ABUSO NACIONAL



Desde sempre a população brasileira tem motivos para se envergonhar de seus políticos. Regra geral são eles considerados homens e mulheres sem ética, corruptos e defensores dos seus próprios interesses. Esquecem-se dos seus eleitores, do país, da democracia, e atropelam os artigos e as garantias da Constituição da República.

Os atos políticos mesquinhos causam vergonha alheia. Sentimos vergonha por onde andamos, aqui e lá fora, porque as pessoas comentam, torcem o nariz, dizem que no Brasil a política é da pior qualidade possível e o povo não reage, contribuindo para situações cada vez mais indignas.

De fato é lamentável que o nosso povo não reaja. De fato é lamentável que o nosso povo fique de cócoras, submisso e calado. De fato é lamentável que o nosso povo fique em silêncio, quando deveria erguer a voz e se fazer perceber, se fazer notar e se fazer obedecer.

Eu tenho elevado apreço pelo povo brasileiro, porque eu sou 100% brasileiro. Eu respeito o Brasil, porque é um país que amo e que vai aprendendo com os próprios erros. Noutro norte, eu tenho particular repulsa pela política brasileira, porque os acontecimentos mostrados na imprensa nacional dão conta de toda a sujeira que emerge do mar de lama do Congresso Nacional.

O sistema bicameral trabalha pouco e, quando trabalha, denota negligência, incompetência e má vontade na defesa dos interesses difusos e coletivos. Os congressistas tergiversam em assuntos sérios e se dedicam com afinco quando o tema é aprovação de aumento salarial de seus pares, votação de projetos em troca de favores pessoais, nomeação de parentes e amigos nas empresas públicas, distribuição de propina por aceitação de lobbies empresariais, dentre outros motivos não menos vergonhosos para a nação brasileira. Ou seja, temos uma maioria esmagadora de políticos de costas para o povo e para o país.

O governo também deixa muito a desejar. A demonização do governo anterior, responsabilizado por todos os males que acometiam o país, não deixou de existir, mas continua no governo de Michel Temer. Ademais, politicamente, Temer mostrou-se tão inábil quanto Dilma. Embora mais polida, sua oratória é tão - ou mais - desastrosa quanto a de sua antecessora. Aliás, rodeou-se de ministros investigados pela operação Lava Jato, o que é lamentável, sob todos os aspectos.

Numa coisa, porém, Temer e sua turma foram mais espertos que os petistas, que, mesmo sabendo que o grosso de seu apoio vinha das massas, optaram por encampar medidas antipopulares. O resultado foi o previsível: os petistas desagradaram sua base e criaram arestas onde não deveriam.

De seu lado, Temer sabe muito bem qual é sua base. Sabe muito bem a quem agradar. Ao limitar os gastos sociais, enfraquecer os sindicatos, aprovar a reforma trabalhista e tudo o que ela implica na perda de direitos por parte do trabalhador, conseguiu fôlego ante as frações comercial e industrial. Também o grupo do agronegócio não foi esquecido. O governo desferiu forte golpe na FUNAI e procura limitar homologações de Terras Indígenas e a criação de áreas de conservação. Ou seja, o abuso nacional avança.

No mais, a impopularidade de Temer se deve a isso. É que para agradar seus apoiadores, ele tem que desagradar as massas, os trabalhadores. É atacando a estes que ele defende os seus. Não há meio termo. Ele sabe que não chegou à presidência para negociar ou se sensibilizar com demandas populares e trabalhistas. O tempo de que ainda dispõe na presidência da República impõe a ele um ritmo ainda mais célere e uma forma ainda mais truculenta, tanto na condução das matérias quanto no trato com os adversários. E não é à toa que está com 90% de rejeição e, ainda assim, quer aprovar de qualquer maneira a reforma da Previdência. Mas, essa reforma não vai ser fácil, porque a propaganda enganosa do governo irritou ainda mais as classes a, b e c do país. Pior do que isso – a classe média brasileira não tolera ser tratada como imbecil, e foi isso que a propaganda do governo a favor da reforma da Previdência tentou e tenta fazer.

Enfim, a minha indignação com esse torpe abuso nacional é tamanha, que chega a doer-me a alma. A minha indignação é tão absurda, que me custa muito ficar calado. Ora, essa farra dos políticos brasileiros tem de ter um paradeiro. Esse abuso nacional precisa ter um fim. Só depende de nós. E a nós cabe reagir, vigorosamente, contra essa e outras vergonhas nacionais.

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Wilson Campos (Advogado/Especialista em Direito Tributário, Trabalhista e Ambiental/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).



Comentários

  1. Concordo com a fala do artigo. O governo quer reformas, quer mudanças, mas não sacrifica o bônus dos deputados e senadores; não diminui o salário de juízes nem de ministros. Tudo contribui para o aumento de despesas e o sacrifício fica somente para o povo. Desse jeito não dá. Enquanto o povo votar nesses políticos filhos de políticos, parentes de outros políticos, a coisa continuará a mesma bagunça, porque filho de peixe peixinho é; esposa de corrupto, corrupta se torna; parente de corrupto, corrupto aprende ser. Temos de acabar com os políticos ladrões e com os seus herdeiros da mesma laia. A limpeza tem de ser geral, nos 3 Poderes e sem perdão. Vamos começar logo, porque a vida é curta e nós não vivemos ainda uma gestão de governo sério, o que é triste por demais. Lidiane G. F. Villela.

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