O EQUILÍBRIO DA FEDERAÇÃO.

Minas e os mineiros sempre se orgulharam de ser o equilíbrio da Federação. Em tempos de pandemia haveria de ser assim também, mas o que se vê são desencontros, picuinhas e animosidades. A boa política ao estilo mineiro deixou de existir. Os novos políticos nada aprenderam com os professores de outrora.

Sempre foi dito que, não há, em Minas, lugar para confrontos e arestas, mas para diálogo e entendimento. Gerenciar crises é trabalho peculiar ao mineiro, sempre disposto à conciliação, por ser essa da praxe democrática. Daí a importância de os governos municipais e o governo estadual caminharem no mesmo sentido, deixando de lado as diferenças políticas e trabalhando em conjunto contra a pandemia do coronavírus e a favor do povo mineiro.

Os chamados “gabinetes do ódio”, que tanto têm tumultuado a política mineira, não carregam os sinetes da eternidade. O partidarismo que nega a união e prega a devastação não merece outro destino senão o de alijamento das vidas e mentes cidadãs. Nós, mineiros, acostumados à política de pé de ouvido, à prudência das palavras e ao labor silencioso, preferimos os gabinetes republicanos do entendimento.

A República mineira não pode recuar da sua missão nacional de ser o fiel da balança e o equilíbrio da Federação. O martírio de Tiradentes não pode ter sido em vão, pois o reconhecimento brasileiro veio com a capacidade de resistência diante da opressão estrangeira. Portanto, o grande compromisso de Minas deve ser com a liberdade, a democracia e o entendimento.

Outrora, Minas foi palco de insurreições e conjurações em busca de autonomia e liberdade, ainda que tardias. Os arroubos dos detratores não foram suficientes para ofuscar o legado da mineiridade, seja pela pujança das riquezas minerais ou pelos valores libertários enraizados no fascinante histórico do mineiro.

Belo Horizonte é a maior metrópole, é a capital e a sede do governo do estado. Diante do óbvio e da realidade, impõe-se não fugir à regra das tradições mineiras. Manter-se no ponto de convergência, atuar para o equilíbrio das forças, impedir rupturas e promover a unidade são algumas das suas funções essenciais. Em tempos de pandemia, sua responsabilidade no âmbito estadual cresce e até triplica, muito em razão de abrigar hospitais de referência.

Nas pequenas cidades, algumas próximas e outras nem tanto, o pedido de socorro é comovente. Os itens sanitários disponíveis nessas localidades não são suficientes. Os serviços de saúde são precários e não têm estrutura para casos mais complexos. As pessoas doentes se aventuram por estradas de terra, esburacadas ou parcialmente pavimentadas, desesperadamente, em direção à capital à procura de ajuda para o tratamento de uma doença grave ou até mesmo invisível, como é o caso do coronavírus, ainda sem vacina suficiente, sem cura eficaz e sem prevenção segura.

O clamor social aflorado pela índole dos mineiros faz-se alto e bom som para que os governantes municipais e o estadual fechem seus “gabinetes do ódio” e prosperem no diálogo, no acolhimento da coletividade e façam renascer o projeto republicano de Minas em primeiro lugar, cujo propósito esteja além dos entreveros locais, mas inserido no contexto estadual de entendimento, cidadania e humanidade.

A expectativa é de reconstrução dos ideais políticos em Minas, com maior maturidade dos políticos, para que deixem de se comportar como crianças birrentas e trabalhem com a noção da urgência que o presente momento requer. Ademais, a crise sanitária se soma à crise econômica, e a população não suporta mais tanta briguinha e tantas intrigas tecidas nos “gabinetes do ódio” enquanto a saúde pública agoniza e pessoas morrem. 

A rigor, os mineiros não elegeram seus representantes para digladiarem por vaidades ou proceder como políticos imaturos e despreparados. A missão é outra e começa pelo respeito à tradição da política mineira, sempre hábil no diálogo, na conciliação e no entendimento.

Em tempos de pandemia, os cuidados são muitos, e um deles é o cumprimento do dever dos governantes, para que estejam unidos e perseverantes no combate à doença e às suas consequências na sociedade, no trabalho e na economia.

Doravante, o papel de Minas é se reinventar e voltar a ser o equilíbrio da Federação, o coração político e o polo de entendimento, começando pela capital. É o que se espera. 

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB-MG/Delegado de Prerrogativas da OAB-MG).

(Este artigo mereceu publicação do jornal ESTADO DE MINAS, edição de terça-feira, 16 de março de 2021, pág. 7). 

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Comentários

  1. Dr. Wilson Campos essa briga diária do governador e do prefeito já passou do ponto. Estão parecendo duas criança brigando pelo pedaço de doce ou pela bola. Que infantilidade e que ódio é esse? Que papelão feio desses dois. Desse jeito não vão conseguir nada na política mineira nas próximas eleições porque enquanto eles brigam o povo morre de Covid ou doença chinesa. Esses dois fazem vergonha se comparados com Tancredo, Milton Campos, Valadares, Rondon, Aureliano e tantos outros que sabiam como fazer política e defender Minas. O governador e o prefeito, principalmente esse prefeito briguento tem muito que aprender. Muito mesmo. Dr. Wilson Campos o seu artigo é Republicano, é democrático e tem valor de mineiro de verdade. Só resta dar ao senhor Parabéns pelo artigo invejável. E olha que sou da velha guarda e conheço a política mineira profundamente. Saudações. Geraldo Mascarenhas.

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  2. Meu caro dr. Wilson, a união que o senhor defende eu também defendo para que MG possa ter de volta seu lugar de destaque no país. Os políticos mineiros dos últimos tempos são fracos e de pouquíssima expressão.Lembro-me das histórias das raposas políticas de MG: Afonso Arinos, Tancredo Neves, José M. Alkimin, Milton Campos, Gustavo Capanema, Juscelino Kubitscheck, e tantos outros que usavam a matreira política mineira para convencer os políticos de outros estados e sempre ser vanguardistas pelo bem do Brasil. Hoje só vemos briga e falação dos infernos desse prefeito de BH que não respeita ninguém e ainda foi reeleito por um bando de idiotas que não conhecem direito esse sujeito que não gosta de dialogar nem de conversar educadamente. O governador Zema é mais conciliador e educado,mas o prefeito Kalil é sem noção e por isso MG está atrasada na comparação com outros estados. Aqui até a pandemia é motivo de brigas dos dois e é como o senhor muito bem disse Dr. Wilson - os gabinetes do ódio.
    Ainda bem que apareceu o senador Rodrigo Pacheco, eleito pres. do Senado que parece ser educado e ponderado ao estilo antigo mineiro (conversar muito até chegar numa solução boa para todos). Por enquanto é isso. Abraço fraterno Dr. Wilson. - Seu conterrâneo e admirador pela sua ética e integridade, sou Luiz Valadares.

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  3. Glória M. S. de Bragança.16 de março de 2021 às 16:35

    Pelo menor na pandemia o governador e o prefeito podiam se unir para dar um fim nesse mal terrível da covid da china, e trabalhar mais para nós mineiros e ainda mais agora nessa tal de onda roxa. Que que é isso gente? Vamos unir e trabalhar pelos de BH e de MG. Somos irmãos e precisamos vencer porque Minas são muitas. Obrigada Dr. Wilson e parabéns pelas suas belas palavras e chamada de união a todos. E assino embaixo de que somos o equilíbrio da Federação. Boa ideia essa de provocar o civismo dos políticos mineiros. At. Glória M.S. Bragança.

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