O BURRO, A CARROÇA E A TERCEIRA LEI DE NEWTON.

 

Os rincões brasileiros foram desbravados e desenvolvidos muito em razão da coragem do homem e graças ao trabalho árduo das “tropas de burros”, que eram consideradas o mais eficiente meio de transporte de carga para longas distâncias. 

Os tropeiros, que eram ao mesmo tempo condutores de tropas e comerciantes, tiveram grande importância econômica no Brasil, principalmente nos séculos XVII e XVIII, época em que transportavam os produtos da terra até os lugarejos mais adiantados, e na volta traziam tecidos, louças, ferragens, armarinhos e outros utensílios. Mas, além dessas atividades pioneiras, eles contribuíram para a abertura de estradas e fundação de vilas e cidades. 

As “tropas de burros” tinham um sistema de organização e não se resumiam a um amontoado de animais. Compunham-se de lotes de oito, dez ou 12 burros, dependendo das posses do tropeiro. E creiam que os burros eram animais resistentes e inteligentes, carregavam mercadorias, abriam porteiras, recusavam-se a transportar mais peso do que podiam suportar e empacavam, convictos de que alguma coisa poderia atrapalhar a passagem de sua carga ou da carroça que puxavam. 

As virtudes dos burros não se resumiam apenas à sua boa utilização para o trabalho. Ao contrário do que sugere seu nome, o burro é um animal inteligente, dócil e de fácil ensinamento. Nos séculos passados, a história era essa, de resistência e resiliência. Já no século XXI, os burros obedecem a ordens absurdas, carregam pesos acima de suas condições físicas e puxam as carroças de seus senhores carregadas de propina, caixa 2, corrupção, improbidade, delação premiada, lavagem de dinheiro e crimes de variadas conotações político-financeiras. 

O burro está cansado de puxar a carroça e comer capim. O burro não aceita mais o chicote e vai empacar, desembestar e jogar a pesada carga no chão. A lição vem do ilustre físico inglês Isaac Newton, que, no século XVII, durante seus estudos, percebeu que a toda ação correspondia uma reação. A “lei da ação e reação” significa que a toda ação corresponde uma reação, de mesmo módulo, mesma direção e de sentidos opostos. 

O povo brasileiro não é o único do mundo que arrasta uma carroça de problemas, mas é o que esquece fácil e perdoa com maior facilidade ainda. Porém, as qualidades do burro de carga estão por sobressair, e a ação dos inimigos da pátria terá a reação dos cidadãos patriotas. 

E os líderes mundiais verão que suas frases também serviram de lição: “Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo...” (Abraham Lincoln). “O Brasil é o país do futuro, mas para tanto é preciso decidir que o futuro é amanhã. E, como bem sabem, isso significa que as decisões difíceis têm que ser tomadas hoje” (Margareth Thatcher).

De sorte que os brasileiros precisam entender, de uma vez por todas, que não podem aceitar uma carga que não conseguem carregar e perceber que já passou da hora de a ação dos maus ter a reação dos bons. 

Wilson Campos (Advogado/Especialista com atuação nas áreas tributária, trabalhista, cível e ambiental/Presidente da Comissão de defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB-MG/Delegado de Prerrogativas da OAB-MG).

(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de quinta-feira, 1º de abril de 2021, pág. 21). 

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