DESPENSAS VAZIAS E COFRES ONUSTOS.

“Toda semana os produtos estão mais caros, e tenho que diminuir minha lista”. Essa é a primeira frase que mais se ouve por parte de pessoas simples, mas honestas, sejam elas aposentadas ou trabalhadoras informais. A segunda é: “Se eu ficar parado em casa, sem trabalhar, a minha família morre de fome”.  


A cada decreto municipal, os belo-horizontinos se colocam em pânico, estejam eles nas atividades do comércio, da prestação de serviço ou de qualquer pequeno negócio que necessite das portas abertas. Cada vez mais, os cidadãos não sabem o que fazer para se manter nesta quarentena interminável, que, além das contas a pagar, desnuda a dura realidade das despensas vazias.

 

O estoque de alimento de muitos já chegou ao fim. Os supermercados estão abastecidos, mas falta dinheiro para comprar. Os mais sacrificados são os desempregados, os aposentados que recebem um salário mínimo, os pobres, os autônomos da informalidade e os marginalizados pela própria sociedade seletiva.

 

A estagnação da economia, notadamente pelas restrições de circulação impostas para a redução da contaminação pela pandemia, afeta diretamente aquele que, por ironia, já se encontrava à margem dessa mesma economia brutalizada. Ou seja, essa pessoa, eternamente negligenciada pelo Estado, passa a ser, mais uma vez, submetida a um terrível dilema existencial: deixar de ir às ruas para não se contaminar pelo coronavírus ou se aventurar pela cidade para conseguir o pão de cada dia, para sua sobrevivência e da sua família.

 

O auxílio emergencial do governo federal ameniza o sofrimento, mas não é suficiente, uma vez que os preços sobem de forma desproporcional, enquanto a renda desaparece na fumaça de mais um decreto municipal. E o resultado é: de um lado, o cidadão comum implorando para trabalhar, com as despensas vazias, e, de outro, o gestor público, de cofres onustos e caneta na mão. 

 

Lamentavelmente, o inimigo comum não está sendo combatido de maneira inteligente e célere como deveria. A pirraça política não permite. Os chamados “gabinetes do ódio”, sejam estaduais ou municipais, se negam à união e se encarregam de pregar a desarmonia.

 

Os métodos do governo do Estado e da prefeitura são conflitantes. Os especialistas batem cabeças, e os prejuízos morais e materiais são debitados à população. A tradicional política mineira da conversa de pé de ouvido, da prudência das palavras, do labor silencioso e dos gabinetes republicanos não existe mais. Perdemos todos. 

 

Porém, se no lugar de tanto ressentimento e individualismo prevalecessem o respeito, a parceria e a defesa de interesses coletivos, a pandemia já estaria controlada ou erradicada. Mas o cabo de guerra entre os governos estadual e municipal enfraquece a cidadania e fortalece o vírus. Ambos perdem para a doença, cada vez mais forte, diante de políticas de saúde pública cada vez mais fracas. O povo sofre, sem trabalho, sem comida, sem liberdade, sem vacinas e sem leitos - o paradoxo de despensas vazias e cofres onustos.


Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB-MG/Delegado de Prerrogativas da OAB-MG). 

 

(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de quinta-feira, 18 de março de 2021, pág. 21). 

 

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Comentários

  1. Pessoal, quando o estômago ronca ou o filho chora, ninguém pode segurar o trabalhador em casa. Viver de que? Se a doença maldita do coronavírus chinês mata, a fome mata mais ainda e tira a dignidade do pai de família. Isso de lockdown e toque de recolher é crime contra as pessoas, as famílias que precisam sair para trabalhar e trazer o pão pra dentro de casa. Bando de hipócritas esse pessoal da imprensa suja da esquerda derrotada nas urnas que prega fiquem em casa. Eles jornalistas estão nas ruas fazendo matérias e escrevendo para rádio, jornais e televisões e o coitado do trabalhador tem de ficar dentro de casa vendo sua família passar necessidades. Bando de hipócritas esse governadores e prefeitos Imprensa, governador e prefeito são culpados por tudo isso que está acontecendo porque obrigam as pessoas a fazer o que eles não fazem. Bando de hipócritas. Bando de urubus. Ao dr. Wilson Campos meu guru e meu escritor favorito meu especial abraço e respeito sempre. Abrs doutor. Elza S.Silva. brasileira e mineira até o fim.

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  2. Ônibus cheio pode. Polícia trabalhar é preciso. Lixeiros tirando o lixo é indispensável. Milhares de trabalhadores passando necessidade em casa, sem comida, sem trabalho e sem dignidade é obrigatório pelo decreto. É assim que começa o comunismo canalha pretendido pelos débeis mentais da esquerda.
    Nós vamos deixar?
    Vamos pra luta e sem medo de derrotar esses patifes ladrões que roubaram o Brasil por 14 anos seguidos.
    Vamos varrer essa sujeira lá pra Venezuela, Cuba, China ou Coréia do Norte.
    Excelente artigo de. Wilson sempre na defesa da cidadania e da liberdade. Parabéns pela sua ética e seriedade. Abraço. Evandro SRPortugal

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  3. Sem firulas ou delongas assino junto com comentários acima e endosso tudo que Dr. Wilson Campos escreveu. Sem tirar nem por. Assino. Pedro Braga.

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  4. Milena Sestini.
    Em poucas palavras eu peço ... Deixem o povo trabalhar porque a fome transforma o homem num lobo. E o homem será o lobo do homem. É isso que prefeito e governador querem?
    Parabéns Dr. Wilson Campos, sempre ético, correto e cidadão
    Att. Milena Sestini.

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  5. Para eu começar a leitura fez-se necessária uma consulta rápida ao dicionário. Vejamos:

    Onustos é o plural de onusto. O mesmo que: carregados, onerados, repletos, sobrecarregados.

    Enigma desvendado, 🤭, avancei.

    Mais uma vez faço minhas as suas palavras.

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  6. O presidente Bolsonaro encheu os cofres dos governadores e prefeitos de dinheiro, com milhões e bilhões até, e o que eles fizeram? Desviaram o dinheiro que era para tratar a Covid (coronavírus chinês) e gastaram com folha de pagamento de servidores, fornecedores, etc. Agora ficam gritando que precisam de leitos, oxigênio, equipamentos. Cadê o dinheiro que o governo federal entregou a vocês prefeitos e governadores? Cadê? Prestem contas do dinheiro ou vão ter de prestar conta ao MP aoTC ou nas próximas eleições. Ouviram bem? Corja de safados. Meu especial abraço Dr. Wilson Campos e que o senhor continue assim sempre defendo o nosso povo brasileiro o nosso cidadão mineiro. Saudações patrióticas. Tião DÁvila.

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