CIDADE AGREDIDA E POVO FERIDO.
"População agredida".
Para uma visão mais holística do fenômeno que abarca a cidade e o povo, invariavelmente tutelados pelos direitos difusos e coletivos, mas também ombreados pela resistência da cidadania, torna-se coerente mostrar as mazelas de um e de outro, ficando o mérito por conta dos fatos, dos argumentos e dos requerimentos colhidos na vida atribulada dos sobreviventes sociais.
O cidadão que se
depara constantemente com uma cidade violenta, onde a impunidade é interpretada
como coisa do cotidiano, sem muita importância, e sem as necessárias e enérgicas
providências das autoridades, o resultado pode ser imprevisível e catastrófico,
uma vez que essa pessoa, cansada do jugo e da humilhação, reaja e tome em suas
mãos a sua “justiça”, deixando de lado a obediência e o cumprimento da lei. Parece
ficção, mas é real.
Nada mais perigoso do
que uma cidade agredida e um povo ferido, ainda mais quando a proteção esperada
não chega e os descaminhos se multiplicam, sempre contrários à vida ordeira do homem
de bem. A paciência e a esperança se esgotam. O desespero toma conta das famílias
que, quase sempre, protegem os filhos, trancando-os em casa, intramuros, e criando-os
cada vez mais solitários e dependentes da internet, distantes da liberdade e da
doce vida social que pensavam que existisse. O perigo reside no esgotamento do
ser humano.
As explicações esfarrapadas
de algumas autoridades, que teimam em dizer que está tudo bem e que a dose de
exagero parte sempre dos pessimistas, não passam, de fato, de contornos
irresponsáveis de quem não quer enxergar que os crimes impunes geram mais
crimes, por se imaginarem os criminosos, acima da lei e da ordem, da mesma
forma de sempre. Ora, que país é este que dorme em berço esplêndido enquanto a
parte boa do povo sofre as injustiças que não merece e a parte podre se deleita
com a incompetência dos poderes constituídos?
A agressão ao povo não
é tema local. Trata-se de tema nacional, de norte a sul e de leste a oeste do
Brasil. Lamentavelmente. Mas, não fosse tudo isso suficiente para mobilizar a
nação inteira, o que se veem são campanhas políticas prometendo o que já foi prometido, exaltando o que não foi cumprido e pedindo o
que o cidadão não tem – confiança para votar. O cidadão está só e desesperado.
A vida está difícil e as expectativas de melhorar são poucas, pouquíssimas, nenhuma.
Candidatos pedem votos a um povo ferido, alquebrado, desprotegido e já
incrédulo, como se nada estivesse acontecendo de grave, gravíssimo, insuportável.
O simples fato de
alguns jovens saírem às ruas, em direção ao estádio, em dia de jogo, usando a camisa
do seu time do coração, transforma-se em um pecado mortal. O mínimo que se
ouvem são tiros, rojões, ameaças, quebradeiras, mortes, desespero e correria. O
esporte está perdendo para a violência e a impunidade está dando de goleada nas
autoridades. A paz e o sossego vão ficando para trás, em todos os setores. Afinal,
o que mais resta ao povo, além de pedir, implorar e se humilhar, se nem o futebol
se salva?
Os mais diversos
crimes, da pichação de monumentos ao mais cruel contra a vida humana,
vão ficando nas estatísticas, sem a devida e exemplar punição dos culpados. A
impunidade vai prevalecendo aqui e ali, e o rastro da violência cresce,
desaforadamente. A população já não sabe o que fazer, mas, enfim, fazer o que
diante da inércia e da distância dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário?
A solução está na
atitude das pessoas, com o povo indo para as ruas e se manifestando livremente
por mudanças urgentes, de forma cívica e ordeira, mas firme e enérgica. A
esperança está nos direitos constitucionais e no exercício da cidadania, com a
população gritando mais forte e acima até das suas próprias forças, exigindo
respeito e melhorias e não aceitando mais restar a cidade agredida e o povo
ferido.
Wilson Campos
(Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses
Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).
(Este artigo mereceu publicação do jornal ESTADO DE MINAS, edição de sexta-feira, 26/09/2014, pág. 7).
(Este artigo mereceu publicação do jornal ESTADO DE MINAS, edição de sexta-feira, 26/09/2014, pág. 7).
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