muitas vezes não percebem que são enganadas e se tornam vítimas da desinformação e de inverdades.  

 

A política vigente não desperta a atenção necessária das pessoas, e a politicagem se aproveita e ocupa cada vez mais espaço no território e retira direitos e garantias fundamentais. Mas as pessoas de uma maneira geral não querem ver nem pensar, haja vista que seus olhos estão voltados para as telinhas dos equipamentos irradiadores das redes sociais, que viraram verdadeiras febres e vitrines do ego, que divulgam a falsa ideia de vidas felizes, mas que, na realidade, sequer sabem o peso que o seu surgimento trouxe para o mundo. A alienação espontânea e a preguiça intelectual são o novo caos social.

 

Vale repetir que, vive-se, pesarosa e tristemente, uma época de predomínio de opiniões rasas, de conhecimentos superficiais, de informações inúteis e de prisões rotineiras e banais que arrastam as pessoas, cada vez mais, para a caverna da ignorância. Portanto, antes que tudo se perca e suas vidas se resumam em mentiras e sombras, libertem-se e saiam da caverna.

 

Não deixem que a metáfora do Mito da Caverna se efetive em suas vidas. Não sejam os prisioneiros da caverna e não se limitem ao mundo das fantasias. Não restem aprisionados às crenças que lhes obriguem ou tirem suas liberdades.  

 

Mudem o sentido da vida e tornem seus corpos fontes de conhecimento. Transformem o mito e a metáfora em aprendizado de vida, e não consintam no erro nem no engano contra o Direito e a Justiça.

 

Afastem de vez as sombras e os ecos das suas existências cidadãs, posto que ambos os elementos são imperfeições; tanto as sombras com suas imagens distorcidas, como os ecos com suas distorções sonoras; além do fato de representarem enganos de visão e audição, numa falsa relação de causa e efeito.  

 

Libertem-se e saiam da caverna. Busquem o conhecimento verdadeiro. Abandonem a alienação, a preguiça e a inércia comumente adotadas nas suas vidas pequenas.  Projetem-se para a luz e deixem a sabedoria e os princípios chegarem perto, e conhecendo da claridade comecem a questionar, reivindicar, opinar, defender, atacar, arrazoar, ler, escrever e, principalmente, pensar e descobrir a verdade. A história não perdoa os covardes nem os preguiçosos.  

 

Wilson Campos (Advogado/Especialista com atuação nas áreas tributária, trabalhista, cível e ambiental/Presidente da Comissão de defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB-MG/Delegado de Prerrogativas da OAB-MG).

 

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Comentários

  1. O que eu mais tenho visto é a moçada de celular na mão o tempo inteiro e até na hora de almoçar não param. Escrevem tudo errado no WhatsApp e acham bonito isso. Os jovens não leem mais nada e escrevem mal e errado, de forma abreviada e sem acento e sem pontuação. Uma vergonha nacional. E depois querem passar nas provas do Enem e ser advogado, médico, engenheiro, jornalista,etc, etc. Não vai ser fácil passar nas provas porque não estudam e têm preguiça de ler. Concordo com a mensagem do artigo nota 1.000 do Dr. Wilson Campos porque ficar na caverna é coisa de maluco e quem quer vencer na vida precisa sair para a luz do dia e gritar pela liberdade e ir em frente na leitura, na educação, no trabalho e em tudo mais que seja positivo para a vida da pessoa. Vamos ler mais minha gente porque o que os maus governos querem é um povo burro e sem imaginação ou conhecimento. Gostei muito do artigo. Excelente mesmo e vou compartilhar para meus grupos. Agradecido. Expedito Mattos. BH/MG/BRASIL.

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  2. Eu sou professora Dr. Wilson, há mais de 30anos, e digo que atualmente os alunos não querem ler livros, produzir textos ou interpretar uma lição. O google e o celular são as ferramentas que procuram sempre. Livros e aulas no quadro verde não interessam muito, mas é o que vai ser e terá de ser porque o ensino é isso e o conhecimento é tudo na vida. Aprender para ensinar e ensinar para aprender. A roda vida é assim. A leitura é o caminho para o conhecimento. Parabéns Dr. Wilson pelo magnífico artigo e espero que ele possa chegar aos jovens, que são o futuro do nosso Brasil. M. Helena P.S.

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