TEMPO DE ESCUTAR
A propósito das eleições municipais.
Um grande político precisa saber escutar. E a pedra de toque nas relações com o povo é muito mais que falar ou simplesmente ouvir, é escutar.
Um grande político precisa saber escutar. E a pedra de toque nas relações com o povo é muito mais que falar ou simplesmente ouvir, é escutar.
A campanha
política que impressiona o povo não é a da carreata, do discurso na mídia, da
poluição de panfletos e santinhos atirados pelas ruas, mas aquela que se presta
a escutar o cidadão-contribuinte. O povo quer ser escutado.
A referência
é sobre escutar, e não apenas ouvir, posto que existe uma
diferença muito grande entre esses dois termos tão presentes na vida de todos. Ouvir
é superficial e não representa aprendizado. Não faz diferença alguma, uma vez
que, logo a seguir, pode cair no esquecimento. Escutar, porém, é estar atento e interessado.
Exige esforço intelectual, concentração e atitude interpretativa. Dá trabalho
porque não admite comodismo e remete à análise e resposta do que lhe
falam. Enfim, escutar é a arte de aprender para poder ensinar.
As
coligações partidárias à procura de alguns minutos a mais na televisão, no
horário eleitoral, seriam desnecessárias se o político se mostrasse à
frente de seu tempo, conversando frente à frente, olhando direto nos olhos
e dizendo a que veio, sem medo de errar e sempre disposto a
escutar. Difícil para alguns políticos, mas não para aquele que queira
ser o diferencial, longe das mesmices catastróficas que enredam e
desacreditam.
Enquanto a
política é a arte da administração, da direção e da organização da cidade-Estado, a
cidadania é a prática dos direitos e dos deveres do indivíduo, com pertencimento a
uma comunidade politicamente estruturada e sob a égide do Estado democrático de
direito, tendo ainda como conceito o direito da pessoa que paga impostos e pede
pelo rigor da lei, na expectativa de que a arte da gestão política seja tomada
pelo senso de responsabilidade no trato da coisa pública, começando por escutar
a população em todas as suas demandas localizadas. Portanto, a arte de
escutar não é um privilégio do cidadão comum, mas a razão do político que
queira trabalhar com probidade e ética.
As
comunidades precisam, necessariamente, de diálogo com os poderes constituídos,
de forma que sejam escutadas nas suas questões sociais interconectadas com os
problemas específicos de suas regiões, por meio daqueles que sempre buscam
melhores garantias individuais e coletivas e não se conformam com as
dominações estatais ou de quaisquer outras instituições. A democracia assim o
exige.
De fato,
política é saber escutar, mesmo porque a cidadania ainda está distante para
muitos brasileiros, haja vista que os direitos políticos, sociais e civis, assegurados
na Constituição, não conseguem ocultar a desesperança das pessoas que enfrentam
os dramas da fome e da miséria, que se encontram em situação de desemprego, que
são analfabetas ou semianalfabetas, que são excluídas ou que são vítimas da
violência e da impunidade. Assim, o melhor caminho é escutar a população.
Wilson
Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses
Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).
(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de terça-feira, 13 de setembro de 2016, pág. 23).
(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de terça-feira, 13 de setembro de 2016, pág. 23).
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