SALVE, CÁRMEN!
Tomou posse na presidência do Supremo Tribunal
Federal (STF) a ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha, mineira de Montes Claros,
jurista e magistrada, que tem por obrigação efetuar a guarda da Constituição
Brasileira.
Cármen Lúcia, ao discursar, quebrou singelamente o
protocolo, cumprimentando primeiro o povo brasileiro, e só depois retomou a
forma regulamentar de cumprimentar o presidente da República, Michel Temer, as
autoridades dos três poderes e as demais pessoas presentes.
A saudação a "Sua Excelência, o Povo" foi
o tom democrático adotado por Cármen Lúcia, que prometeu lutar por uma nação
mais justa e igualitária e que o povo está cansado de fazer parte de uma nação
do futuro que não chega nunca. A nova presidente do Supremo disse, ainda, que
assim como a população, os juízes também não estão felizes com o judiciário e
que para melhorar o sistema não basta reformá-lo, mas sim transformá-lo com a
ajuda da comunidade jurídica. Deixou nas entrelinhas que seu mandato será
de mais ação.
No fim do discurso, o sangue de jurista, juíza,
professora e escritora falou mais alto e a presidente do STF arrematou
lecionando que "Constituição não é utopia, justiça não é sonho, cidadania
não é aspiração. O Judiciário brasileiro sabe dos seus compromissos e de suas
responsabilidades. Em tempo de dores multiplicadas, há que se multiplicarem
também as esperanças, à maneira da lição de Paulo Mendes Campos. Afinal, gente
só não é capaz de fazer e melhorar o que não tenta. Temos sorte de saber que
o Brasil que merecemos pode e há de ser construído. O Judiciário brasileiro não
desertará desse seu encargo. A tarefa é dificultosa, sei-o bem. Mas não
deixaremos em desalento direito e ética que a Constituição impõe que
resguardemos. Porque esse é nosso papel. E porque o Brasil é cada um e todos
nós. O Brasil que queremos seja mesmo pátria mãe gentil para todos os
brasileiros".
A solenidade foi premiada com a fala do ministro
decano Celso de Mello, que saudou a nova presidente da Suprema Corte, e em nome
do tribunal endereçou o seu recado aos atos de corrupção, afirmando: "Que
deste tribunal, senhora ministra presidente, parta a advertência severa e
impessoal de que aqueles que transgredirem tais mandamentos expor-se-ão, sem
prejuízos de outros tipos de responsabilização, não importando sua posição
estamental, se patrícios ou se plebeus, se governantes ou se governados, às
severidades das sanções criminais, devendo ser punidos, exemplarmente, na forma
da lei esses infiéis da causa pública, esses indignos do poder".
Por sua vez, o procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, discursou citando a Operação Lava Jato, alegando que a classe
política tenta prejudicar os responsáveis pelos trabalhos. Argumentou ser
inaceitável a reação do "sistema adoecido" contra a investigação e
que o Brasil precisa mudar e fazer uma depuração na política. Ressaltou, ainda,
em tom firme, que "as forças do atraso, que não desejam mudanças de nenhuma ordem, já nos
bafejam com os mesmos ares insidiosamente asfixiantes do logro e da mentira.
Tem-se observado, diuturnamente, um trabalho desonesto de desconstrução da
imagem de investigadores e juízes".
Enfim,
sopesados os eminentes discursos, "Sua Excelência, o Povo" espera da
nova presidente e dos demais ministros do STF que as suas ações se mostrem efetivas
na defesa intransigente da cidadania, mesmo porque, se alguma coisa está fora
de ordem, compete ao Judiciário contribuir para que se estabeleça a nova ordem,
de forma que o Estado democrático de direito assegure, de fato, aos
brasileiros, o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a
segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores
supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos.
Wilson
Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses
Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).
(Este artigo mereceu publicação do jornal ESTADO DE MINAS, edição de sexta-feira, 23 de setembro de 2016, pág. 7).
(Este artigo mereceu publicação do jornal ESTADO DE MINAS, edição de sexta-feira, 23 de setembro de 2016, pág. 7).
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