OH, MINAS GERAIS! QUE JANEIRO DIFÍCIL!

 

“E os horizontes se perdem nos olhos marejados de tanto sofrimento, de um povo alquebrado e vencido, enquanto a política sanguessuga, trânsfuga e demagoga se acha no direito de verter o sangue já ralo dos pobres miseráveis”. 

 

Dizer que este mês de janeiro de 2022 está sendo difícil é dizer o mínimo. As chuvas castigam sem parar os chãos de Minas Gerais. São inundações, lamas, devastações, mortes e muita tristeza nos lares e nas cidades. 

Minas já tem 341 municípios em situação de emergência causada pelas chuvas. Segundo dados da Defesa Civil estadual o cenário pode piorar se os temporais não diminuírem e o sol não aparecer. 

Até este momento foram registradas 24 mortes de mineiros, vítimas das chuvas. Isso, sem contar os dez óbitos decorrentes da tragédia de Capitólio, cujas mortes foram causadas pelo deslocamento de um paredão de rocha nos cânions do Lago de Furnas. As vítimas estavam passeando de lancha quando a embarcação foi atingida em cheio. Um inquérito foi instaurado para apurar as causas da tragédia e as investigações estão em curso.

Foi muito triste o que aconteceu em Capitólio no sábado, dia 8 de janeiro. Com imenso pesar e sentimentos aos familiares pelas perdas irreparáveis, não se pode, contudo, deixar de valorizar as belezas naturais da região. As águas em tom de esmeralda nos arredores de Capitólio dão à região a fama de “mar de Minas Gerais”. E o título não é para menos, pois, com mais de 1440 km² de área e banhando mais de 30 municípios mineiros, o Lago de Furnas é a maior atração nos arredores da cidade de Capitólio e também o principal motivo que atrai tantos turistas até o local. 

Voltando às chuvas, que castigam Minas Gerais há vários dias, sem cessar, há que se dizer que as chuvas são inocentes e não têm culpa nas tragédias, porquanto são sempre esperadas e convidadas a estarem aqui e em todo lugar, haja vista a sua importância para a sobrevivência dos seres humanos e da própria natureza (flora, fauna, rios, ...).   

Se as chuvas são inocentes, o mesmo não se pode dizer dos entes governamentais. Com raras exceções, os representantes do povo realizam pouco e preferem as trincheiras luxuosas de seus palácios municipais, estaduais e federais, sejam nas cidades, nas capitais ou em Brasília. Isso, quando não estão nos hotéis e nos calçadões de Copacabana ou nas nababescas viagens internacionais. 

Os políticos mineiros, notadamente os deputados e os senadores, percorrem Minas Gerais quando querem, e sempre o fazem para a caça aos votos dos simplórios, para reeleições planejadas à custa do dinheiro público e para visitas esporádicas em benefício de seus interesses pessoais. 

Vez ou outra desfilam pelas cidades mineiras alguns políticos neófitos, lançados no seio da tradicional política mineira, mas que não sabem dialogar com o povo, nunca se sentaram na varanda de uma casa simples para colher sabedoria, jamais ouviram as vozes dos contrários ou as reivindicações dos seus eleitores do interior e da capital, e não merecem serem chamados de políticos mineiros. 

A explicação é simples: um representante do povo mineiro que não sabe questionar o governo federal, que não busca verbas para investimentos regionais e que não se preocupa com as dificuldades e as necessidades dos municípios mineiros, não está à altura ou à sombra dos grandes nomes da política inconfidente, que, no mínimo, souberam contestar e jamais aceitar a subjugação deste berço pátrio das nossas tantas Minas Gerais. 

Afinal, quem sois, Vossas Excelências, representantes do povo, senadores, deputados federais, governador, deputados estaduais, prefeito e vereadores? Quem sois, que não defendem as nossas Minas Gerais que agonizam? Quem sois, nos atuais governos federal, estadual e municipal, que não se rebelam a favor das nossas Gerais?  

Que tristeza olhar e ver os representantes do povo calados e quietos, quando deveriam elevar a voz e lutar em prol de Minas e dos mineiros, e fazer valer o que determina o artigo 21, inciso XVIII, da Constituição da República: “Compete à União: [...] planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente as secas e as inundações”.

Termos e mais termos constitucionais descumpridos e ignorados, porque o povo a que se destinam não grita, não vai às ruas, não protesta, não se indigna. O povo está, agora, submerso. E o momento é de solidariedade - do povo para o povo. É o que nos resta: solidariedade.  

Enquanto não existir uma política humana e honesta neste país, a solução é o povo cuidar do povo. Enquanto não existir uma política unida e coesa nestas Minas Gerais, o povo mineiro cuida do povo mineiro. E enquanto durarem as chuvas, as inundações, os destroços, os lamentos, as lágrimas e as mortes, o povo será solidário ao povo, porque os políticos passam ao largo das enchentes, das inundações e da lama, que retiram vidas, destroem cidades e ferram com os sonhos.  

Com raras exceções, os políticos mineiros não colocam os pés no barro ou nas estradas esburacadas para ver o trágico e triste cenário que reflete o descaso e a falta de investimentos. 

E as nossas cidades são arrasadas por enchentes previsíveis, enquanto os políticos não dão as caras. 

E os nossos concidadãos perdem tudo para as fortes chuvas torrenciais, enquanto os nossos políticos mineiros ganham os ares em viagens internacionais.

E as crianças choram de desespero e de fome, enquanto os políticos gastam seus polpudos salários muito longe daqui. 

E os pais lamentam, aos prantos, a perda da casa, dos móveis e até do alento de viver, enquanto os políticos mineiros descansam de um trabalho onde muito pouco fizeram. 

E os lares se avolumam de água suja e lama, enquanto os políticos prometem soluções que nunca são entregues e jamais serão cumpridas.

E as enchentes e inundações se multiplicam pelas cidades mineiras destroçadas, cortadas apenas por canoas, enquanto os políticos, alheios a tudo e a todos, gozam férias e depois reaparecem como se nada tivesse acontecido. 

E os homens, mulheres e crianças se atolam na lama da terra deslizada das encostas, enquanto os políticos não querem e não podem sujar seus pés protegidos por sapatos de pelica. 

E os idosos, enfermos, transportados até em carrinho de mão, vencem as distâncias, à procura de um médico de plantão, enquanto os políticos mineiros desfilam nas capitais, em seus carrões, com motoristas particulares, à procura de uma clínica de estética ou spa. 

E as milhares de famílias ilhadas em cidades submersas se sujeitam à sede, à fome e à doença, enquanto os políticos mineiros com muita fartura e saúde se esbaldam em gastanças por lugares distantes de Minas Gerais. 

E os horizontes se perdem nos olhos marejados de tanto sofrimento, de um povo alquebrado e vencido, enquanto a política sanguessuga, trânsfuga e demagoga se acha no direito de verter o sangue já ralo dos pobres miseráveis.  

E as mais de trezentas cidades mineiras atingidas se tornam reféns e de pires na mão, enquanto os políticos mineiros e brasileiros se preparam para gastar bilhões do dinheiro público em campanhas eleitorais.

E a seca que assola o sul do país, causando caos e desolação, lá como cá, se depara com políticos movidos apenas pela sensibilidade do cargo e do salário que ganha.

E as mortes causadas não envergonham, não incriminam, não dão cadeia, enquanto a política partidária se esconde e aponta o dedo sujo para o ex adversus e grita: a culpa é dele!

As chuvas vão diminuir e as soluções serão adiadas. O planejamento e os projetos de defesa permanente contra as calamidades públicas serão empurrados para debaixo do tapete das prefeituras, das câmaras municipais, dos governos estaduais, das assembleias legislativas e do Congresso Nacional.

E mais uma vez o povo se põe de cócoras, com o queixo nos joelhos. E se o povo não reage, o poder público não se mexe. E continua tudo como dantes no quartel de Abrantes, ou seja, nada muda. Isso, até chegarem as próximas chuvas.

Wilson Campos (Advogado/Especialista com atuação nas áreas de Direito Tributário, Trabalhista, Cível e Ambiental/ Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG, de 2013 a 2021/Delegado de Prerrogativas da OAB/MG, de 2019 a 2021).

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Comentários

  1. Excelente. Estou de pleno acordo de cima embaixo sem tirar nem por uma vírgula no excelente artigo. Parabéns. At: Marcelo Nilo.

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  2. Eu quis comentar antes em outros artigos e não consegui, mas agora deu jeito. O artigo é nota 10. Eu também concordo e assino e reconheço com firma em cartório. MG precisa contar com seus políticos que andam sumidos demais. Cadê esse povo? Parabéns Dr. Wilson Campos como sempre muito correto. Abr. Yuri P. J. Filho.

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  3. Eu moro num lugar que quando chove a água entra dentro das casas, do comércio e de tudo que encontra pela frente. Todo ano é a mesma coisa e o prefeito fala que vai dar um jeito e esse jeito nunca chega. E os políticos deputados e outros sempre vem pedir votos na região e fazer campanha e sujam a cidade com tanta propaganda e na hora de fazer obra e ajudar o povo todo mundo some. Dr. Wilson Campos advogado brilhante mais uma vez está brilhante seu texto e sem comentário porque achei no texto tudo que penso e quero dizer, de coração e alma. Deus ajude o senhor sempre. Deus nos ajude. Dalva M. Dias. RMBH.

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  4. Cristiane F. S. do Lago13 de janeiro de 2022 às 11:10

    SIMPLESMENTE...FANTÁSTICO!!! Cristiane F.S. do Lago.

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  5. Os políticos de MG perdem para os de SP e RJ que recebem verbas maiores porque brigam e defendem seus votos por meio de emendas e investimentos nos seus estados. Aqui em MG os deputados federais e os senadores são molengas. Cadê o Aécio: Sumiu. Mas depois vem pedir voto. Cadê os senadores? Não falam nada das enchentes e da tragédia emMG e depois vem pedir votos nas cidade ou pela televisão e rádio e jornais. Todos hipócritas. É como disse o mestre Dr. Wilson Campos - o povo cuida do povo - o povo olha pelo povo - o povo mineiro é solidário com o povo mineiro. O artigo é a voz do povo. Parabéns doutor. Abr. Farid HS.

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  6. O povo sofre todo ano com as chuvas e os prefeitos nada realizam de obras de prevenção e depois colocam a culpa na chuva, nas encostas, nos deslizamentos. Culpam alguém e tiram o corpo fora essa corja de incompetentes.
    Concordo com o artigo e dou parabéns ao autor.
    Manoel Milton.

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  7. Os mineiros sofre com as barragens das mineradoras, com enchentes, com estradas ruins, com metrô de terceira categoria e com serviço público de péssima qualidade.
    Culpa do povo que não briga, quê não protesta e não aprende votar em pessoas honestas e trabalhadoras.
    Quem sabe nestas eleições agora o voto não é pra valer? Sem ladrões e sem comunistas. Vamos brigar pelo povo e pelas nossas famílias.
    O artigo é tudo que penso. Carminha N. P.

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  8. Muito bom e é o que eu também penso. O Brasil está mudando Dr Wilson Campos e precisamos ajudar como o senhor sempre cobra. Abr. Sergio Farias.

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  9. Dr. Wilson, parabéns!
    Mais uma vez, aplaudo o seu artigo.
    Vou-me permitir acrescentar, além de todas essas letargias já citadas por você, o seguinte: vimos em diversos grupos sociais inúmeras iniciativas, que buscaram e ainda buscam, arrecadar recursos, mesmo que pequenos, para ajudar aos desabrigados. Não consegui individualizar nenhum político que tenha ajudado (tirando do próprio bolso, pois apresentar projeto, é cômodo e fácil) ou liderado alguma campanha de maneira destemida, na linha de frente, para sensibilizar os segmentos mais abastados da sociedade (principalmente o deles), com vistas a contribuir de forma mais eficaz no socorrimento aos desamparados. Na época devida, com certeza, colherão o que estão semeando. Abraço.

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