A MATA DO PLANALTO
O ensaio de um crime.
Embora a grande
maioria da população já entenda que a destruição indiscriminada do verde é
desumana e desnecessária, a especulação imobiliária insiste em avançar sobre o
pouco que ainda resta de áreas de preservação ambiental na cidade. E, por
incrível que pareça, com a conivência das autoridades públicas.
O Conselho Municipal
de Meio Ambiente (Comam), órgão colegiado da Secretaria Municipal de Meio
Ambiente da Prefeitura de Belo Horizonte, concedeu, no dia 28 de janeiro último,
licença prévia para a construção de 16
prédios de 16 andares, num total de 760 apartamentos e 1.016 vagas de garagens,
nos terrenos da Mata do Planalto, o que vem demonstrar, mais uma vez, que o
órgão ambiental municipal não respeita os princípios constitucionais que
protegem e preservam as reservas ambientais. Ou seja, o Comam trabalha contra o
meio ambiente e contra as suas próprias diretrizes.
Nesse prisma,
lamentavelmente, um grupo empresarial pretende aumentar a devastação ambiental,
uma vez que suas obras planejadas para o bairro Planalto, no local onde hoje
está a Mata do Planalto, se concretizadas, vão acarretar inúmeros problemas
para a comunidade, entre eles: aumento da população em cerca de 4.500 pessoas
no bairro, já extremamente adensado; degradação ambiental, com consequentes
mortes de animais, destruição da flora e supressão de mais de 20 nascentes de
águas cristalinas; mudança radical do microclima da região e piora na qualidade
de vida dos moradores; insuficiência de transporte público, que já é precário;
inexistência e inadequação de unidades de saúde para atendimento da demanda das
comunidades do entorno; falta de escolas públicas; falta de infraestrutura;
congestionamento de veículos e risco de acidentes; poluições sonora, do ar, do
solo e das águas; destruição e prejuízos para o funcionamento dos
ecossistemas.
Como visto, as
ameaças contra a área verde são absurdas e persistem, como se em Belo Horizonte
e na região metropolitana não existissem mais áreas disponíveis para
empreendimentos imobiliários. No entanto, a Prefeitura de Belo Horizonte, se
quiser, pode salvar a Mata do Planalto, bastando que permute com o proprietário
os terrenos da mata por terrenos públicos, ou proponha a Transferência do
Direito de Construir (TDC), formalizando o efetivo interesse ambiental.
Há mais de 30 anos os
moradores do entorno da Mata do Planalto a protegem e cuidam, numa atitude
extremamente civilizada. Portanto, as comunidades prometem continuar mobilizadas
na defesa do meio ambiente, não permitindo que a vontade popular seja
atropelada e criminosamente eliminem a Mata do Planalto, cujos valores vão
desde a purificação do ar, a drenagem natural das águas pluviais e a rica
biodiversidade, até a convivência harmoniosa da fauna, da flora e das
nascentes. Tudo de que mais necessita o ser humano, ainda mais quando enfrenta
uma das maiores crises hídricas da história do país.
Wilson Campos
(Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses
Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).
(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de domingo, 01/03/2015, pág. 21).
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