A ARTE DE ADVOGAR.
A
mais significativa procuração que um advogado pode receber é a de defesa de uma
pessoa, em uma causa que esta confessa trazer-lhe sofrimento, prejuízo,
angústia e injustiça. A arte de advogar surge aqui, com a busca do Direito para
aqueles que o tenham de fato, ou mesmo que pensem possuí-lo tênue na linha
meritória da Justiça.
Advogar
é muito mais que se colocar simplesmente a serviço do cliente. Advogar é prestar
atenção nos detalhes da narração que este lhe faz. Advogar é mais que ouvir, é escutar
e valorizar aqueles minutos de entrega e de emoção desprendidas da pessoa que
lhe fala.
A
arte da advocacia não está apenas na fundamentação, na argumentação, nos
documentos ou nos atos praticados nos processos. Está também na sublime
capacidade de receber prontamente aquele que lhe procura no afã de conseguir um
amparo, uma palavra, um estímulo e uma luz que atende pelo nome de Justiça.
A
arte de advogar está no desprendimento do causídico, na entrega do profissionalismo,
no comprometimento com a demanda, seja ela de parte abastada ou de humildes,
pobres e despossuídos. Aliás, a valorização moral do advogado está justamente no
seu esforço de defesa dos fracos e oprimidos, quase sempre relegados à própria
sorte, por incompetência e desinteresse do Estado.
Advogar
é abraçar a causa sem prometer vitórias. Aceitar o desafio, mas jamais
subestimar a parte contrária. Lidar com as dificuldades, sem, contudo,
demonstrar fraqueza. Evidenciar a transparência de homem ético, que se empenha
na busca da aplicação do Direito.
Como
devoto do Direito, sinto-me tomado pelas palavras inebriantes de Rui Barbosa, a
meu ver, o maior jurista e pensador político de todos os tempos, que assim ensinou:
“A profissão do advogado tem, aos nossos olhos, uma dignidade quase sacerdotal.
Toda vez que a exercemos com a nossa consciência, consideramos desempenhada a nossa
responsabilidade. Empreitada é a dos que contratam vitórias forenses. Nós,
nunca endossamos saques sobre a consciência dos tribunais. Damos aos nossos
clientes o nosso juízo com o nosso conselho, a nossa convicção com o nosso
zelo; e, depois, quanto ao prognóstico e à responsabilidade, temos a nossa
condição por igual à do médico honesto, que não conta vitórias antecipadas como
os curandeiros, nem se há por desonrado, quando não debela casos fatais [...]
não é no bom ou mau êxito dos pleitos que está o critério da honestidade dos
litígios, ou o do merecimento dos patronos”.
Este
escriba, operador do Direito, apenas mais um entre tantos humildes mortais,
curva-se, mais uma vez, perante a excelência do ensinamento que não envelhece
jamais, escrito energicamente, como se fosse música clássica, pelas mãos firmes
do Águia, constitucionalista e brilhante advogado, Rui Barbosa.
Depois
desse reconhecimento ao mestre da arte de advogar, resta-me espelhar nos
melhores, desejar que as piadinhas deselegantes sobre os advogados cessem, contribuir
para que a advocacia promova a inclusão dos excluídos, trabalhar pela
verdadeira administração da justiça, fazer chegar a justiça aos injustiçados e lutar
pela liberdade dos que clamam pelo direito de ir e vir, da livre expressão e da
vida democrática no gozo do legítimo Estado de Direito.
Por
fim, reconheça-se a arte de advogar no exercício da cidadania, na prática da
ética, na independência da profissão, na prevalência da honra, na moralidade
dos atos, na conciliação justa dos interesses, na constituição da Justiça e no
estabelecimento do Direito.
Wilson
Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses
Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).
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