CRINGE PODE ACABAR SE TRANSFORMANDO EM BULLYING.

 

Sou forçado a reconhecer que, de tempos em tempos, querendo ou não surgem gírias que ganham repercussão e causam certo desconforto ou até mesmo conflito entre gerações. Fato é que, recentemente, uma expressão viralizou na internet e todos se perguntam por aí: o que é “cringe”?

O termo de origem inglesa é uma gíria que pode ser divertida, engraçada, ou que pode configurar algo constrangedor ou que cause vergonha alheia. Ou seja, refere-se a uma situação que pode representar um mico, piada, ironia, e que, lamentavelmente, se constatada de forma abusiva, pode desaguar num tremendo ato deliberado de bullying. Isso, se a brincadeira passar dos limites toleráveis.

As pessoas mais conectadas nas redes sociais têm mais visão do que se trata a mais moderna gíria, que evidencia um conflito curioso entre a geração Y - os chamados millenials (nascidos entre a década de 80 e meados de 90); e a geração Z - nascidos depois de 95.

Confesso que a minha idade me coloca fora do alcance dessas brincadeiras, mas preocupa-me o fato de as críticas bastarem para provocar uma guerra geracional; por um lado, com alguns indivíduos defendendo seus amigos e colegas; e por outro, tecendo críticas ácidas aos gostos e jeitos alheios.

A internet tem enumerado vários hábitos millenials que causam vergonha alheia aos novinhos: tomar café da manhã, tomar café no geral, falar litrão ou boleto, usar calça skinny, não superar o amor por Harry Potter ou filmes da Disney; partir o cabelo de lado, usar sapatilha de bico redondo, entre outros, uma vez que a lista é extensa. Os millenials não passaram recibo e contra-atacaram, e na lista de mico dos novinhos, eles destacaram: dancinhas do TikTok, usar fancam (vídeos com melhores momentos dos ídolos) para fazer postagens nas redes sociais, usar emojis como ironia e cabelo partido no meio.

O certo é que, sem exageros, tudo vai bem, mas quando há o propósito de bullying ou volume alto de vergonha alheia, as coisas saem do controle. O recomendável é manter um bom nível da piada e da ironia, sentindo-se à vontade para criticar comportamentos, roupas, séries, filmes, livros e costumes, mas sem afrontar, desmerecer ou constranger os demais grupos de gerações, sejam mais novos ou mais velhos.

Os saudosistas não são perdoados e até mesmo os mais frequentes das redes sociais são criticados por suas manifestações por emoji ou por gostar de filmes água com açúcar ou com mais tempo de vida útil. Os novinhos zoam os mais adultos e vice-versa. Ora, enquanto as coisas ficarem no campo das ideias inofensivas e das brincadeiras aleatórias, tudo é permitido e tudo vai bem, mas deixando de ser assim, quando ocorrerem abusos e imprecações desproporcionais, a gíria ou o “cringe” perde a graça.

Na minha área de atuação, a advocacia, tenho observado nos últimos dias o uso de “cringe” por parte de alguns profissionais, que consideram mico o uso do juridiquês, do latim, de certa cor de terno, de usar terno e gravata, de logotipo grande e colorido, de ser chamado de doutor, de discutir em voz alta em audiência, de abreviar certas expressões, de imprimir protocolo para arquivar, e de escrever: Pasme, Excelência!

No entanto, como visto no caso da advocacia, nos exemplos acima citados, nem sempre a brincadeira tem sentido, posto que muitos advogados e advogadas têm o direito de escrever, vestir, proceder, falar, discutir, argumentar e peticionar da forma que melhor atenda o momento e caiba no caso concreto, ainda que cometendo alguns pequenos micos no livre exercício da profissão. Ademais, o trabalho na advocacia requer um procedimento adequado e o ritual do ordenamento jurídico não pode ser modernizado ao talante de cada um, sob pena de insucesso na demanda. Portanto, nem tudo pode ser “cringe”. A brincadeira, a gíria e o “cringe” hão de respeitar limites, notadamente quando se tratar de trabalho.

Querem saber se eu sou “cringe”? Não sei ao certo, mas acho que não, uma vez que estou sempre me atualizando, me conectando, estudando, lendo, interagindo, aprendendo e procurando entender o mundo físico e virtual. Mas o “cringe” está aí, causando certo furor entre as gerações. É a vida!

Em suma, desde que não prejudiquem, não causem danos nem provoquem bullying ou vergonha alheia às pessoas na intimidade, no ofício, no labor e no trabalho, tudo bem que, respeitosamente, o “cringe” e as brincadeiras proporcionem o devido entretenimento entre as gerações A, B, C ... X, Y e Z.

Wilson Campos (Advogado/Especialista com atuação nas áreas tributária, cível, trabalhista, empresarial e ambiental/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB-MG/Delegado de Prerrogativas da OAB-MG). 

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Comentários

  1. Eu não sou cringe, apesar dos meus mais de 50. Nós não somos cringe Dr. Wilson Campos pois estamos antenados, atualizados e presentes no dia a dia. Gostei muito do artigo e nem sabia o que era esse tal de cringe. Mas aprendi e não sou cringe. Forte abraço. Milton Salles.

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  2. O cringe pode ser legal mas também acho que tudo tem um limite. O bullying é ódio e isso não tem graça.
    O mundo virtual ainda vai trazer muitas girias umas para divertir e outras para dar vergonha como bem definiu o Dr Wilson Campos advogado atualizado. Parabéns. Yuri T. A. S.

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  3. As gozações e as brincadeiras podem ser chamadas de cringe mas não podem ser de bullying. Tudo dentro da média do bom costume é possível de tolerar mas quando passa disso e os jovens se agridem a coisa vira um circo. X contra Y é tolerável na internet mas se o cringe vai além do bullying é porque o desrespeito tomou lugar do limite. Excelente artigo e moderno Dr Wilson Campos e isso é muito bom. Parabéns. Att: Cris Ferreira.

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  4. Como de costume, antenado às novidades, o Dr. Wilson faz o alerta sobre a nova expressão, que pode eventualmente descambar para abusos. A boa educação e o Direito exigem respeito!

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  5. Tudo tem que ter limite sua opinião foi boa e sincera

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  6. 🤔 um novo termo fadado ao esquecimento e de forma celere.
    Hoje em dia, tudo é bastante volátil e as gírias e expressões soltas, sem um contexto cultural, não são douradouras.
    Quando ouvi esta expressão, lembrei-me do Ronald Golias. "Ôh Cridi, fala com a mãe quê não vou dormir em casa".
    Enfim, vida que segue.

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  7. Interessante a abordagem sobre a evolução dos "modismos da comunicação", que sempre existiu e que têm caracterizado as diferenças das gerações, porém isto pode gerar dúvidas nos relacionamentos em geral, o que não é a melhor forma de entendimento entre as pessoas.
    Há que observar, neste contexto, que a melhor forma de comunicar é aquela em que ambas as partes fiquem bem entendidas sobre o que está sendo posto e de maneira objetiva, para que os relacionamentos alcancem a melhor harmonia e que os fins possam ser cumpridos para ambos os lados. Isto gera um relacionamento estável, evitando conflitos não desejados.
    - As áreas profissionais têm necessariamente uma linha de comunicação respectivamente típica, para que as comunicações não gerem dúvidas técnicas ou prejuízos em geral / problemas posteriores, enquanto que nas comunicações livres o bom entendimento deve ser o objetivo de ambas as partes.
    - Há que se observar ainda, em qualquer nível dos relacionamentos, que o respeito e a consideração pelo próximo precisam ser a postura inicial para se chegar ao bom e completo entendimento.
    - Uma maneira mais inteligente nas comunicações entre níveis culturais diferentes é utilizar um vocabulário mais simples e direto, de domínio de ambas as partes, pois nem todas as pessoas têm a mesma formação e entendimento do vocabulário erudito, específico, chulo ou das gírias.
    Enfim, se quiser se dar bem observe na expressão do outro se o que comunicou ficou bem entendido e satisfeito ou poderá estar criando problemas para si próprio....

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  8. Dr. Wilson, a sua abordagem quanto ao termo cringe (confesso que desconhecia o termo e a sua razão de ser) foi simples e direta. Mais uma vez, parabenizo-o pela excelência do artigo. Após as suas explicações acerca dessa discordância das duas gerações, Y e Z, o senhor citou especificamente na sua área de atuação (área, na qual o senhor é um profissional ímpar) procedimentos, vestuário, e também termos peculiares de advogados, que são considerados pela geração Z da advocacia como inadequados. Lembro-me de um ditado popular que diz o seguinte: “Se todos gostassem do azul, o que seria das outras cores”. A minha opinião é que devemos ser sábios diante dessas avaliações, ou seja, independente da geração, temos que ser virtuosos quanto ao saber. Na sabedoria não pode faltar gratidão, harmonia, equilíbrio, simplicidade, enfim, só é sábio aquele que consegue agregar virtudes ao seu conhecimento. A base encontrada foi feita pelos antigos, cabendo aos modernos agradecer e melhorá-la. E assim, a evolução vai crescendo e se ampliando, nos moldes de uma espiral. Forte abraço.

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  9. Dr Wilson, o seu artigo é muito profundo e merece análise profunda. Com certeza essas discordâncias não contribuirão para a melhoria que aí está. As modernidades chegarão, e serão bem-vindas e necessárias. Desnecessários são os desentendimentos,pois as antipatias decorrentes só irão contribuir para a estagnação das melhorias, das quais a humanidade anda tão carente. Parabéns! Abraço!

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  10. Meu dileto Dr. Wilson, sou seu leitor nos jornais e aqui neste Blog e era quando o senhor escrevia para o jornal de Viçosa/MG. Todos os escritos muito bem redigidos e equilibrados, com excelência de primeiríssima qualidade discursiva. Sou professor universitário e sei bemcomo essas gerações são conflitantes, mas seu artigo dá uma levantada no problema de maneira que os abusos não podem ser permitidos porque não levam a nada de positivo. Brincar, tudo bem, mas abusar dos bulying's é uma péssima ideia e constrange a pessoa. Parabéns mais uma vez pelo artigo. Maravilha! Abraço cordial do Otávio P. José de A.

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  11. Bem colocado, meu nobre amigo. Esse choque entre gerações sempre existirá, não podemos esquecer que deve haver o respeito, pois acho que seria recíproco. Não somos obrigados a achar que estamos fora de moda, essa geração chegou até onde está porque tivemos grande participação, falta este reconhecimento, a minoria não chegará ou conseguirá escavar até a raiz. Ela foi bem semeada.

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  12. Todos sabem que a sociedade da nomes ruins pra coisas boas e nomes bons pra tudo que está nas rédeas quem quer ter o domínio seja mídiatico ou ideológico. No fim das contas "cringe" é o rótulo que os idiotizafos e manipulados dão a simplicidade e verdade que hoje são negadas, a intensidade e expressão que hoje não são bem compreendidas. Me orgulho de pertencer a uma geração que pode ter alma e identidade e não nasceu manipulada e estragada.

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