ARMADILHAS VIÁRIAS
Como se não bastassem os problemas da ausência de diálogo, da destruição das
áreas verdes, da falta de integração na mobilidade urbana, do fenômeno
recorrente das enchentes em época de chuva, do abandono dos parques e das praças
municipais, das obras executadas a toque de caixa e da promessa não cumprida da
expansão e modernização do metrô, a população de Belo Horizonte ainda se vê
submetida a iminentes
riscos diários, proporcionados por armadilhas viárias urbanas.
Os riscos à
segurança e à saúde pública estão por toda parte, principalmente nas
proximidades de obras inacabadas, como acontece ao longo da Avenida Pedro I e em
ruas do entorno, onde as armadilhas mais comuns são: falta de tampas nos
bueiros, calçadas esburacadas e sem nenhuma conservação, tubulações e
mangueiras expostas, barrancos sujeitos a deslizamentos, gramas se desprendendo
dos taludes, áreas elevadas sem guarda-corpos, proteções de madeiras
apodrecidas, escadas sem corrimão, sinalização para deficientes incorreta e
desnivelada, pontas de vergalhões ameaçadoras, cavaletes e sinalizadores
fazendo o papel de rotatórias, pallet de madeira servindo de tapa-buracos e
vias repletas de entulho e lixo.
À primeira
vista, os pedestres são os mais prejudicados, especialmente os idosos, as
crianças e as pessoas com deficiência, que precisam se desviar a
todo instante de vários obstáculos perigosos a sua frente. Os riscos de acidentes
são identificáveis e se evidenciam também nas pistas de asfalto ondulado, na
péssima iluminação das vias, nas contenções e arrimos desguarnecidos e por
todos os lugares onde os transeuntes se arrisquem a passar.
Nem sequer
existem nos locais das obras inacabadas placas de alertas para os pedestres. A
segurança da população resta ameaçada pelas muitas gambiarras deixadas para
trás. As irregularidades são tantas que demandariam várias inspeções técnicas
nas redes elétricas e hidráulicas, no solo e no subsolo, nos barrancos e nos
muros de contenção. Tudo sem proteção e sem a menor sinalização, por mínimas
que sejam.
Não fosse
trágico o desabamento do viaduto nessa mesma região, ocorrido no dia 3 de julho
do ano passado, causando a morte de duas pessoas, ferindo outras 23 e deixando
um rastro de prejuízos, dor e desolação, por incompetência do poder público e das empresas contratadas, que cometeram erros
técnicos incompatíveis com as boas práticas da engenharia, o lamentável
episódio continua proporcionando tristes
lembranças, seja pelos restos de obras ou pelas armadilhas viárias espalhadas por todos os lados. Contudo, o local não precisa de novo
viaduto nem de trincheira, no sentir da população. Os moradores precisam de
paz, justiça e indenização, na forma da lei.
Depois não
venham as autoridades públicas dizer em tom profético que "acidentes
infelizmente acontecem", quando, na realidade, o que acontecem são descasos,
negligências, omissões e crimes contra os cidadãos.
Wilson
Campos (Advogado).
(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de sábado, 25/07/2015, pág. 15).
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