TRÊS EXEMPLOS DE POLÍTICOS



A safra de bons políticos no Brasil está se esgotando e não há esperanças de renovação a curto prazo. Muitos homens e mulheres de valores incontestáveis não querem a carreira política nas suas vidas. Os motivos são mais que conhecidos, uma vez que os brasileiros estão cada vez mais decepcionados com os políticos que aí estão.

O poder corrompeu a política de tal forma que o país se encontra no fundo do poço, literalmente, sem a mínima condição de soerguer, não seja pelas mãos do povo, ou melhor, pelas mãos dos contribuintes, que pagam a gastança e a corrupção intermináveis.

A nação que se esperava democrática, libertária e cumpridora das promessas sociais estagnou as realizações e matou os sonhos, numa demonstração de que a política brasileira não visa o interesse da coletividade, mas os seus próprios interesses, que são aqueles de perpetuação no poder, custem o que custar.

O povo que brandiu bandeiras, exigiu o fim da corrupção e pediu cadeia para os corruptos é o mesmo povo que se encontra decepcionado com a continuidade da bandalheira orquestrada pelos políticos aproveitadores, que se multiplicam e não se envergonham da situação crítica em que se encontra o país: inflação altíssima, 14 milhões de desempregados, custo de vida nas alturas e descontrolado, violência crescente nos pequenos e grandes centros, instituições ameaçadas e um povo inteiro sem reação, diante de tantas aberrações que aniquilam a confiança, de fato, dos diversos setores da sociedade.

Quisera o tempo trazer de volta a política exemplar de Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e Teotônio Vilela, considerados políticos de apreço e de respeito pelo povo e pela nação. Entretanto, a lição deixada por eles não serviu de nada para os fracos de espírito, que não tiveram a mesma serenidade no trato da coisa pública e hoje saqueiam os cofres públicos, depenam as estatais e tiram o feijão da mesa do trabalhador. Uma vergonha!

Os bons políticos se foram. Os maus ficaram. Pior, se multiplicaram, para infelicidade do povo. Com a desesperança crescendo a cada dia e tomando conta das mentes cidadãs, os algozes aproveitam para cometer as mais doentias ações ímprobas. A politicagem errática e servil já não se esconde. Mostra a cara, pede voto e tripudia dos incautos eleitores.

Na librina das noites e madrugadas já não encontramos mais as cabeças patriotas a pensar. As discussões agora excluem os princípios fundamentais e dão preferência às inescrupulosas ações que dilapidam o patrimônio e os cofres públicos nacionais.

Os traidores das garantias constitucionais são traidores do país. Os desrespeitadores dos direitos sociais são exploradores do esforço humano.  Os malversadores do Erário são criminosos comuns, disfarçados de colarinhos brancos.

Onde a lei não alcança ou a Justiça tarda, pratica-se a politicagem do ódio perpetrada pela ganância das facções políticas no poder, com a população pagando um alto preço pela desonestidade dos gestores públicos amorais. Os investimentos faltam, os recursos somem e a nação cambaleia.

O papel do Parlamento não é esse. As prerrogativas do sistema bicameral precisam ser exercidas de modo a construir barreiras aos erros do Executivo e aos desperdícios dos recursos que deveriam ser investidos na formação de uma sociedade mais igual. No entanto, o fisiologismo arraigado na classe política coloca em evidência o toma lá dá cá que governa a relação entre o Poder Executivo e o Congresso.

Não há o que comemorar no cenário político brasileiro. A mediocridade é tamanha que até os acertos, muito raros, passam despercebidos. As mudanças não vão surgir por atos espontâneos do Executivo ou do Legislativo, mas por pressão do povo. As mobilizações é que darão nova aura ao Estado Democrático de Direito. Serão os cidadãos a dar o tom da harmonia. Afora isso, só Deus!

Repito que, com Ulysses, Tancredo e Teotônio, a história seria outra. A politicagem silente, subserviente e submissa não existiria, porque, embora perigosa na arte do segredo, da condescendência e do puxa-saquismo, simplesmente não teria espaço para voar, pois suas asas estariam meticulosamente podadas pelos três verdadeiros políticos. Os corruptos e corruptores, da mesma forma, não sobreviveriam. Contudo, o que vemos hoje é uma política que corrompe e que se deixa corromper, de forma pusilânime e execrável.

Queiram ou não os respeitados pensadores políticos, permissa venia, a grande lição mais recente deixada para a democracia brasileira nasceu dos exemplos de Tancredo, Ulysses e Teotônio.

Hoje, quando determinados segmentos políticos se revelam cooptados pelo neoclientelismo institucional, na outrora efervescente preparação da nova organização do Estado os três representantes da esperança brasileira tratavam com absoluta serenidade o direito e a política, colocando acima de tudo os interesses da sociedade.

O trio quando se reunia deixava transparecer a importância da presença do povo e a necessária vigilância para que a democracia fosse instalada e os dias tumultuados deixados para trás. Prevaleciam nas suas discussões os interesses coletivos, os princípios, os ideais e os exemplos. As suas qualidades humanas, permeadas de direito reto e de política séria, davam-se ao luxo de contarem ainda com o desprendimento, a coragem e a lealdade ao país. 

Tancredo mobilizava milhões de brasileiros e, por isso, convocava a população para o grande debate constitucional e era firme ao asseverar que a Constituição não poderia ser simples ato de algumas elites, mas responsabilidade do povo.

Ulysses era o líder da resistência democrática, o “Senhor Diretas”, o empreendedor da Constituição Cidadã, onde estão asseguradas as garantias individuais e coletivas, de justiça social, de liberdade, de direitos e de deveres.

Teotônio foi o tradutor da esperança, da energia e do estímulo, onde estivesse, sempre dando exemplo de grande afinidade com o povo, quer fosse do norte, do sul, do leste ou do oeste do país, mas próximo das ideias libertárias e do quão imprescindíveis são a liberdade e a dignidade.    

Tancredo, um autêntico aglutinador de forças e possuidor de imenso sentimento democrático não foi eleito pelo povo, através do sufrágio direto e universal, mas foi duplamente aprovado nos plebiscitos da população, quando vivo e depois de morto, posto que sempre defendeu a extinção da miséria, do analfabetismo, da discriminação, da violência e da injustiça. Ele representava a firmeza e a garantia de que a gestão do seu futuro governo estaria alicerçada na promoção do crescimento e subordinada ao bem-estar do povo, através de robustas e corajosas mudanças econômicas, políticas e sociais.

Tancredo não governou o país. Morreu antes. No entanto, a sua mensagem ficou para o direito e a política, na seguinte frase: “Enquanto houver, neste país, um só homem sem trabalho, sem pão, sem teto e sem letras, toda a prosperidade será falsa”.

Vale repetir em alto e bom som: que diante dos fatos não há argumentos e não há o que comemorar no atual cenário político brasileiro; que a mediocridade tomou conta do sistema bicameral, com raríssimas exceções; que as mudanças não vão surgir por obra do Executivo ou do Legislativo, mas por pressão do povo; que as mobilizações contemporâneas, ordeiras e pacíficas é que darão nova cara ao país, espelhadas nas três figuras da democracia, da liberdade e da Constituição Cidadã - Tancredo, Ulysses e Teotônio; que esses três políticos são lembrados porque, na atualidade, nenhum político chega perto da sobriedade deles, seja no trato com o povo ou na gestão da coisa pública.

Afora tudo isso, não se prontificando o povo a dar um basta nessa roubalheira que mergulha o país na maior crise de todos os tempos, o futuro será cada vez mais incerto, assim como será incerta a permanência da democracia.

É chegada a hora de o povo aprender a votar. É chegada a hora de o povo exigir cadeia para os culpados e a devolução do dinheiro desviado. É chegada a hora de o povo tomar para si a responsabilidade de moralizar a nação. É chegada a hora de o povo mostrar vergonha na cara e exigir o fim da impunidade nesse país.

Wilson Campos (Advogado/Especialista em Direito Tributário, Trabalhista e Ambiental).


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