BRT- Move, LENTO E LOTADO, NÃO RESOLVE.
A grande expectativa
gerada na cidade, em torno do BRT – Move, no sentido de que os problemas de
mobilidade urbana estariam com os seus dias contados, não passou de mais um
arremedo patrocinado pela administração municipal e setores responsáveis pelo
transporte público. O BRT-Move não surtiu o efeito esperado e muito menos
contribuiu para o fim do sofrimento de quem diariamente se aventura nos ônibus
lentos, sujos e lotados.
O chamado sistema
rápido por ônibus se arrasta pela cidade feito uma sanfona desafinada, longe o
mais possível da necessária afinação entre o usuário e o seu destino. Os
trajetos são longos e cada vez mais demorados, numa nítida alusão de que as
providências até aqui tomadas estão muito distantes do esperado pelo
trabalhador, que é o mais prejudicado, pois é o que mais utiliza o meio de
transporte de massa. A injustiça começa por aqui, com a pouca essencialidade
dada ao direito assegurado no Art. 30, inciso V, da Constituição, que trata da organização do transporte coletivo, que tem caráter essencial.
As linhas troncais ou
diametrais, assim como as estações de transferência são ainda uma dor de cabeça
para os usuários. A confusão é generalizada no embarque e desembarque. A
integração se tornou um pesadelo para as pessoas que não têm muito tempo para a
burocracia exigida pelas linhas do sistema. A irritação é geral e começa logo
cedo, justamente quando o trabalhador mais precisa de sossego para se dirigir
ao seu emprego. A lentidão do trânsito caótico se torna um acessório do serviço
público de má qualidade.
A expansão do
BRT-Move, concluída a sua primeira fase, entrega aos usuários novas unidades de
transporte, sem, contudo, prever uma solução definitiva para as baldeações que
atormentam os passageiros na ida e na volta do trabalho, da escola, da
faculdade, da consulta médica e de tantos outros compromissos diários. Além do
mais, resta insatisfatória a solução paliativa da integração de linhas antigas
ao BRT-Move, em pontos estratégicos da cidade. As estações de transferência
carecem de adequação ao novo número de ônibus, principalmente no que toca à necessária
rapidez de atendimento ao usuário. A demora tormentosa atual, desde a saída das
pessoas de suas casas até o destino, tornou-se um martírio. O trabalhador
gasta mais de 1/4 de seu dia dentro de ônibus antigos, de BRT-Move, de estações,
e em baldeações e filas de embarque e desembarque. Isso precisa melhorar. E muito.
O reconhecimento da
população somente virá com a eficiência do serviço, em todos os sentidos, o que
até agora deixa muitíssimo a desejar, uma vez que o planejamento imprescindível
se tornou uma peça em desuso na administração pública. Tudo se faz com
correria. Nada se pensa. Nada se planeja. O descrédito da sociedade é factível
a curto e médio prazos. A retomada do rumo certo depende da forma como serão
escutados os tomadores dos serviços, haja vista que são esses, de fato, os
pontuadores da avaliação do produto público oferecido. De sorte que, o modelo
ideal de transporte público é aquele que atende mais rapidamente as
necessidades dos usuários, a qualquer hora do dia ou da noite.
Por outro lado, cabe esclarecer que a base para o
crescimento sustentável da cidade não se prende unicamente à redução de uma vaga de garagem
por unidade habitacional, retirando os veículos leves das ruas, diante da
impossibilidade de lugar para guardá-los ou estacioná-los, da crescente poluição do ar e do caos diário no trânsito. A base
aludida passa muito mais pela criação de condições efetivas e modernas de mobilidade urbana, quer
seja pelo transporte biarticulado rápido e eficiente, pelos modais limpos e
confortáveis ou pelos trilhos dos metrôs aprovados na maioria dos países de
primeiro mundo.
Nesse mesmo sentir se
dá a prioridade do transporte coletivo na positivação da qualidade de vida
urbana e na menor agressão ao meio ambiente. A cidade sustentável, com a troca
do carro pelo transporte público, passa também pela redução sistemática de
consumo de energia, de emissão de gases poluentes, de congestionamentos e de
fluxo intenso de trânsito no horário de pico. As outras formas de vida saudável
e transporte sustentável urbano vão além das mencionadas e do aluguel de
bicicletas compartilhadas (este já em funcionamento em Belo Horizonte), podendo
surgir ainda com a criação de bicicletários, como incentivo para os cidadãos deixarem
os seus carros em casa, mas com a garantia de que poderão contar com vias adequadas e seguras, com estacionamento gratuito entre 7h e 21h, e que, além de guardar as bicicletas,
os ciclistas terão banheiros masculinos e femininos, limpos e higiênicos, para
banho e troca de roupa.
O transporte pelo
BRT-Move, além dos fatores custo, tempo, limpeza, comodidade e conforto, de
extrema importância para o usuário, precisa evoluir no campo da mobilidade
urbana provinciana, com prioridade semafórica para o transporte de massa, semáforos
mais modernos nos cruzamentos, velocidade operacional dos modais com segurança,
rapidez na locomoção e nas baldeações, ônibus com maior capacidade de
transporte, vias exclusivas sem o abuso ou desrespeito das outras, plataformas de embarque com
assentos e climatização do ambiente, vigilância diuturna da guarda municipal, ampliação
do número de ônibus biarticulados, facilidade na compra dos bilhetes e cartões
de embarque e com ouvidos para escutar a sociedade, nas suas justas e
ponderadas reclamações. Afinal, o cliente, o contribuinte, aquele que paga,
sempre tem razão. Melhorar é preciso. Urgentemente. Entretanto, faz-se necessário que os usuários cuidem
e preservem o meio de transporte oferecido, com as suas respectivas melhorias. A educação deve sobrepor-se aos
demais pedidos e futuras reivindicações.
Por fim, o que mais
se espera do poder público municipal, desde a Prefeitura até a BHTrans, nos
quesitos mobilidade urbana e transporte público coletivo, é que a administração
persevere na busca da melhor prestação de serviço público, atenda as expectativas
da população e lhe entregue um serviço de qualidade, rápido, confortável, seguro
e que proporcione uma mobilidade satisfatória a todos, sem maiores
sacrifícios da sociedade trabalhadora. Alcançados esses objetivos, parte a
parte, o reconhecimento será inevitável, e os cidadãos agradecerão, com
certeza, por um transporte mais humano e por uma cidade mais sustentável.
Wilson Campos
(Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses
Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).
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