O BRASIL SE RESSENTE DE ATITUDES.

"É preciso saber manifestar-se". 

"País se ressente de atitudes".


De nada nos vale viver em um país de máximas opiniões e mínimas atitudes. Opiniões quase sempre ouvidas, mas não escutadas, interpretadas ou efetivamente percebidas. Atitudes sem veemência, sem foco, descoordenadas e que não são levadas a sério. As opiniões nos sobram. As atitudes nos faltam.

Infinitas são as opiniões no sentido de que a violência, a criminalidade, a impunidade, a corrupção, a roubalheira e tantas outras práticas criminosas se apresentam em níveis desumanos e insuportáveis nos últimos tempos. As opiniões procedem, porque são argumentadas e têm fundamentos. As atitudes, não, porque nem sequer são interpostas e ficam por conta da paralisia, da inércia e da absoluta ausência de ação.

Partindo do pressuposto de que a atitude é desejável pelo cidadão, assim como um direito fundamental, o problema passa a não ser mais como fundamentá-la ou justificá-la, e sim protegê-la e aplicá-la, de forma a evitar que seja proibida, violada ou relegada à insignificância.

Os direitos e deveres do homem incluem as atitudes cívicas, éticas e educadas. Essas atitudes apresentam-se cívicas quando o povo vai às ruas e reivindica melhorias urgentes nas áreas de saúde, educação, trabalho, moradia, lazer, transporte, segurança, previdência social e proteção à infância, e exige uma prestação de serviço público com qualidade. 

Apresentam-se éticas quando a população combate a desigualdade, a exclusão social, a corrupção, a improbidade administrativa, o abuso de poder, o nepotismo, a malversação do dinheiro público e a falta de decoro. 

E apresentam-se educadas quando o cidadão pratica os bons costumes, obedece às normas e às leis, não joga lixo na rua, não estaciona em vaga de deficiente, não avança o carro na faixa de pedestre, não “fura” a fila, cede o lugar nos ônibus a idosos e mulheres grávidas, propaga a cidadania e pratica boas ações.

Ter atitude é ter coragem para requerer mudanças na política econômica do país, é exigir as reformas tributária, trabalhista, administrativa, previdenciária, política e judiciária, é ampliar o coro dos pedidos de transparência, respeito e honestidade no trato da coisa pública.

Se por um lado a atitude tão cobrada da sociedade veio forte, por meio das manifestações de rua, embora de forma passageira, numa profusão de acontecimentos que deixaram atordoados os governantes, com exceção dos vândalos desordeiros, por outro, o governo e o sistema bicameral se mostraram fracos nas suas atitudes, e não se deram conta da grandiosidade dos clamores sociais.

O Brasil se ressente de atitudes. Contudo, a atitude coletiva dos cidadãos tem motivos suficientes para voltar ainda mais forte, em manifestações ordeiras e enérgicas. Ter atitude é, também, saber se manifestar.

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG). 

(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de quarta-feira, 10/09/2014, pág. 23).

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